2017, Vol. 3(1): 2-13
Desenvolvimento do Questionário de Motivações
para Revelar/Não Revelar a Parentalidade Não-Genética por Doação de Gâmetas
Artigo Original
Cristiana Marques ⓘ ✉, Ana Galhardo
ⓘ, Marina Cunha ⓘ, Margarida Couto ⓘ
https://doi.org/10.7342/ismt.rpics.2017.3.1.35
Recebido 24 setembro 2016
Aceite 17 fevereiro 2017
Introdução: A parentalidade constitui um objetivo muito valorizado
socialmente, no entanto, para casais com infertilidade este pode implicar a
realização de tratamentos de médicos, alguns deles com recurso a gâmetas de
dador. Para estes últimos, surge uma preocupação adicional: revelar à criança a
origem da sua conceção ou manter segredo. Ainda que as motivações que
influenciam este processo de decisão tenham sido alvo de estudo, em Portugal a
investigação é escassa.
Objetivos: A presente investigação pretendeu desenvolver o Questionário
de Motivações para Revelar/Não Revelar a Parentalidade não Genética por Doação
de Gâmetas (QMRDG), o qual se destina a avaliar as principais motivações que
influenciam o processo de tomada de decisão dos pais que recorrem a gâmetas de
dador relativamente a contar ou não contar ao/à seu/sua filho/a a origem da sua
conceção.
Metodologia: Estudo exploratório conduzido numa amostra de 21
participantes, com idades entre os 30 e os 49 anos, que realizaram tratamento
de infertilidade com recurso a gâmetas de dador e se tornaram pais. Os
participantes preencheram um conjunto de questionários numa plataforma online.
Resultados: O QMRDG revelou possuir itens claros e de fácil compreensão.
Os dados obtidos indicam que a maioria dos pais ainda não contou à criança a
sua origem genética devido à reduzida idade da mesma, encontrando-se estes com
intenção de revelar. Para os pais que já contaram, das motivações que mais
influenciaram esta decisão salienta-se a importância dada à honestidade e ao
direito do conhecimento das origens genéticas. Relativamente às motivações para
não contar ressalta-se a pouca importância dada à genética.
Conclusão: O QMRDG parece constituir um instrumento promissor na prática
clínica e na investigação com pessoas que estejam a realizar tratamentos de
infertilidade com recurso a gâmetas de dador. Nesta investigação, a tendência
indicada pelos pais foi a de contar à criança a origem da sua conceção.
Palavras chave:
Gâmetas de dador · Motivações para revelar · Parentalidade · Segredo · Estudo
exploratório
A infertilidade é medicamente definida como
uma doença do sistema reprodutivo caracterizada pela incapacidade de uma
gravidez clínica após 12 meses ou mais de relações sexuais regulares desprotegidas
(Zegers-Hochschild et al.,
2009).
Ainda que a definição médica seja uma das mais utilizadas, a infertilidade pode
igualmente ser entendida como um processo socialmente construído pelo qual os
indivíduos percecionam a sua incapacidade de ter filhos como um problema (Greil,
McQuillan, & Slauson-Blevins, 2011). Neste contexto, a
infertilidade pode ser compreendida como um constructo social, atendendo à
importância do papel social da maternidade/paternidade, sendo que quando os
casais não têm como objetivo de vida assumir esse papel, não se consideraram
como inférteis (Greil
et al., 2011).
Por outro lado, a infertilidade não afeta apenas um indivíduo, mas sim o casal,
independentemente de a sua etiologia poder afetar apenas um ou ambos os
elementos da díade conjugal. Greil, Slauson-Blevins e McQuillan (2010)
referem ainda outros dois aspetos relevantes que a diferenciam de outras
condições clínicas: o facto da infertilidade não se diagnosticar pela presença de
sintomas patológicos, mas pela ausência de um estado desejado e a existência de
diversas opções para além da cura, nomeadamente a troca de parceiro, a escolha
de permanecer sem filhos ou a adoção (Greil
et al., 2011).
No que diz respeito à sua prevalência, a
infertilidade é uma condição que afeta 48,5 milhões de casais no mundo (Mascarenhas,
Flaxman, Boerma, Vanderpoel, & Stevens, 2012). Um estudo recente sobre a
prevalência da infertilidade revela que esta apresenta valores de 12,5% nas
mulheres e 10,1% nos homens (Datta et al., 2016). Especificamente em Portugal
estima-se que existam entre 266 088 e 292.996 casais com infertilidade ao longo
da vida (Carvalho
& Santos, 2009).
Face a um diagnóstico de infertilidade, as
técnicas de procriação medicamente assistida oferecem esperança aos casais com
infertilidade (Cousineau
& Domar, 2007), podendo estas incluir diversos tipos de
tratamento. Entre estes são de referir a inseminação intrauterina (IIU), a
fecundação in vitro (FIV) e
transferência de embriões (FIVETE), a microinjeção intracitoplasmática de
espermatozoides (ICSI), a transferência intratubular de gâmetas (GIFT), as
técnicas cirúrgicas de obtenção de espermatozoides, as técnicas de
criopreservação de gâmetas e embriões e as técnicas de procriação com recurso a
dadores de gâmetas (Santos & Moura-Ramos, 2010). Estas últimas são utilizadas
em algumas situações de infertilidade (masculina ou feminina) nas quais não é
possível obter uma gravidez através do recurso a qualquer outra técnica que
utilize os gâmetas do próprio casal (Decreto de Lei no 32/2006 de 26 de Julho do
Ministério da Saúde, 2006; (Santos & Moura-Ramos, 2010).
A procura de tratamentos de infertilidade
tem também vindo a crescer nos últimos anos (Deka & Sarma, 2010;
Lykeridou,
Gourounti, Deltsidou, Loutradise, & Vaslamatzis, 2009), resultando esta procura de
fatores como o adiamento da gravidez, o desenvolvimento de técnicas mais
recentes e mais bem-sucedidas para o tratamento da infertilidade ou o aumento
da consciencialização dos serviços disponíveis (Deka & Sarma, 2010).
Em Portugal, no ano de 2013, foram
registados 9948 ciclos de procriação medicamente assistida, dos quais nasceram
2091 crianças (Conselho
Nacional de Procriação Medicamente Assistida, 2015). De entre estes ciclos de
tratamento, foram realizados 127 com recurso a esperma de dador a fresco, 329
com ovócitos doados a fresco e 41 com ovócitos criopreservados (Conselho
Nacional de Procriação Medicamente Assistida, 2015)).
A incapacidade de conceber uma criança para
os indivíduos ou casais que esperam começar uma família é descrita como uma
experiência indutora de stresse, psicologicamente ameaçadora e tida como um
momento de crise, uma experiência muitas vezes desoladora e dececionante (Campus, 2011; Cousineau
& Domar, 2007; Domar et al., 2012; Ramazanzadeh, Nourbala,
Abedinia, & Naghizadeh, 2009; Yazdani, Kazemi, &
Ureizi-samani, 2016). Tal não é de estranhar uma vez que a
infertilidade não ocorre no vazio, sendo que socialmente existe um grande valor
atribuído à fertilidade e ao papel parental (Cousineau
& Domar, 2007; Greil et al., 2011; van den Akker, 2001).
Para além da dificuldade em lidar com a
infertilidade e com os respetivos tratamentos médicos, quando estes envolvem
gâmetas de dador existe uma preocupação adicional: contar à criança as suas
origens (Daniels,
Grace, & Gillett, 2011). Face a esta preocupação dos
pais, estudos realizados no Reino Unido indicaram que, tendencialmente, a
maioria não revelava às crianças as suas origens (Freeman
& Golombok, 2012; Lycett, Daniels, Curson, & Golombok, 2005), no entanto, nas últimas
décadas tem havido uma mudança em relação a este assunto, emergindo uma forte
tendência a favor da decisão de revelar a forma de conceção (Ethics
Committee of the American Society for Reproductive Medicine, 2004). O Ethics Committee of the American Society for Reproductive Medicine (2013)
considera que a divulgação à criança sobre a origem da sua conceção e, se
possível, das características dos dadores (nos países em que tal é permitido),
pode servir o melhor interesse da criança. Este é um posicionamento também
corroborado por resultados de vários estudos que mostram existir, mais
recentemente, uma maior divulgação às crianças sobre o modo como estas foram
concebidas (Golombok,
Blake, Casey, Roman, & Jadva, 2013; Söderström-Anttila,
Sälevaara, & Suikkari, 2010).
Com efeito, esta diferença de paradigma é
encontrada quando comparados estudos publicados até 2010 e estudos mais
recentes. A título de exemplo, o estudo de Murray e Golombok
(2003), efetuado com 17 famílias que
recorreram à doação de ovócitos, mostrou que a maioria dos pais tinha decidido
não contar às crianças, tal como foi apontado por um outro estudo, em 2005, com
famílias que recorreram a IIU com doação de esperma (Lycett
et al., 2005).
Contrariamente, estudos mais recentes demonstram uma forte tendência dos pais
para divulgar aos seus filhos a sua forma de conceção (Isaksson,
Sydsjö, Skoog Svanberg, & Lampic, 2012; Söderström-Anttila et al.,
2010).
A decisão de contar ou não contar às
crianças não é uma decisão fácil (Blake, Jadva, &
Golombok, 2014),
sendo esta uma decisão autónoma, voluntária, e que depende dos pais, mesmo nos
países em que a doação não é anónima (Baccino,
Salvadores, & Hernández, 2013; Ethics Committee of the
American Society for Reproductive Medicine, 2004; Ethics
Committee of the American Society for Reproductive Medicine, 2013). Nas décadas de 80/90 do séc.
XX, a literatura focava-se principalmente nesta questão, sendo efetuados desde
então vários levantamentos do modo como os pais diziam às crianças e (em menor
grau) dos fatores que influenciavam a sua decisão (Daniels
et al., 2011).
Apesar deste menor grau de conhecimento relativo às motivações ou fatores
capazes de influenciar o processo de tomada de decisão, atualmente já é
possível identificar motivações transversais a diversos estudos.
Entre as motivações que influenciam a
decisão de contar à criança, a literatura aponta o direito da criança saber as
suas origens como um dos argumentos mais utilizados a favor da revelação (Baccino
et al., 2013; Benward, 2015; Blyth, Langridge, &
Harris, 2010; Greenfeld, & Klock, 2004; Hargreaves
& Daniels, 2007; Hershberger, Klock, & Barnes, 2007; Indekeu
et al., 2013; Isaksson, Skoog-Svanberg, Sydsjö, Linell, &
Lampic, 2016; Lalos, Gottlieb, & Lalos, 2007; Lindblad,
Gottlieb, & Lalos, 2000; Lycett et al., 2005;
Readings,
Blake, Casey, Jadva, & Golombok, 2011; Sälevaara, Suikkari, &
Söderström-Anttila, 2013; Söderström-Anttila et al.,
2010),
sendo que este direito pode ser importante para a identidade da criança e para
as suas escolhas na vida adulta (Ethics
Committee of the American Society for Reproductive Medicine, 2013)).
Por outro lado, a abertura e honestidade no
seio familiar (Baccino
et al., 2013; Blyth et al., 2010; Ethics Committee of the
American Society for Reproductive Medicine, 2004; Hahn & Craft-Rosenberg,
2002; Hunter, Salter-Ling, & Glover, 2000; Indekeu
et al., 2013; Laruelle, Place, Demeestere, Englert, & Delbaere,
2011; Lindblad et al., 2000; Lycett et al., 2005;
Readings
et al., 2011; Sälevaara et al., 2013; Söderström-Anttila
et al., 2010)
e o desejo de evitar que o/a filho/a soubesse por outros que tivessem
conhecimento acerca do recurso a gâmetas de dador são também indicadas como
razões para contar à criança (Baccino
et al., 2013; Benward, 2015; Blyth et al., 2010; Hershberger
et al., 2007; Hunter et al., 2000; Lalos et al., 2007;
Laruelle
et al., 2011; Lindblad et al., 2000; Lycett et al., 2005;
Murray
& Golombok, 2003; Readings et al., 2011; Söderström-Anttila et al.,
2010).
De mencionar ainda que os pais referem que a divulgação ajuda a evitar segredos
na família, uma vez que estes podem prejudicar relacionamentos familiares, bem
como conduzir à existência de tensões ao logo da vida (Hahn & Craft-Rosenberg,
2002; Lindblad et al., 2000). Apesar do medo ainda
referido por alguns casais de que a divulgação sobre a conceção com recurso a
gâmetas de dador possa ameaçar o bem-estar e as relações familiares da criança,
o segredo pode ter um efeito prejudicial semelhante (Freeman
& Golombok, 2012).
Face à decisão de não contar à criança, as
motivações são variadas, no entanto, algumas das referenciadas de um modo mais
sistemático incluem a maior importância dada à maternidade/paternidade do que à
genética (Greenfeld &
Klock, 2004;
Lalos
et al., 2007; Lindblad et al., 2000; Lycett et al., 2005;
Murray
& Golombok, 2003; Readings et al., 2011; Sälevaara et al., 2013;
Söderström-Anttila
et al., 2010)
e o receio que o/a filho/a não considere o progenitor não genético como seu/sua
pai/mãe e o/a rejeite (Ethics
Committee of the American Society for Reproductive Medicine, 2004; Lycett
et al., 2005; Murray & Golombok, 2003). São ainda identificadas como
motivações importantes, o desejo de não prejudicar a relação que a criança tem
com os pais (Greenfeld &
Klock, 2004; Laruelle et al., 2011; Lycett et al., 2005;
Sälevaara
et al., 2013)
e a crença de que contar possa vir a ser prejudicial para a criança (Lalos et al., 2007;
Lycett
et al., 2005; Murray & Golombok, 2003; Readings
et al., 2011; Söderström-Anttila et al., 2010). No que respeita a esta
última motivação, é referido que a criança poderia ficar confusa com a
informação relativa ao processo de doação, existindo o desejo de proteger a
criança desta possibilidade (Lalos et al., 2007;
Lycett
et al., 2005; Murray & Golombok, 2003; Readings
et al., 2011; Söderström-Anttila et al., 2010). Apesar destes últimos
argumentos serem referidos por vários estudos, a investigação relativa à
influência da divulgação/segredo no desenvolvimento psicológico das crianças e
nas relações familiares demonstra a ausência de impacto negativo da divulgação
no bem-estar psicológico das crianças e na qualidade das relações familiares (Freeman
& Golombok, 2012; Lycett, Daniels, Curson, & Golombok, 2004;
Nachtigall, Becker, Quiroga, & Tschann, 1998; Nachtigall,
Pitcher, Tschann, Becker, & Quiroga, 1997).
Em Portugal a investigação relativa às
motivações que levam os casais que recorrem a gâmetas de dador a contar ou não
aos seus filhos a sua origem genética é, do nosso conhecimento, inexistente.
Deste modo, o presente trabalho teve como objetivo principal o desenvolvimento
do Questionário de Motivações para Revelar/Não Revelar a Parentalidade não
Genética por Doação de Gâmetas (QMRDG).
Este instrumento destina-se a identificar e
sistematizar as motivações que poderão influenciar o processo de tomada de
decisão destes casais no que respeita a contarem ou não ao/à seu/sua filho/a o
facto de ter sido concebido/a com gâmeta(s) de dador. O QMRDG pretende ser um
instrumento futuramente utilizado na prática clínica durante os processos de
tratamento de infertilidade que envolvam o recurso a gâmetas de dador.
Amostra
A amostra deste estudo exploratório é constituída por 21 indivíduos que
recorreram a tratamentos de infertilidade com esperma ou ovócitos de dador/a,
sendo 20 participantes do sexo feminino e um do sexo masculino. A Tabela 1
apresenta as características demográficas dos participantes. As idades destes
variaram entre os 30 e os 49 anos, com uma M
= 40,14 e um DP = 4,83. Relativamente
aos anos de escolaridade o número mínimo de anos de escolaridade foi de 9 anos
e o máximo de 23 anos, com M = 15,76
e DP = 3,83. Face aos anos de
casamento/união de facto a média foi de 10,38 associada a um desvio-padrão de
6,07. Relativamente às crianças, 12 eram do sexo feminino (57,1%) e nove eram
do sexo masculino (42,9%), sendo que a idade mínima foi de 0 anos e a idade
máxima de 14 anos, com M = 3,33 e DP = 3,59.
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Características Demográficas dos Participantes |
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M |
DP |
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Idade |
40,14 |
4,83 |
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|
Anos de escolaridade |
15,76 |
3,83 |
|
|
Anos de casamento/União de facto |
10,38 |
6,07 |
|
|
Idade do(a) seu(sua) filho(a) |
3,33 |
3,59 |
|
|
Nota. M
= Média; DP = Desvio-padrão. |
|
No que respeita às variáveis
clínicas, estas são apresentadas na Tabela 2. O tipo de infertilidade mais
comum foi a de fator masculino com nove indivíduos a identificarem este tipo de
infertilidade presente no casal, seguindo-se a infertilidade feminina, com
quatro indivíduos, a infertilidade masculina e feminina, com três indivíduos e,
por fim, a infertilidade de fator desconhecido, com 5 indivíduos. O tipo de
tratamento com gâmetas de dador mais utilizado foi a injeção
intracitoplasmática (ICSI) n = 9,
seguido da fertilização in vitro
(FIV) n = 8, e da inseminação
intrauterina (IIU) n = 4.
|
TABELA 2 Características Clínicas dos Participantes |
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n |
% |
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Tipo de infertilidade Fator masculino Fator feminino Fator masculino e feminino Fator desconhecido |
9 4 3 5 |
42,9 19,0 14,3 28,8 |
|
|
Tipo de tratamento com gâmetas
de dador FIV ICSI IIU |
8 9 4 |
38,1 2,9 19,0 |
|
|
Tipo de gâmeta de dador usado Espermatozoides Ovócitos Espermatozoides e ovócitos |
13 7 1 |
61,9 33,3 4,8 |
|
|
Nota. FIV = Fertilização in vitro; ICSI =
Injeção intracitoplasmática; IIU = Inseminação intrauterina |
|
Face ao tipo de gâmeta, 13
(61,9%) indivíduos recorreram a espermatozoides de dador, sete (33,3%)
indivíduos recorreram a ovócitos de dadora e um (4,8%) à doação de ambos os gâmetas.
Instrumentos
Questionário sociodemográfico e clínico. Este questionário incluiu variáveis demográficas como
a idade, o sexo, os anos de escolaridade, os anos de casamento/união de facto e
questões relativas à criança, como a idade e o sexo. Integrou também questões
relativas a variáveis clínicas como o tipo de infertilidade presente no casal,
o tipo de tratamento efetuado e o tipo de gâmeta utilizado. Abrangeu ainda
questões relativas ao processo de tomada de decisão relativamente a contar ou
não contar à criança. Para os pais que já contaram, as questões colocadas foram
quatro, sendo relativas à existência de acordo entre o casal, à reflexão em
conjunto sobre este assunto, ao grau de dificuldade da tomada de decisão e à
forma como foi divulgado à criança, se este foi um processo gradual. Para os
pais que decidiram não contar, as questões foram idênticas às anteriormente
referidas, excluindo-se apenas a última questão. Para os pais que ainda não
tinham contado foi apenas colocada a questão relativa à razão pela qual ainda
não tinham divulgado, mais concretamente era solicitado que indicassem qual a
opção que se lhes aplicava — se tal se devia ao facto de a criança ser ainda
muito pequena ou a não terem ainda tomado uma decisão.
Questionário de Motivações para Revelar/Não Revelar a
Parentalidade Não-Genética por Doação de Gâmetas (QMRDG). Este instrumento
foi desenvolvido com o intuito de avaliar as motivações que poderão influenciar
o processo de tomada de decisão de contar às crianças o modo como estas foram
concebidas por parte dos pais que recorreram a gâmetas de dador. O QMRDG
encontra-se dividido em três diferentes componentes: uma primeira componente
dirigida aos pais que já contaram às crianças (composta por 9 itens), uma
segunda componente dirigida aos pais que decidiram não contar (composta por 11
itens) e uma terceira componente dirigida aos pais que ainda não contaram ou
aos casais que se encontrem a realizar o tratamento médico e que num contexto
de acompanhamento psicológico possam abordar esta questão (constituída por 20
itens, que correspondem ao agrupamento dos itens das duas primeiras
componentes). Cada item é respondido numa escala de 5 pontos a variar de 1=
Discordo totalmente a 5 = Concordo totalmente.
Procedimentos
Tendo por base
uma revisão da literatura publicada entre 2000 e 2016, em que as motivações que
influenciaram o processo de tomada de decisão dos pais que recorreram a
tratamentos de infertilidade com gâmetas de dador fossem abordadas (Baccino et al., 2013; Blyth et al., 2010;
Ethics Committee of the American Society for Reproductive Medicine, 2004; Fertility Counseling, 2015;
Greenfeld
& Klock, 2004; Hahn & Craft-Rosenberg, 2002; Hargreaves
& Daniels, 2007; Hershberger et al., 2007; Hunter et al., 2000; Indekeu et al., 2013; Isaksson et al., 2016;
Lalos et al., 2007; Laruelle et al., 2011; Lindblad et al., 2000; Lycett
et al., 2005;
Murray & Golombok, 2003; Readings et al., 2011; Sälevaara et al., 2013; Söderström-Anttila
et al., 2010), procedeu-se ao desenvolvimento
de um questionário com as motivações para contar e para não contar, referidas
de um modo mais sistemático nos estudos consultados.
Com base nos
resultados dos estudos qualitativos, foram elaborados 34 itens iniciais, tendo
sido eliminados alguns destes por demonstrarem ambiguidade, e agregados outros,
por apresentarem conteúdo semelhante. Para efeitos de avaliação da
compreensibilidade dos itens do QMRDG este foi analisado por três
investigadores com formação em psicologia e experiência na área do desenvolvimento
de instrumentos de autorresposta, sendo que dois deles acumulam também
experiência clínica e de investigação na área da infertilidade. Estes peritos
sugeriram ligeiras alterações no modo como se encontravam redigidos alguns dos
itens. Para além disso, a compreensibilidade dos itens foi também testada na
amostra de 21 participantes que preenchiam os critérios de inclusão no estudo.
Assim, resultaram numa fase final, 11 itens correspondentes a aspetos
considerados para a decisão de revelar a origem não genética e 9 itens
referentes a aspetos associados à decisão de não revelar. Uma terceira
componente deste questionário engloba a totalidade dos itens e dirige-se a
pessoas que não tenham ainda tomado uma decisão, independentemente de já terem
sido pais por esta via ou de o poderem vir a ser. Os diferentes itens são
respondidos numa escala de 5 pontos, indo de 1 (Discordo totalmente) a 5
(Concordo totalmente), sendo solicitada a indicação do grau de concordância
relativamente a tratar-se de uma razão importante para a decisão.
Assim, consoante
à tomada de decisão do casal, o participante respondeu a uma componente
específica do questionário: no caso dos casais que contaram, estes responderam
à componente referente às razões apontadas pela literatura que levam a que o
casal conte, no caso dos casais que não tinham contado por não quererem que
o(a) filho(a) soubesse responderam à componente referente às razões apontadas
para que o casal tome esta decisão e, por último, no caso dos casais que ainda
não tinham contado devido à idade da criança ou por se encontrarem indecisos,
responderam à componente do questionário que incluía razões para revelar e
razões para não revelar.
Para efeitos de
recrutamento dos participantes, foi contactada a Associação Portuguesa de
Fertilidade (APFertilidade) com o intuito de solicitar a esta associação a
colaboração na divulgação do estudo. A APFertilidade respondeu favoravelmente e
procedeu à divulgação do estudo através do fórum constante da sua página web, rede social Facebook e newsletter
enviada aos associados. Nesta sequência, os participantes tiveram conhecimento
do estudo através da divulgação realizada pela APFertilidade. Nesta divulgação
eram apresentados o âmbito e objetivos do estudo, assegurado o anonimato e
confidencialidade dos dados e indicado o caráter voluntário da participação,
sendo explicitado que poderiam desistir em qualquer momento. Era igualmente
disponibilizado um link de acesso a
uma plataforma online, na qual era
solicitado o consentimento informado, condição obrigatória para prosseguir com
o preenchimento dos instrumentos de autorresposta.
O presente
estudo teve como critério de inclusão idade superior a 18 anos e a realização
prévia de tratamentos de infertilidade com recurso a doação de gâmetas dos
quais tivesse nascido uma criança.
Análise estatística
A análise
estatística dos dados foi realizada por recurso ao software SPSS Statistics (v.23; IBM SPSS Statistics). Para efeitos de descrição da amostra recorreu-se ao
cálculo de médias e desvios-padrão para as variáveis contínuas e de frequências
e respetivas percentagens para as variáveis categoriais. No que respeita às
variáveis que compuseram o QMRDG, foram também calculadas as frequências e
respetivas percentagens. Com o objetivo de avaliar a confiabilidade do
instrumento recorreu-se ainda à análise da consistência interna através do alfa
de Cronbach.
Estudo
da compreensibilidade dos itens e da confiabilidade
A estrutura do QMRDG, quer em termos de
construção quer em termos de formato, procurou elencar itens que traduzissem os
principais motivos subjacentes à decisão de revelar/não revelar a parentalidade
não-genética reportados na literatura (este procedimento encontra-se descrito
no ponto relativo aos procedimentos do presente trabalho). Decorrente deste
processo de desenvolvimento dos itens, considerou-se que estes se apresentavam
em concordância com os objetivos do instrumento.
Nenhum dos participantes reportou a existência
de ambiguidade nos itens, falta de clareza ou dificuldade em responder. No
mesmo sentido, não se verificaram indicações de que as instruções para o
preenchimento suscitassem dúvidas.
Ainda no que se refere à compreensibilidade dos
itens foram tidos em consideração a adequação do português usado na formulação
dos itens, bem como elementos relativos à apresentação gráfica destes na
plataforma da recolha de dados (e.g., espaçamento entre as linhas, formato de
resposta de fácil compreensão e atratividade da plataforma).
O QMRDG demonstrou uma consistência interna de 0,87
para a parte dirigida aos pais que contaram às crianças e 0,86 para a parte
dirigida aos pais que decidiram não contar.
Estudo
exploratório das motivações subjacentes ao processo de tomada de decisão
Face à decisão dos pais de contar ou não contar
às crianças a origem da sua conceção, quatro pais referiram que contaram, cinco
referiram a decisão de não contar à criança e 12 referiram ainda não ter
contado à criança, de entre os quais sete (58%) pelo facto de a criança ser
muito pequena e cinco (42%) por não terem ainda decidido se vão ou não contar (Tabela 3).
Relativamente à decisão de contar à criança, a idade da criança quando a
divulgação ocorreu variou entre os 3 e os 5 anos, com M = 3,75 e DP = 0,96.
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Conhecimento da Criança da Origem da sua Conceção |
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||
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|||
|
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n |
% |
|
|
A criança sabe da origem da sua conceção Sim Não,
decidimos não contar Não,
ainda não lhe contamos |
4 5 12 |
19,0 23,8 57,1 |
|
|
|
|
As frequências relativas ao processo de tomada de
decisão encontram-se na Tabela 4. Tendo em conta a escala de resposta e
considerando as respostas “Concordo” e “Concordo totalmente” como sendo as
respostas que indicam uma maior identificação dos participantes com a
motivação, relativamente ao acordo entre o casal no processo de tomada de
decisão, dos pais que já contaram 50% dos participantes refere ter havido concordância
entre o casal na decisão, contra 60% dos pais que decidiram não contar.
Relativamente a este ter sido um assunto sobre o qual
o casal refletiu em conjunto, 50% dos pais que já contaram referem a existência
de reflexão em conjunto, contra 60% dos pais que decidiram não contar.
Face à tomada de decisão como correspondendo a um
processo difícil, 25% dos pais que decidiram contar indicam-na como tal, contra
80% dos pais que decidiram não contar.
Relativamente ao modo como os pais contaram às
crianças, 100% indicam “concordo plenamente” com a afirmação “Contar ao vosso
filho foi um processo gradual, ou seja, foram reveladas diferentes partes em
diferentes momentos”.
|
Frequências do Processo de Tomada de Decisão |
|
||||||||||
|
|
Discordo totalmente |
Discordo |
Nem concordo nem discordo |
Concordo |
Concordo plenamente |
|
|||||
|
n |
% |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
|
|
|
Sim (n = 4) |
|
||||||||||
|
1 |
2 |
50 |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
2 |
50 |
|
|
2 |
2 |
50 |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
2 |
50 |
|
|
3 |
1 |
25 |
2 |
50 |
— |
— |
1 |
25 |
— |
— |
|
|
4 |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
4 |
100 |
|
|
Não, decidimos não lhe contar (n
= 5) |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
||
|
1 |
2 |
40 |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
3 |
60 |
|
|
2 |
1 |
20 |
— |
— |
1 |
20 |
1 |
20 |
2 |
40 |
|
|
3 |
1 |
20 |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
4 |
80 |
|
|
Nota. Houve acordo entre o
casal; 2. Tratou-se de um assunto sobre o qual o casal refletiu em conjunto;
3. Tratou-se de uma decisão difícil; 4. Contar ao vosso filho foi um processo
gradual, ou seja, foram reveladas diferentes partes em diferentes momentos. |
|
A Tabela 5 apresenta as frequências e respetivas percentagens
das motivações dos pais para contarem às crianças a origem da sua conceção com
recurso a gâmetas de dador (n = 4). A
partir da soma das frequências pelos itens “Concordo Totalmente” e “Concordo”,
os motivos que mais influenciaram a tomada de decisão dos pais foram os motivos
1. Não tínhamos razões para omitir,
sempre foi claro contar ao(a) nosso(a) filho(a) como ele(a) tinha sido
concebido(a), (n = 4), 3. Consideramos que devemos ser tão honestos
quanto possível, valorizamos a abertura e a honestidade no seio familiar, ao
não contar estaríamos a ser desonestos com o(a) nosso(a) filho(a) (n = 4), 4. Todos temos o direito de conhecer as nossas origens, esta informação
faz parte da história do(a) nosso(a) filho(a), (n = 4) e 7. Consideramos que
a transparência ajuda a que o(a) nosso(a) filho(a) se sinta seguro(a) e
confiantes no seio familiar (n =
4). De entre as motivações anteriormente mencionadas, denota-se a motivação 3
com uma menor variabilidade, sendo que todos os participantes referem
“concordar totalmente” com esta afirmação.
|
Frequências das Motivações para Contar à Criança (n = 4) |
|
||||||||||
|
|
Discordo totalmente |
Discordo |
Nem concordo nem discordo |
Concordo |
Concordo plenamente |
|
|||||
|
QMRDG |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
|
|
Item 1 |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
2 |
50 |
2 |
50 |
|
|
Item 2 |
1 |
25 |
1 |
25 |
1 |
25 |
1 |
25 |
1 |
25 |
|
|
Item 3 |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
4 |
100 |
|
|
Item 4 |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
1 |
25 |
3 |
75 |
|
|
Item 5 |
1 |
25 |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
3 |
75 |
|
|
Item 6 |
— |
— |
— |
— |
1 |
25 |
1 |
25 |
2 |
50 |
|
|
Item 7 |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
1 |
25 |
3 |
75 |
|
|
Item 8 |
— |
— |
1 |
25 |
2 |
50 |
— |
— |
1 |
25 |
|
|
Item 9 |
2 |
50 |
1 |
25 |
1 |
25 |
— |
— |
— |
— |
|
|
Item 10 |
— |
— |
1 |
25 |
1 |
25 |
— |
— |
2 |
50 |
|
|
Item 11 |
— |
— |
1 |
25 |
1 |
25 |
1 |
25 |
1 |
25 |
|
|
|
|
Na Tabela 6, encontram-se apresentadas as frequências
e respetivas percentagens das motivações que estiveram na base da tomada de
decisão dos pais (N = 5) para não
contarem às crianças a origem da sua conceção com gâmeta de dador. A motivação
que mais influenciou o processo de tomada de decisão foi a motivação 2. Esta informação diz respeito a algo
puramente genético (n = 4),
apresentando esta uma menor variabilidade nas respostas. Para além desta
motivação, as motivações 5. Contar
poderia ser prejudicial para o(a) nosso(a) filho(a), ele(a) não iria
compreender o processo de doação e poderia ficar confuso(a) (n = 4), 6. Não queremos que o(a) nosso(a) filho(a) sinta que eu/meu companheiro(a)
não sou/é pai/mãe dele(a) e me/o rejeite (n = 4) e 7. Não queremos
prejudicar a relação que o nosso filho tem connosco. Temos medo que contar
possa ter um impacto negativo nessa relação, (n = 4) foram também motivações que apresentaram frequências
superiores nas possibilidades de resposta “Concordo” e “Concordo Totalmente”.
|
Frequências das Motivações para Não Contar à Criança (n = 5) |
|
||||||||||
|
|
Discordo totalmente |
Discordo |
Nem concordo nem discordo |
Concordo |
Concordo plenamente |
|
|||||
|
QMRDG |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
|
|
Item 1 |
— |
— |
— |
— |
1 |
20 |
1 |
20 |
3 |
60 |
|
|
Item 2 |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
1 |
20 |
4 |
80 |
|
|
Item 3 |
— |
— |
1 |
20 |
1 |
20 |
— |
— |
3 |
60 |
|
|
Item 4 |
1 |
20 |
1 |
20 |
1 |
20 |
— |
— |
2 |
40 |
|
|
Item 5 |
— |
— |
— |
— |
1 |
20 |
1 |
20 |
3 |
60 |
|
|
Item 6 |
1 |
20 |
— |
— |
— |
— |
1 |
20 |
3 |
60 |
|
|
Item 7 |
1 |
20 |
— |
— |
— |
— |
1 |
20 |
3 |
60 |
|
|
Item 8 |
2 |
40 |
1 |
20 |
1 |
20 |
— |
— |
1 |
20 |
|
|
Item 9 |
— |
— |
1 |
20 |
— |
— |
2 |
40 |
2 |
40 |
|
|
Item 10 |
— |
— |
— |
— |
1 |
20 |
1 |
20 |
3 |
60 |
|
|
Item 11 |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
1 |
20 |
4 |
80 |
|
|
|
|
A Tabela 7 apresenta as motivações que se encontram
no presente momento a influenciar a decisão dos pais que ainda não contaram às
crianças a origem da sua conceção (n
= 12), ou por estas serem ainda muito pequenas (n = 7) ou por ainda não terem decidido se vão ou não fazê-lo (n = 5).
|
Frequências das Motivações que Estão a Influenciar o Processo de
Tomada de Decisão (n = 12) |
|
||||||||||
|
|
Discordo totalmente |
Discordo |
Nem concordo nem discordo |
Concordo |
Concordo plenamente |
|
|||||
|
QMRDG |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
n |
% |
|
|
Item 1 |
— |
— |
1 |
8,3 |
2 |
16,7 |
6 |
50 |
3 |
25 |
|
|
Item 2 |
8 |
66,7 |
2 |
16,7 |
1 |
8,3 |
— |
— |
1 |
8,3 |
|
|
Item 3 |
1 |
8,3 |
1 |
8,3 |
2 |
16,7 |
4 |
33,3 |
4 |
33,3 |
|
|
Item 4 |
— |
— |
2 |
16,7 |
2 |
16,7 |
2 |
16,7 |
6 |
50 |
|
|
Item 5 |
4 |
33,3 |
3 |
25 |
3 |
25 |
2 |
16,7 |
— |
— |
|
|
Item 6 |
2 |
16,7 |
1 |
8,3 |
6 |
50 |
3 |
25 |
— |
— |
|
|
Item 7 |
2 |
16,7 |
2 |
16,7 |
2 |
16,7 |
4 |
33,3 |
2 |
16,7 |
|
|
Item 8 |
5 |
41,7 |
4 |
33,3 |
— |
— |
2 |
16,7 |
1 |
8,3 |
|
|
Item 9 |
4 |
33,3 |
3 |
25 |
2 |
16,7 |
2 |
16,7 |
1 |
8,3 |
|
|
Item 10 |
5 |
41,7 |
2 |
16,7 |
1 |
8,3 |
2 |
16,7 |
2 |
16,7 |
|
|
Item 11 |
3 |
25 |
2 |
16,7 |
1 |
8,3 |
3 |
25 |
3 |
25 |
|
|
Item 12 |
— |
— |
— |
— |
— |
— |
5 |
41,7 |
7 |
58,3 |
|
|
Item 13 |
5 |
41,7 |
4 |
33,3 |
3 |
25 |
— |
— |
— |
— |
|
|
Item 14 |
— |
— |
— |
— |
2 |
16,7 |
5 |
41,7 |
5 |
41,7 |
|
|
Item 15 |
3 |
25 |
5 |
41,7 |
2 |
16,7 |
2 |
16,7 |
— |
— |
|
|
Item 16 |
2 |
16,7 |
4 |
33,3 |
2 |
16,7 |
4 |
33,3 |
— |
— |
|
|
Item 17 |
3 |
25 |
4 |
33,3 |
1 |
8,3 |
2 |
16,7 |
2 |
16,7 |
|
|
Item 18 |
— |
— |
1 |
8,3 |
3 |
25 |
4 |
33,3 |
4 |
33,3 |
|
|
Item 19 |
2 |
16,7 |
2 |
16,7 |
1 |
8,3 |
3 |
25 |
4 |
33,3 |
|
|
Item 20 |
— |
— |
1 |
8,3 |
3 |
25 |
5 |
41,7 |
3 |
25 |
|
|
|
|
Partindo da soma das frequências dos pontos
“Concordo totalmente” e “Concordo” da escala utilizada, obtiveram-se as
motivações que mais se encontram a influenciar a decisão destes pais sendo
estas as motivações 12. Consideramos que
a transparência ajuda a que o(a) nosso(a) filho(a) se sinta segundo e confiante
no seio familiar (n = 12), 14. Todos temos o direito de conhecer as nossas
origens, esta informação faz parte da história do(a) nosso(a) filho(a) (n = 10) e 1. Consideramos que devemos ser tão honestos quanto possível, valorizamos
a abertura e a honestidade no seio familiar, ao não contar estaríamos a ser
desonestos com o(a) nosso(a) filho(a) (n
= 9). Para além destas as motivações 3. Os
segredos na família podem ser muito prejudiciais, manter este segredo
implicaria um grande esforço a nível comportamental e emocional (n = 8), 4. Esta informação diz respeito a algo puramente genético (n = 8), 18. Quisemos evitar que o(a) nosso(a) filho(a) soubesse por outros, considerámos
que devíamos ser nós a contar porque já muitas pessoas sabiam (n = 8) e 20. Não tínhamos razões para omitir, sempre foi claro contar ao(a) nosso(a)
filho(a) como ele(a) tinha sido concebido(a) (n = 8) apresentaram também elevadas frequências. No entanto, nestes
itens existiu uma maior variabilidade de respostas.
O presente estudo teve como principal objetivo o
desenvolvimento do Questionário de Motivações para Revelar/Não Revelar a
Parentalidade não Genética por Doação de Gâmetas (QMRDG). Paralelamente foram
exploradas as motivações mais indicadas consoante a situação de ter já
revelado, ter decidido não o fazer ou de indecisão.
O QMRDG pretende possibilitar o estudo das motivações
que mais influenciam o processo de tomada de decisão dos pais que recorrem a
gâmetas de dador, em contar às crianças o modo como estas foram concebidas.
Como mencionado anteriormente, a grande maioria dos estudos realizados nesta
área são de natureza qualitativa, pelo que recorrem fundamentalmente à
entrevista como metodologia de recolha de dados. Neste contexto, considerou-se
relevante poder ter disponível uma ferramenta que, de um modo mais
sistematizado, possibilitasse a abordagem destas motivações, por exemplo, no
âmbito do apoio psicológico de casais com indicação para utilização de esperma
ou ovócitos de dadores. Atendendo a que o acompanhamento destes casais
constitui um importante campo da ação da psicologia no contexto da
infertilidade (Domar,
2015), consideramos que o
QMRDG constitui um contributo, não apenas para a identificação das motivações,
mas também como um possível ponto de partida para a abordagem do tema,
estimulando a comunicação entre o casal. Com efeito, a literatura tem sugerido
que este deverá ser um tópico introduzido no decorrer do processo de tratamento
de reprodução medicamente assistida de forma a que o casal se vá familiarizando
com as diferentes perspetivas possíveis e respetivo impacto que a decisão de
revelar ou não possa ter para a família e para o desenvolvimento da criança.
Tratando-se de uma decisão complexa, muitos destes casais referem a importância
de obter a ajuda de um profissional e de contactar com outros casais que tenham
tido o mesmo tipo de experiência (Petok,
2014).
O estudo da compreensibilidade dos itens revelou
tratar-se de um instrumento composto por itens claros, de fácil compreensão,
não tendo sido reportadas dificuldades na interpretação do conteúdo dos itens
ou na sua leitura/aspeto gráfico.
No que respeita aos resultados obtidos na amostra, os
pais parecem revelar um forte desejo de contar aos filhos a origem da sua
conceção. Apesar de entre os 21 participantes apenas quatro terem revelado às
crianças o modo como estas foram concebidas, os resultados referentes aos pais
que ainda não contaram, pelo facto de a criança ser ainda muito pequena ou por
ainda não terem decidido fazê-lo, mostram que as motivações com as quais mais
se identificaram (respondendo “Concordo” ou “Concordo totalmente”) são
referentes a motivações apontadas para contar à criança, corroborando o que é
defendido pela literatura (e.g., Ethics
Committee of the American Society for Reproductive Medicine, 2013). Assim, conclui-se que
relativamente aos pais que ainda não contaram, estes têm intenção de contar,
indo ao encontro de um estudo recente de Applegarth,
Kaufman, Josephs-Sohan, Christos e Rosenwaks (2016), o qual concluiu que a
maioria dos participantes contou às crianças ou, se ainda não contou, tem intenção
de o fazer.
O processo de tomada de decisão de contar ou manter
segredo, mostrou-se significativamente diferente entre os pais que contaram e
os pais que decidiram não divulgar à criança a origem da sua conceção.
Relativamente ao acordo entre o casal, os primeiros apresentam um menor grau de
acordo, comparativamente aos segundos. Estes dados opõem-se aos que foram
encontrados num estudo realizado com pais que recorreram a doação de ovócitos (Hahn
& Craft-Rosenberg, 2002). Apesar das diferenças
não serem significativas entre os pais que decidiram contar e os pais que
decidiram não o fazer, os pais que optaram por divulgar à criança apresentam
maior acordo do que os pais que optaram por não divulgar (Hahn
& Craft-Rosenberg, 2002). Tais resultados
poderão ser explicados pelo facto de, tal como refere Salter-Ling,
Hunter e Glover (2001), o segredo em redor
deste assunto ser difícil de manter. Assim, a ausência de acordo entre o casal
poderia potenciar uma maior probabilidade de divulgação acidental.
Das motivações que mais influenciaram o processo de
tomada de decisão dos nossos participantes que contaram à criança a origem da
sua conceção, é possível identificar a honestidade como sendo a motivação que
tem maior influência no processo de tomada de decisão, corroborando outros
estudos que referem esta como sendo uma das razões mais apontadas pelos pais
que tencionam revelar à criança a forma como foi concebida (Baccino
et al., 2013; Lindblad et al., 2000; Readings
et al., 2011; Sälevaara et al., 2013; Söderström-Anttila
et al., 2010). Num estudo com participantes
recetoras de ovócitos, o qual inclui participantes que não contaram à criança e
participantes que contaram à criança, os últimos apontam como motivação para
contar o facto de privilegiarem a honestidade e autenticidade na relação com a
criança (Hahn
& Craft-Rosenberg, 2002). De igual forma, num
estudo com casais durante o tratamento de reprodução medicamente assistida, a
motivação “honestidade acima de tudo” foi a segunda categoria de razões mais
apontada pelos pais que tinham como intenção contar às crianças a origem da sua
conceção (Baccino
et al., 2013). Esta motivação está
relacionada com uma das razões também com maior influência no processo de
tomada de decisão: a defesa da transparência no seio familiar como forma da
criança se sentir mais segura e confiante, permitindo um forte sentido de
família, tal como é indicado por Hahn
et al. (2002).
O direito de a criança conhecer as suas origens
genéticas foi também uma das motivações que mais influenciou a tomada de
decisão dos pais que contaram ao/à seu/sua filho/a a origem da sua conceção,
corroborando o que é referido pela literatura ao longo dos anos (e.g., Blyth et
al., 2010; Hahn & Craft-Rosenberg, 2002; Isaksson et al., 2016; Lalos et al., 2007; Murray & Golombok, 2003. Num estudo levado a
cabo em 2003 com famílias construídas com recurso à doação de ovócitos, 60% das
mães referiram o desejo de contar à criança por considerarem que esta tem o
direito de conhecer a verdade sobre as suas origens genéticas (Murray
& Golombok, 2003). De igual forma, um
outro estudo recente refere “o direito da criança saber” como a base de muitos
pais para a partilha de informação (Isaksson et al., 2016).
A motivação “Não tínhamos razões para omitir” foi
também uma das que mais influenciou a tomada de decisão dos pais indo de
encontro a uma das motivações também mais apontada por alguns estudos (e.g., Lindblad
et al., 2000; Readings et al., 2011). Possivelmente, esta
motivação poderá estar relacionada com a ausência de estigma associado à
infertilidade, bem como com a diminuição de angústia em redor do tema
“infertilidade” presente nestes casais, uma vez que, tal como refere Salter-Ling,
Hunter, e Glover (2001), sentimentos não
resolvidos sobre problemas de fertilidade podem tornar difícil para processar
pensamentos e sentimentos sobre os aspetos específicos do recurso a gâmetas de
dador e como dizer à criança. Por outro lado, estudos indicam diferenças
estatisticamente significativas entre os pais que decidiram contar e os pais
que decidiram não contar, apresentando os primeiros menor nível de estigma
comparativamente com os segundos (Nachtigall
et al., 1997).
Face à decisão de não contar, as decisões que mais
tiveram influência na tomada de decisão dos estudos vão de encontro às
motivações mais apontadas pela maioria dos pais nos estudos qualitativos. A motivação
“Esta informação diz respeito a algo puramente genético” foi a motivação com a
qual os pais mais se identificaram, corroborando um estudo de 2013
de Sälevaara
et al., com pais finlandeses
com recurso a doação de esperma. Neste estudo, 82 mães e 81 pais decidiram não
contar à criança, sendo que 32,9% das mães e 39,5% a indicaram como razão geral
“informação não é necessária” na qual se incluía a motivação “a informação é
algo puramente genético”.
A motivação “Contar poderia ser prejudicial para o(a)
nosso(a) filho(a), ele(a) não iria compreender o processo de doação e poderia
ficar confuso(a)” foi também uma das motivações que demonstrou mais influenciar
o processo de tomada de decisão da maioria dos pais, indo ao encontro de
conclusões de outros estudos que indicam esta motivação como sendo referida por
vários pais (Lalos et
al., 2007; Lycett et al., 2005; Murray
& Golombok, 2003; Readings
et al., 2011; Sälevaara et al., 2013; Söderström-Anttila
et al., 2010). Como forma de
proteção da criança, esta é a motivação mais apontada num estudo de Murray
e Golombok (2003), com 75% dos pais a
indicarem esta como a razão para não contar às crianças o seu modo de conceção.
De igual forma, em estudos mais recentes (Sälevaara
et al., 2013; Söderström-Anttila et al.,
2010), esta surge como a
segunda motivação mais apontada pelos pais.
Para além das duas motivações anteriormente referidas,
a motivação “Não queremos que o(a) nosso(a) filho(a) sinta que eu/meu
companheiro(a) não sou/é pai/mãe dele(a) e me/o rejeite”, foi também uma das
motivações com maior frequência reportada, o que nos indica que a maior parte
dos pais indica esta como uma motivação com a qual “Concorda” ou “Concorda
totalmente”, corroborando outros estudos que indicam esta como uma motivação
comummente referida pelos pais (Lycett
et al., 2005; Murray & Golombok, 2003).
Na mesma linha de raciocínio encontramos a motivação
“Não queremos prejudicar a relação que o nosso filho tem connosco. Temos medo
que contar possa ter um impacto negativo nessa relação”. Esta foi também uma
das motivações identificada pelos pais como correspondendo a uma motivação com
a qual concordam ou concordam totalmente, tal como é concluído noutros estudos
como o de Laruelle
et al. (2011) no qual esta motivação
foi a terceira mais indicada pelos pais, ou de
Lycett et al. (2005).
Face às consequências negativas da não-divulgação, bem
como da ausência de consequências negativas da divulgação referidas
anteriormente, há evidências que comprovam que as questões relacionadas com a
divulgação e o sigilo são de longo alcance e que o sigilo total é difícil de
manter (Salter-Ling
et al., 2001). Assim, face à
diversidade de respostas encontradas neste estudo, considera-se de extrema
importância o devido acompanhamento por profissionais capacitados no processo
de tratamento com gâmetas de dador, como forma de auxiliar os pais nesta
decisão, ponderando as motivações a favor e contra contar à criança a natureza
da sua conceção. Tal como refere McGee,
Brakman e Gurmankin (2001) “as informações
disponíveis sobre a divulgação devem ser incluídas como parte da informação e
aconselhamento que os casais recebem durante o processo de tratamento de
fertilidade” (p. 2035).
Ainda que o QMRDG tenha possibilitado, ainda que de
forma exploratória, ter uma ideia acerca das motivações de pais portugueses, os
resultados têm que ser lidos com alguma cautela, face a limitações
metodológicas. A amostra deste estudo é de dimensão reduzida e integrou
fundamentalmente sujeitos do sexo feminino, impossibilitando, por exemplo, a
exploração de eventuais diferenças entre sexos. Ainda assim, esta maior
participação das mulheres vai ao encontro do reportado em vários estudos nesta
área, que apresentam maioritariamente participantes femininos (e.g., Hunter et al., 2000; Isaksson et al., 2016; Klock & Greenfeld, 2004;
Readings et al., 2011; Sälevaara et al., 2013). Por outro lado, este
estudo incluiu uma heterogeneidade de tipos de infertilidade o que por si só
constitui uma barreira para analisar a implicação do tipo de infertilidade com
as variáveis estudadas, devido à reduzida amostra. De referir também que a
média das idades das crianças foi inferior a quatro anos, o que implica que a
maior parte não tenha, pelo menos por enquanto, conhecimento da sua conceção.
Deste modo, propõem-se a realização de novas
investigações com um tamanho de amostra superior e com uma maior diversidade da
amostra relativamente ao sexo, bem como a realização de estudos com uma faixa
etária de crianças mais abrangente, uma vez que diferentes etapas
desenvolvimentais pressupõem diferentes implicações, o que poderá levar à
mudança de decisão ou de motivações dos pais.
Conclusão
Em virtude dos resultados obtidos, e tendo em conta o
objetivo principal do presente estudo, parece-nos que o QMRDG constitui um
instrumento cujos itens se revelam de fácil compreensibilidade. Ainda assim,
estudos futuros deverão ter em conta a continuidade desta análise não sendo
obviamente excluída a possibilidade de ser melhorado. De realçar que o seu uso
num contexto clínico poderá ser operacionalizado através do recurso a um
suporte de papel pelo que se revela oportuno a análise de elementos como a
legibilidade da impressão, espaçamento entre linhas e atratividade do papel.
No entanto, atendendo a que se trata de um instrumento
destinado fundamentalmente a uma utilização no âmbito da clínica, parece-nos
tratar-se de um contributo importante para o acompanhamento de casais que
recorram a gâmetas de dador, vindo colmatar a inexistência de ferramentas para
este efeito.
Conflito de interesses: nenhum.
Fontes de financiamento: nenhuma.
Agradecimentos: Os autores agradecem à Associação Portuguesa de
Fertilidade pela colaboração na divulgação do estudo e aos participantes pela
sua disponibilidade em partilhar as suas motivações.
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ⓘ PsyM. Recolheu e inseriu os dados
para análise estatística e deu o maior contributo para a elaboração do artigo. Instituto
Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Deu o maior contributo, logo a seguir ao primeiro autor, para a
elaboração do trabalho. Instituto Superior Miguel Torga. Centro de Investigação
do Núcleo de Estudos e Intervenções Cognitivo-Comportamentais: Faculdade de
Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Contribuiu significativamente para a revisão do trabalho. Instituto
Superior Miguel Torga. Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e
Intervenções Cognitivo-Comportamentais: Faculdade de Psicologia e de Ciências
da Educação da Universidade de Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Contribuiu significativamente para a revisão do trabalho. Instituto
Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.