2017, Vol. 3(1): 27-40
Estudo preliminar de adaptação e validação da
Escala de Tolerância à Infidelidade
Artigo Original
Andreia Filipa Vaqueiro Domingues ⓘ, Mariana Vaz Pires Marques ⓘ ✉, Sónia Catarina
Carvalho Simões ⓘ
https://doi.org/10.7342/ismt.rpics.2017.3.1.46
Recebido 01 janeiro 2017
Aceite 23 fevereiro 2017
Objetivos: Em Portugal, não encontrámos estudos e instrumentos que
avaliassem, para a população portuguesa, a tolerância à infidelidade. Este
estudo preliminar pretendeu, assim, avaliar e adaptar para a população
portuguesa a Escala de Tolerância à Infidelidade e explorar associações entre a
tolerância à infidelidade, variáveis sociodemográficas, relacionais e relativas
à infidelidade (e seu perdão), autocriticismo e autocompaixão.
Métodos: 223 participantes (sexo feminino, n
= 155; 69,5%), entre os 18 e os 67 anos, preencheram um questionário
sociodemográfico e com questões relacionais e relativas à infidelidade, a
Escala de Tolerância à Infidelidade, a Escala de Autocompaixão e a Escala das
Formas do Autocriticismo e de Autotranquilização.
Resultados: A versão adaptada para a população portuguesa da Escala de
Tolerância à Infidelidade mostrou apresentar duas dimensões: tolerância à
infidelidade sexual e tolerância à infidelidade emocional. Ambas revelaram boa
consistência interna (respetivamente, α = 0,896; α = 0,878). A tolerância à infidelidade sexual revelou
boa estabilidade temporal e a tolerância à infidelidade emocional muito boa
estabilidade temporal. Não se verificaram diferenças nas duas dimensões por
sexo. Os participantes casados ou em união de facto apresentaram maior
tolerância à infidelidade sexual, por oposição com os solteiros, viúvos,
separados e divorciados. Quem relatou ter perdoado uma situação de infidelidade
apresentou maior tolerância à infidelidade sexual, do que quem não o fez. Já
quem afirmou não ter não ter tido dificuldade em fazê-lo, apresentou maior
tolerância a ambos os tipos de infidelidade, do que quem expressou dificuldade
em perdoar.
Conclusões: A versão adaptada da Escala de Tolerância à Infidelidade
revelou boa consistência interna (total e subescalas) e boa estabilidade
temporal. As associações com o estado civil e sobretudo com as variáveis
relativas ao perdão face à infidelidade parecem apontar para a validade da
escala, mas são necessários mais estudos que explorem, nomeadamente, a sua
validade de construto.
Palavras chave:
Avaliação da tolerância à infidelidade · Escala de Intolerância à Infidelidade
Existe ainda pouco consenso quanto à
definição de infidelidade (Blow & Harnett, 2005). Segundo Drigotas
e Barta (2001), a infidelidade caracteriza-se pela rutura
de regras estabelecidas com o parceiro ao nível da intimidade emocional e
física. Assim, a relação monogâmica é definida pelo estabelecimento de que a
intimidade emocional e física apenas é aceitável entre as pessoas envolvidas na
relação (Luo, Cartun, & Snider, 2010), havendo, assim,
exclusividade para com o parceiro da relação primária (Treas & Giesen, 2000).
A quebra desta regra resulta na perda de confiança por parte do parceiro que
foi traído e na instabilidade relacional/conjugal (Fife, Weeks, & Stellberg-Filbert,
2013). Vários estudos mostram taxas elevadas de prevalência de
infidelidade. Em casais americanos, entre 20-40% dos homens casados e 20%-25%
das mulheres casadas terão um envolvimento extraconjugal em toda a vida (e.g.,
Laumann et al., 1994, citado por Tsapelas, Fisher, & Aron, 2010; Tafoya &
Spitzberg, 2007, tal como citado por Tsapelas et al., 2010).
No estudo de Allen e Baucom (2006) foi encontrada uma taxa de incidência
de infidelidade de 70% em casais que estejam a namorar. No estudo Português de
Martins (2012), 22,8% e 29,1%, respetivamente, das mulheres e dos
homens referiram ter sido infiéis.
De acordo com Glass e Wright (1992, citado
por Martins,
2012) existem dois tipos de infidelidade: emocional (vínculo
emocional e de afeto com outra pessoa através do flirting, intimidade e enamoramento) e sexual (envolvimento sexual
com outro parceiro fora do relacionamento primário, e/ou a possibilidade de
contacto). Drigotas, Saftstrom e Gentilia (1999) salientam
diversos motivos para a infidelidade como a insatisfação na relação, o
interesse sexual, o contexto social, a vingança-hostilidade, entre outros. No
estudo de Martins (2012) os motivos apontados para a infidelidade
foram o sentido de oportunidade e o aborrecimento na relação (nos homens) e a
infelicidade na relação (nas mulheres). Foram, porém, apontados outros motivos
como a infidelidade do parceiro, a falta de atração pelo parceiro, desinteresse
sexual ou falta de sexo e vontade de terminar a relação, em ambos os sexos (Martins,
2012). Vários estudos (Atkins, Baucom, & Jacobson, 2001; Buss &
Shackelford, 1997; Shackerford, Besser, & Goetz, 2008) mostraram
que níveis mais baixos de satisfação conjugal (em ambos os sexos) aumentam a
probabilidade de envolvimento extraconjugal. Mark, Janseen e Milhausen (2009)
encontraram uma relação entre níveis mais baixos de felicidade, satisfação e
compatibilidade sexual e infidelidade.
Alguns estudos debruçaram-se sobre as
diferenças de sexo no que toca à infidelidade. Atkins (2001) salientou
uma maior probabilidade das mulheres se envolverem emocionalmente, fora da
relação, do que em termos físicos e/sexuais (ao contrário dos homens que se
envolvem com maior frequência sexualmente). Numa metanálise (1983) relativa a
estudos sobre infidelidade em casais americanos que se encontravam casados,
Thompson concluiu que 31,0% dos homens e 16% das mulheres tinham tido um
envolvimento extraconjugal (sexual), sem que existisse envolvimento emocional e
que 13% dos homens e 21% das mulheres tinham estado envolvidas emocionalmente
(mas não sexualmente) com alguém que não o seu parceiro.
Apesar de, como referido, a prevalência e
incidência das situações de infidelidade serem elevadas (independentemente das
diferenças por sexo), estas situações são bastante penalizadas na cultura
ocidental. Um estudo realizado nos Estados Unidos da América (Smith, 1994, tal
como citado por Treas & Giesen, 2000) mostrou que 90% dos
americanos desaprovavam sempre ou quase sempre, do ponto de vista moral, o envolvimento
extraconjugal. Laumann e colaboradores (1994, tal como citado por Tsapelas
et al., 2010) numa amostra próxima dos 3500 americanos relataram que
77% dos participantes consideravam que o envolvimento sexual fora da relação
estava sempre errado. A verdade é que uma situação de infidelidade pode gerar
(e gera a maioria das vezes) sentimentos de depressão, raiva e inveja na pessoa
traída (Buss, 2000, tal como citado por Tsapelas et al., 2010;
Shackelford, LeBlanc, & Drass, 2000) e a infidelidade/traição é apontada em
diferentes estudos como devastadora para os casais (Whisman, Dixon, &
Johnson, 1997) e como causa para o fim dos relacionamentos (Hall &
Fincham, 2006). Betzig (1989, tal como citado por Shackelford, Buss & Bennett, 2002) verificou, no seu
estudo, que a infidelidade era a razão mais referida para o divórcio. Flanignan
(2007) encontrou uma relação entre traição e término da relação. Mostrou,
também, existir maior probabilidade de sair do relacionamento quando se é
traído(a) do que quando se trai, havendo ainda maior tendência a sair da
relação quando ambos os parceiros traem e/ou são traídos.
Porém, nem todas as pessoas/casais, perante
uma situação de infidelidade, abandonam a relação ou optam pelo divórcio.
Estudos mostram que, mesmo perante uma situação de infidelidade, uma
percentagem marcada de casais inicia terapia para procurar “trabalhar” a
relação (Glass & Wright, 1988, tal como citado por Lavelle, 2013) e
diferentes estudos apontam para resultados favoráveis na manutenção da relação,
quando os casais procuram terapia tendo acontecido uma situação de traição (Atkins,
Marín, Lo, Klann, & Hahlweg, 2010). Neste contexto, dada a
prevalência das situações de infidelidade e porque nem sempre estas resultam no
fim da relação, importa considerar o construto de tolerância à infidelidade e
as variáveis que se sabe já estarem associadas ao mesmo. Lavelle (2013)
define esta tolerância, precisamente, como dizendo respeito ao facto da pessoa
que foi traída permanecer na relação após a traição. Dois fatores parecem ser
centrais para a decisão de perdoar (de tolerar a traição e permanecer na
relação) ou de terminar a relação, isto de uma forma geral, sem atentar nas
diferenças por sexo: a forma como a traição foi descoberta (se aquele que traiu
contar que o fez o impacto é menor) e o facto da pessoa que traiu estar
disposta ou não a esforçar-se pela relação e a comprometer-se, de novo, com um
comportamento monogâmico (o esforço e compromisso associam-se a um menor
impacto da traição) (Afifi, Falato, & Weiner, 2001; Diblasio,
2000). Shackelford (1997) refere,
igualmente, a importância do/a grau/natureza da infidelidade, sendo maior a
probabilidade da relação terminar quando a natureza da infidelidade (a sua
gravidade) é maior, envolvendo mais custos (para aquele que foi traído e para o
casal). E se estes fatores gerais parecem estar associados a uma menor ou maior
tolerância à infidelidade, cada vez mais tem surgido interesse em explorar as
diferenças de sexo a este nível. Estas diferenças têm sido debatidas,
inclusive, tendo em conta a teoria evolucionária proposta por Buss, Larsen,
Westen e Semmelroth (1992), sobre a qual nos debruçaremos mais à frente.
Assim, no que diz respeito às diferenças por
sexo quanto à tolerância à infidelidade, Lavelle (2013) verificou
existir maior probabilidade das mulheres apresentarem níveis menores de
tolerância à infidelidade emocional do que os homens, optando por sair da
relação, e maior probabilidade de permanecerem na relação, após uma traição, se
estiverem casadas. Já os homens revelam maior tolerância à infidelidade
emocional e menor tolerância à infidelidade sexual do que as mulheres (Lavelle,
2013). Shackelford e Buss (1997) verificaram
que os homens menos satisfeitos no seu relacionamento tinham maior tendência
para pedir o divórcio caso a sua parceira beijasse outro homem, tivesse um
encontro romântico e uma noite de sexo casual (natureza mais sexual da
infidelidade). Em relação às mulheres, apesar de termos visto que estas parecem
tolerar melhor a infidelidade sexual, na presença de níveis elevados de
conflito, é mais provável que estas saiam da relação se o parceiro tiver tido
sexo casual ou um envolvimento de curta duração. O estudo de Hall e Fincham (2006)
mostrou que os dois tipos de traição resultam mais na dissolução da relação do
que a traição emocional isoladamente. No estudo de Shackelford, Buss e Bennett
(2002), no caso de ambos os parceiros terem traído, o risco de
terminar a relação existindo envolvimento sexual e emocional foi maior nos
homens do que nas mulheres. Igualmente, cerca de 61,9% dos homens e 22,0% das
mulheres ficaram mais incomodados quando existiu envolvimento sexual (versus
envolvimento emocional). Shackelford, Buss e Bennett (2002) confirmaram
o mesmo, verificando que os homens consideram ser mais difícil perdoar a
infidelidade sexual em comparação com as mulheres. Já as mulheres consideram
ser mais fácil perdoar a infidelidade sexual e mais difícil perdoar a
infidelidade emocional. Harris (2003) numa amostra de mulheres estudantes
universitárias verificou que os homens têm ciúmes em relação à infidelidade
sexual e as mulheres à infidelidade emocional. Amato e Previti (2003) estudaram o
perdão após o divórcio, verificando que os homens têm mais dificuldade em
perdoar a infidelidade sexual. Outros estudos (Amato & Previti, 2003;
Urooj,
Haque, & Anjum, 2015) confirmam que os homens têm dificuldade em
perdoar a infidelidade sexual e que as mulheres têm dificuldades em perdoar os
dois tipos de infidelidade, mas sobretudo a emocional. Não podemos deixar de
referir o que Blow e Harnnett (2005) definem como pressão cultural para as
mulheres tolerarem a infidelidade, de forma a preservarem o casamento e a
manterem a família unida. Também Flanigan (2007) refere o
papel da socialização no que toca à prestação de cuidados, assertividade e empatia,
o que pode originar uma maior probabilidade das mulheres perdoarem a
infidelidade do parceiro.
Como já referido previamente, as diferenças
encontradas empiricamente ao nível da tolerância face à infidelidade por sexo
são explicadas, a um nível teórico, maioritariamente, pela perspetiva
evolucionária, que foca a natureza da infidelidade (e.g., Buss et al., 1992).
Assim, se considerarmos os nossos antepassados, ao ocorrer uma única situação
de infidelidade sexual por parte da mulher, tal pode colocar em causa a certeza
de paternidade, no caso do homem (não se colocando dúvidas quanto à
maternidade), podendo levá-lo a investir esforço num filho de um outro homem e
não seu. Este facto aumenta a probabilidade dos homens apresentarem maior ciúme
e sofrimento e menor tolerância à infidelidade sexual do que à emocional. Já no
caso das mulheres, uma circunstância única de infidelidade pelo parceiro, não
comporta tanto risco, até porque o esforço da mulher continua a existir face a
um filho que tem a certeza de ser geneticamente seu. Porém, se o seu parceiro
ficar envolvido emocionalmente com outra mulher, tal pode diminuir os esforços,
compromisso e investimento do parceiro em si e no(s) filho(s), envolvendo mais
custos do ponto de vista evolucionário (Buss et al., 1992).
E se existem vários estudos a debruçarem-se
sobre as diferenças na tolerância à infidelidade por sexo, alguns estudos
consideraram a associação de outras variáveis (de natureza intra e
interpessoal) com este construto, embora a maioria dos estudos que se dedicam a
explorar correlatos na área da infidelidade, fazem-no, realmente, com o
construto de infidelidade e não com o de tolerância à infidelidade (e.g.,
revisão de Blow & Hartnett, 2005). No estudo de Lavelle (2013)
os sujeitos que melhor mostraram tolerar a infidelidade emocional foram aqueles
com baixos níveis de ciúme e com uma dependência “saudável” ou os que
apresentavam uma vinculação insegura evitante. Os mais tolerantes à
infidelidade sexual possuíam vinculação insegura ansiosa e evitante e níveis
disfuncionais de dependência. As mulheres foram as que revelaram menor
tolerância à infidelidade emocional, para além daqueles que, independentemente
do sexo, apresentavam níveis elevados de ciúme. Miller e Manner (2009)
também enfatizaram o papel moderador da variável ciúme crónico nas respostas
face à infidelidade por sexo. Assim, se os homens apresentaram níveis maiores
de “ciúme sexual” do que as mulheres, as diferenças de sexo no que toca a este
“ciúme” foram claramente moderadas pelo facto do sujeito apresentar ou não
ciúme crónico. Bornstein (2006) menciona a dependência emocional ou
financeira como um importante fator que reduz a probabilidade da pessoa deixar
a relação na presença de uma traição. Poortman e Seltzer (2007) referem,
igualmente, o medo e/ou expectativa de, quando existem filhos, terminar a
relação numa situação de traição, possa condicionar a capacidade de responder
às necessidades socioemocionais dos filhos. Shackelford (1997) refere, também, o papel que níveis menores de satisfação
na relação terão na dissolução da relação, face à infidelidade do(a)
parceiro(a). Cann e Baucom (2004) e Finkel, Rusbult, Kumashiro e Hannon
(2002)
apontam um maior sentimento de compromisso como aumentando a probabilidade de
se aceitar perdoar algumas transgressões por parte do parceiro (mesmo que este
sentimento também vá originar maior sofrimento, precisamente na presença destas
transgressões). Buss (1994, citado por Lavelle, 2013)
aponta ainda a crença de se poder vir a encontrar (ou não) um novo parceiro
melhor do que atual, numa situação de infidelidade, como condicionando a
decisão de se manter ou não na relação, após uma situação desse tipo.
Dado que o construto de tolerância à
infidelidade tem sido menos estudado que o de infidelidade, não temos
conhecimento de algum estudo que tenha explorado a associação entre a
tolerância à infidelidade e constructos derivados da teoria das mentalidades
sociais, como o autocriticismo e a autocompaixão. A teoria das mentalidades
sociais parte de uma perspetiva evolucionária (Gilbert, 2005) e
refere o autocriticismo como uma relação eu-eu, na qual os indivíduos adotam
uma postura crítica e punitiva face aos seus erros e fracassos, e que tem a sua
base nas experiências precoces com as figuras de vinculação (Castilho,
Gouveia, & Amaral, 2010; Gilbert, Clark, Hempel,
Miles, & Irons, 2004). Já a compaixão envolve não só a
consciência, mas a abertura calorosa e desejo de aliviar o sofrimento dos
outros e do eu, reconhecendo que a inadequação e/ou o fracasso fazem parte da
experiência humana universal. Assim, Neff (2003a; 2003b)
definiu a autocompaixão como uma atitude calorosa e de aceitação pelos aspetos
negativos do eu ou da vida em geral, sendo constituída por três componentes
básicos: calor/compreensão (versus julgamento), condição humana (versus
isolamento) e mindfulness (versus sobreidentificação). A autocompaixão pode,
então, ser uma estratégia de regulação emocional, já que envolve compreender
que os erros, fracassos e inadequações fazem parte da condição humana (Neff, 2003a).
Estudos mostram que pessoas mais autocompassivas são mais empáticas, mais
capazes de apresentar compaixão relativamente ao outro (Neff & Pommier, 2013)
e menos críticas perante os momentos difíceis, erros ou falhas dos outros
(Neff, 2003b) (aqui podemos pensar, por exemplo, numa situação de
infidelidade), enquanto que pessoas mais autocríticas são tendencialmente mais
críticas com o outro (Zuroff, Moskowitz, & Côté, 1999) e tendem a
criticar mais os seus erros, falhas e fracassos (Thompson & Zuroff, 2004).
No que toca à área da infidelidade e ao seu
estudo, como acima mencionado, a maioria dos estudos foca-se no construto de
infidelidade que, por si só, já apresenta inconsistências, segundo Blow e
Hartnett (2005), explorando muito menos a questão da tolerância à
infidelidade. Estes autores acabam por refletir num ponto central, o facto de
existir poucos estudos suficientemente rigorosos nesta área, apontando,
nomeadamente para os medos associados à confidencialidade e anonimato quando os
sujeitos participam em estudos sobre o tema. Igualmente, no que toca aos
instrumentos de autorrelato existentes nesta área de investigação, existem
alguns que se debruçam sobre as atitudes face à infidelidade (Afonso, 2011), os
comportamentos, contextos e motivações associados à infidelidade (Viegas &
Moreira, 2015) e as conceções face a infidelidade (Viegas & Moreira, 2015)
mas quanto à tolerância à infidelidade, apenas temos conhecimento da existência
da Tolerance for Infidelity Scale
(Escala de Tolerância à Infidelidade), que foi especificamente criada por
Lavelle (2013) para avaliar este construto.
Atendendo aos escassos instrumentos de auto
relato e estudos no âmbito da tolerância à infidelidade, particularmente no
nosso país, mas também ao nível internacional, são nossos objetivos centrais:
adaptar e validar preliminarmente a versão portuguesa da Escala de Tolerância à
Infidelidade (ETI) de Lavelle (2013); explorar associações entre a
tolerância à infidelidade e diferentes questões sociodemográficas (sexo, idade,
estado civil, escolaridade), relacionais (satisfação com a relação atual, no
caso de estar numa relação) e relativas à infidelidade e perdão face à mesma
(ter traído, saber ter sido traído, ter perdoado, motivos para trair e perdoar,
entre outras) e os construtos de autocriticismo e autocompaixão (estas duas,
pela forma como, hipoteticamente, pessoas mais autocríticas terão maior
dificuldade em tolerar a falha do parceiro/a ao trair e as mais autocompassivas
maior facilidade em fazê-lo).
Participantes
A amostra recolhida foi não probabilística por conveniência (Pais-Ribeiro, 2010). Como critérios de inclusão no estudo, os
participantes tinham de ter nacionalidade Portuguesa, saber ler e ter uma idade
superior a 18 anos.
A amostra ficou constituída por 223 participantes, 155 do sexo feminino
(69,5%) e 68 do sexo masculino (30,5%), com idades entre os 18 e os 67 anos (M = 32,21; DP = 11,45). Constatou-se que 46,2% dos participantes possuía uma
licenciatura (n = 103) e 96% referiu
ser heterossexual (n = 214).
Verificou-se, ainda, que 58,3% dos sujeitos mencionou estar solteiro (n = 130) (Tabela 1).
|
Caracterização Sociodemográfica da
Amostra |
|
||
|
Sexo |
n |
% |
|
|
Feminino |
155 |
69,5 |
|
|
Masculino |
68 |
30,5 |
|
|
Total |
223 |
100,0 |
|
|
Idade |
M (DP) |
Intervalo |
|
|
|
32,31 (11,45) |
18-67 |
|
|
Escolaridade |
n |
% |
|
|
1 º -2ºCiclo |
2 |
0,8 |
|
|
3º Ciclo |
5 |
2,2 |
|
|
Ensino Secundário |
72 |
32,3 |
|
|
Curso Profissional |
19 |
8,5 |
|
|
Licenciatura |
103 |
46,2 |
|
|
Mestrado |
18 |
8,1 |
|
|
Doutoramento |
4 |
1,8 |
|
|
Total |
223 |
100,0 |
|
|
Orientação
Sexual |
n |
% |
|
|
Heterossexual |
214 |
96,0 |
|
|
Homossexual |
3 |
1,3 |
|
|
Bissexual |
5 |
2,4 |
|
|
Pansexual |
1 |
0,4 |
|
|
Total |
223 |
100,0 |
|
|
Estado civil |
n |
% |
|
|
Solteiro(a) |
130 |
58,3 |
|
|
União de Facto |
30 |
13,5 |
|
|
Casado(a) |
43 |
19,3 |
|
|
Viúvo(a) |
2 |
0,9 |
|
|
Separado(a) |
2 |
0,9 |
|
|
Divorciado(a) |
16 |
7,2 |
|
|
Total |
223 |
100 |
|
|
Nota. n =
frequência; % = percentagem; M = Média; DP = Desvio-padrão. |
|
Nas Tabelas 2
e 3
são apresentados dados relacionais e sobre infidelidade. A maioria dos sujeitos
referiu estar num relacionamento/casamento (n
= 169; 75,8%), com uma duração média de 84,09 meses (DP = 100,87) (cerca de 7 anos), estando extremamente satisfeito com
o mesmo (n = 44; 26,0%). A maioria
referiu nunca ter traído (n = 165;
74,0%) e entre os que traíram, a maioria referiu ter-se arrependido (n = 17; 35,4%) (porém, a mesma
percentagem de pessoas não respondeu a esta questão) e ter contado ao seu/sua
companheiro/a ou marido/esposa (n = 17; 35,4%).
|
Dados
Relacionais e Sobre Infidelidade (e Perdão Face à Mesma) |
|
||
|
Num
relacionamento/casamento (atualmente) |
n |
% |
|
|
Sim |
169 |
75,8 |
|
|
Não |
54 |
24,2 |
|
|
Total |
223 |
100,0 |
|
|
Tempo de duração da
relação |
M (DP) |
Intervalo |
|
|
|
84,09 (100,87) |
0-502 |
|
|
Satisfação com o relacionamento atual |
n |
% |
|
|
1 Nada Satisfeito(a) |
2 |
1,2 |
|
|
2 |
3 |
1,8 |
|
|
3 |
18 |
10,7 |
|
|
4 |
32 |
18,9 |
|
|
5 |
28 |
16,6 |
|
|
6 |
49 |
23,1 |
|
|
7 Extremamente Satisfeito(a) |
44 |
26,0 |
|
|
Total |
166 |
98,2 |
|
|
Alguma vez traiu |
n |
% |
|
|
Sim |
48 |
21,5 |
|
|
Não |
165 |
74,0 |
|
|
Quis
trair, mas não o fiz |
9 |
4 |
|
|
Total |
222 |
99,6 |
|
|
Arrependimento em relação à
traição |
n |
% |
|
|
Sim |
17 |
35,4 |
|
|
Não |
13 |
27,1 |
|
|
Não
se aplica |
18 |
37,5 |
|
|
Total |
48 |
100,0 |
|
|
Nota. n =
frequência; % = percentagem; M = Média; DP = Desvio-padrão. |
|
O motivo mais
referido para a traição foi a saturação com a relação atual (n = 11; 22,9%). Também a maioria
confessou saber ter sido alguma vez traído (n
= 90; 40,4%) e dos que souberam ter sido traídos, a maioria não perdoou o/a
companheiro/a (n = 56; 25,1%). Entre
os que perdoaram, a maioria referiu ter sido difícil fazê-lo (n = 28; 77,8%), sendo o motivo mais
referido o amor (n = 12; 33,3%). A
maioria dos participantes respondeu que os pais não eram divorciados/separados
(n = 163; 73,1%), mas entre aqueles
que responderam que sim, a maioria referiu que o divórcio/separação se associou
a uma situação de traição (n = 22;
36,7%).
|
Dados
Relacionais e Sobre Infidelidade (e Perdão Face à Mesma) |
|
||
|
Contou ao
companheiro(a)/marido/esposa |
n |
% |
|
|
Sim |
17 |
35,4 |
|
|
Não |
15 |
31,3 |
|
|
Não se aplica |
16 |
33,3 |
|
|
Total |
48 |
100,0 |
|
|
Motivos para
a traição |
n |
% |
|
|
Apaixonei-me
por outra pessoa |
10 |
20,8 |
|
|
Saturação
com a relação atual |
11 |
22,9 |
|
|
Tempo curto da relação |
5 |
10,4 |
|
|
Tempo longo da relação |
2 |
4,2 |
|
|
Não se aplica |
19 |
39,6 |
|
|
Total |
47 |
97,9 |
|
|
Dependência emocional/afectiva |
10 |
27,8 |
|
|
Tempo longo da duração |
1 |
2,8 |
|
|
Amor + pelo medo de ser
julgado |
1 |
2,8 |
|
|
Amor + dependência emocional |
5 |
13,9 |
|
|
Amor + pelos filhos |
1 |
2,8 |
|
|
Amor + tempo longo da relação |
3 |
8,3 |
|
|
Amor+ pelos filhos + tempo
longo da relação |
1 |
2,8 |
|
|
Não se aplica |
2 |
5,6 |
|
|
Total |
36 |
100,0 |
|
|
Os pais são
divorciados/separados |
n |
% |
|
|
Sim |
60 |
26,9 |
|
|
Não |
163 |
73,1 |
|
|
Total |
233 |
100,0 |
|
|
Motivo da
separação dos pais foi a traição |
n |
% |
|
|
Sim |
22 |
36,7 |
|
|
Não |
20 |
33,3 |
|
|
Total |
42 |
70,0 |
|
|
Nota. n =
frequência; % = percentagem; M = Média; DP = Desvio-padrão. |
|
Procedimentos
Após a definição
do protocolo de investigação foram enviados pedidos de autorização aos autores
para a utilização dos instrumentos. Foi desenvolvido um questionário
sociodemográfico, relacional e com questões acerca da infidelidade e tolerância
à infidelidade (e.g., perdão, motivos para perdoar). De seguida, após as
autorizações serem concedidas e após a autora da escala (Lavelle, 2013)
ter facultado o instrumento, procedeu-se à adaptação da Escala de Tolerância à
Infidelidade (ETI), com as autoras do trabalho a traduzirem-na para a língua
portuguesa. Seguiu-se a sua retroversão, realizada, igualmente, pelas autoras
do trabalho e confirmada por uma investigadora da Universidade de Coimbra
(todas fluentes em inglês). Recorreu-se ao método da reflexão falada, que
consiste na aplicação individual do instrumento junto de sujeitos próximos dos
futuros destinatários do mesmo e no registo de todas as suas verbalizações
(estes devem comunicar as suas impressões sobre os itens, nomeadamente os
processos utilizados e as facilidades ou dificuldades que tiveram ao
responder-lhes) (Goldman, 1971, tal como citado por Almeida & Freire, 2008).
Assim, junto de cinco jovens adultos recolheu-lhe feedback sobre o conteúdo e entendimento dos itens que compunham a
ETI. Procedeu-se a alterações minor
ao nível do conteúdo de alguns itens da ETI. Deu-se início, posteriormente, à
recolha dos dados do presente estudo, que decorreu entre março a junho de 2016.
As autoras pretendiam, à data de início de recolha dos dados, um número mínimo
de 120 participantes (10 sujeitos por cada item da ETI), seguindo o critério
mínimo de Kerlinger (1986). O estudo foi divulgado através de redes
sociais (Facebook), onde se solicitou aos participantes que preenchessem o
protocolo online (composto por vários instrumentos, para além da ETI:
questionário sociodemográfico, relacional e relativo à infidelidade e
tolerância à infidelidade), recorrendo à plataforma Google Docs. Antes do
preenchimento, nessa mesma plataforma, seguindo imperativos éticos, as autoras
incluíram um texto descritivo sobre os objetivos, os critérios de inclusão no
estudo e confidencialidade dos dados a serem recolhidos. Foi obtido o
consentimento informado de todos os participantes (que tiveram de assinalar
“consinto participar no presente estudo”). Para testar a estabilidade temporal
da ETI, a escala foi preenchida, em dois momentos, por 29 adultos. Neste caso,
foram contactados sujeitos próximos das investigadoras e solicitada a sua
participação, para evitar a ausência de resposta no segundo momento. Foi
explicada a necessidade de preenchimento do mesmo instrumento em dois momentos
distintos e assegurada a confidencialidade dos dados recolhidos. No primeiro
momento, a ETI foi entregue a cada um dos sujeitos que concordou participar,
dando o seu consentimento informado. No topo direito da folha onde a ETI estava
impressa, constava um número. Pediu-se aos participantes que o decorassem. Não
foram recolhidos quaisquer dados sociodemográficos (ou de outra natureza) e a
estes sujeitos apenas se pediu participação no preenchimento da ETI (não se
solicitou o preenchimento do protocolo completo). Num segundo momento
(reteste), passadas quatro semanas, foi entregue aos participantes, de novo, a
ETI (com uma linha no topo direito da folha para os sujeitos escreverem o
número que lhe tinha sido atribuído na primeira administração) para a preencherem
mais uma vez.
Instrumentos
Questionário sociodemográfico, relacional e relativo à
infidelidade (e ao perdão face à mesma). Este questionário apresentou
questões sobre informação sociodemográfica (sexo, idade, escolaridade,
orientação sexual e estado civil), relacional (frequência, durabilidade e
satisfação com o relacionamento/casamento) e relativa à infidelidade e perdão
face à mesma (ter traído/ter sido traído(a), contado ao companheiro(a), motivos
para ter traído e para perdoar e grau de dificuldade em perdoar,
separação/divórcio dos pais ser devido a uma traição).
Escala de Tolerância à Infidelidade (Infidelity Tolerance Scale/ITS, Lavelle,
2013). A ETI avalia a permanência
ou saída do parceiro(a) da relação amorosa após uma traição (Lavelle, 2013).
Possui 12 itens que descrevem diferentes formas pelas quais o parceiro pode
trair, avaliando-se a probabilidade do respondente permanecer na relação,
conforme essas possíveis formas de traição, pelo parceiro. As respostas são
dadas numa escala de Likert entre 1 (extremamente provável deixar a relação) a
7 (extremamente provável permanecer na relação), oscilando a pontuação mínima e
máxima na escala entre 12 e 84, com uma pontuação maior (na escala total e
subescalas) a indicar uma maior tolerância à infidelidade. A ETI na sua versão
original apresentou duas subescalas (tolerância à traição emocional e
tolerância à traição sexual) e demonstrou uma boa consistência interna (escala
total: α = 0,87; tolerância à
infidelidade sexual: α = 0,78; tolerância à
infidelidade emocional: α = 0,73) (Lavelle, 2013). No Quadro 1
apresentamos os itens da versão original da ETI e os itens traduzidos da versão
portuguesa.
|
Itens
da Versão Original da Escala de Tolerância à infidelidade e Tradução dos Mesmos |
|
|
|
Itens da versão original |
Itens traduzidos da versão
portuguesa |
|
|
1. I was in a
new relationship with someone I really loved and they confessed to having a
one night stand. |
1. Estivesse numa relação recente com alguém que eu
realmente amasse e essa pessoa confessasse ter tido sexo casual/ido para a
cama com outra pessoa. |
|
|
2. I was in a
long-term relationship, and my partner admitted to having feelings for a
co-worker. |
2. Estivesse numa relação de
longa duração e o meu parceiro(a) admitisse ter sentimentos por um(a) colega. |
|
|
3. We were
married and had kids, and my partner admitted to cheating once. |
3. Estivéssemos casados e
tivéssemos filhos e o(a) meu/minha marido/esposa admitisse ter-me traído uma
vez. |
|
|
4. I was
engaged and my partner confessed to having an ongoing affair earlier in the
relationship. |
4. Estivesse noivo(a) e o meu
parceiro(a) admitisse ter tido um caso no início do relacionamento. |
|
|
5. My
husband/wife admitted to kissing someone else on one occasion, but did not
engage in sexual intercourse with that person. |
5. O(a) meu/minha
marido/esposa admitisse ter beijado alguém numa ocasião, mas sem ter tido
relações sexuais com essa pessoa. |
|
|
6. We were
married and had kids, and my partner admitted to being in love with another
person with whom s/he did not have any physical contact. |
6. Estivéssemos casados e
tivéssemos filhos e o(a) meu/minha marido/esposa admitisse ter-se apaixonado
por outra pessoa com a qual não teve qualquer contato físico. |
|
|
7. I was in a
long-term relationship and my partner was having an ongoing affair, but
promised to end it immediately and work on the relationship. |
7. Estivesse numa relação de
longa duração e o(a) meu/minha parceiro(a) estivesse a ter um caso, mas
prometesse terminá-lo imediatamente e melhorar a nossa relação. |
|
|
8. My
husband/wife cheated once and we were about to have our first child. |
8. O(a) meu/minha
marido/esposa me traísse uma vez e estivéssemos prestes a ter o primeiro
filho(a). |
|
|
9. I was
married and in love with my partner, and they continued to have meaningless
casual sex with other people. |
9. Estivesse casado(a) e
apaixonado(a) pelo(a) meu/minha marido/esposa e ele(a) continuasse a ter sexo
casual sem significado com outra(s) pessoa(s). |
|
|
10. The person I
was dating admitted to kissing another person with whom they felt a
connection, but did not engage in sexual intercourse. |
10. A pessoa com quem
estivesse a sair admitisse ter beijado outra pessoa com quem sentiu uma
ligação, mas sem nunca se terem envolvido sexualmente. |
|
|
11. My husband
or wife was in love with another person who was married, but they never
engaged in sexual behavior. |
11. O(a) meu/minha
marido/esposa estivesse apaixonado(a) por outra pessoa casada, mas sem nunca
se terem envolvido sexualmente |
|
|
|
|
|
Escala das Formas do Autocriticismo e de Autotranquilização
(Forms of Self-Critizing/Attacking and
Self-Reassuring Scale/FSCRS; Gilbert, Clarke, Hempel, & Irons, 2004;
Castilho & Pinto Gouveia, 2011a). A FSCRS avalia a forma como os indivíduos se
autocriticam e autotranquilizam em situações de fracasso, falha e ineficácia
pessoal (Castilho & Pinto Gouveia, 2011a). Possui 22
questões respondidas numa escala de Likert de 0 (não sou assim) a 4 (sou
extremamente assim), e divididas em três subescalas: eu inadequado (9 itens;
avalia os sentimentos de inadequação e inferioridade do indivíduo perante o
fracasso, obstáculos e erros); eu tranquilizador (8 itens; face a um erro adota
um comportamento mais positivo e de compaixão) e eu detestado (5 itens; avalia
um sentimento de repugnância/ódio e perseguição do próprio eu). A pontuação de
autocriticismo é calculada somando os itens relativos ao eu inadequado e eu
detestado (esta pontuação pode oscilar entre 0 e 56), com uma pontuação mais
elevada a indicar um maior grau de autocriticismo. Na versão original,
obtiveram-se os seguintes valores de alfa de Cronbach: 0,90, 0,86 e 0,86
respetivamente, no eu inadequado, eu detestado e eu tranquilizador (Gilbert
et al., 2004). A versão portuguesa (Castilho & Pinto
Gouveia, 2011a) apresenta uma consistência interna muito boa. Os valores
de alfa de Cronbach foram de 0,89 (eu inadequado), 0,62 (eu detestado) e 0,87
(eu tranquilizador). O presente estudo apresentou valores alfa de Cronbach de
0,88, 0,75 e 0,89, respetivamente, nessas subescalas (entre razoáveis e bons,
Pestana & Gageiro, 2008).
Escala de Autocompaixão (Self-Compassion Scale/SELFCS, Neff, 2003a; Castilho & Pinto
Gouveia, 2011b). A SELFCS permite avaliar a autocompaixão, que diz respeito à capacidade
de estar aberto ao próprio sofrimento, com sentimentos de calor, cuidado e
compreensão para com o eu (Neff, 2003a). Segundo esta autora, a autocompaixão inclui três
componentes que são avaliados pela SELFCS: calor/compreensão
versus autocrítica; condição humana
versus isolamento e mindfulness versus sobreidentificação (Castilho et al., 2011b).
Possui 26 itens de resposta, respondidos numa escala de Likert entre 1 (quase
nunca) a 5 (quase sempre) (Castilho et al., 2011b) e divide-se em 6
subescalas: calor/compreensão (5 itens) versus autocrítica (5 itens); condição
humana (4 itens) versus isolamento (4 itens) e mindfulness (4 itens) versus sobreidentificação (4 itens) (Castilho
et al., 2011b). No estudo original revelou boa consistência interna
nas subescalas: calor/compreensão (α = 0,78), autocrítica (α = 0,77), condição humana (α = 0,80), isolamento (α = 0,70), mindfulness (α = 0,75) e sobreidentificação
(α = 0,81) (Neff, 2003a). Em relação à cotação da
escala, esta pode ser cotada de forma geral ou pelas subescalas. O cálculo é
efetuado através da média dos itens que constituem a subescala/escala total,
recorrendo à inversão dos itens 1, 2, 4, 6, 8, 11, 13, 16, 18, 20, 21, 24 e 25
(Neff, 2003a). A cotação final pode ser classificada da seguinte forma: baixa
autocompaixão (intervalo de 1 a 2,5), moderada autocompaixão (intervalo de 2,5
a 3,5) e elevada compaixão (3,5 a 5). A versão portuguesa revelou uma boa
consistência interna, com os seguintes valores: de 0,84 (calor/compreensão),
0,82 (autocrítica), 0,77 (condição humana), 0,75 (isolamento), 0,73 (mindfulness) e 0,68 (sobreidentificação)
(Castilho et al., 2011b). No presente estudo obtivemos alfas de
Cronbach, respetivamente, nas mesmas escalas de: 0,84, 0,80, 0,68, 0,78, 0,72 e
0,78 (valores razoáveis e bons, na sua maioria, de acordo com Pestana &
Gageiro, 2008).
Análise estatística
Os dados foram
analisados através do Statistical Package
for the Social Sciences (SPSS), versão 19.0. Determinámos estatísticas descritivas,
medidas de tendência central, dispersão, assimetria e achatamento.
A consistência
interna da ETI foi analisada através do cálculo de alfas de Cronbach.
Explorou-se a validade interna de cada item analisando as correlações entre
cada item e o total corrigido (excluindo o item) e pelos coeficientes α excluindo um a um os itens.
Realizou-se uma
análise de componentes principais, seguida de rotação Varimax para componentes com
eigenvalues igual ou superiores a 1 (seguindo-se as indicações de Pallant,
2007), sendo usados, para extrair as dimensões/os fatores da ETI, o
critério de Kaiser (Kaiser, 1970, 1974) e o Teste
de Scree de Cattell (Catell, 1966).
A consistência
interna das subescalas da ETI foi analisada calculando alfas de Cronbach.
Correlações de Pearson permitiram testar a estabilidade
teste-reteste da escala.
Testes t de Student permitiram explorar
diferenças por sexo na tolerância à infidelidade. Através de novas correlações
de Pearson, exploramos associações entre as dimensões/fatores que emergiram da
análise de componentes principais da ETI com as dimensões dos instrumentos
FSCRS e SELFCS. Usámos os critérios de Cohen (1992) para
classificar a magnitude das correlações. Recorremos a testes t de student, U de Mann Whitney e correlações de Pearson e Spearman (os testes
paramétricos e não paramétricos foram utilizados em função do número de
participantes por categoria) para testar associações entre as dimensões da ETI
e as variáveis sociodemográficas, relacionais e relativas à
traição/infidelidade. Foi considerado o nível de significância estatística de p ≤ 0,05.
Fidelidade
Consistência interna da escala. Este parâmetro (Tabela 4)
foi avaliado calculando o respetivo alfa de Cronbach (considerando, portanto,
os doze itens da ETI) e este mostrou ser de α = 0,865 (bom, de acordo com Pestana & Gageiro,
2008).
|
Correlação
Item-Total Corrigido e Alfa Excluindo o Item |
|
||
|
Escala de Tolerância à Infidelidade |
Correlação
Item-Total Corrigido |
Alfa
excluindo o item |
|
|
1. … confessasse
ter-se envolvido sexualmente … |
0,688 |
0,923 |
|
|
2. … admitisse
ter sentimentos por um colega … |
0,646 |
0,925 |
|
|
3. … casados
e tivéssemos filhos ... ter-me traído uma vez … |
0,784 |
0,919 |
|
|
4. … admitisse
ter tido um caso no início do relacionamento … |
0,724 |
0,922 |
|
|
5. … admitisse
ter beijado alguém numa ocasião … |
0,767 |
0,920 |
|
|
6. … admitisse
ter-se apaixonado por outra pessoa … |
0,708 |
0,923 |
|
|
7. … estivesse
a ter um caso… prometesse terminá-lo … |
0,694 |
0,923 |
|
|
8. … me
traísse uma vez e estivéssemos … a ter o primeiro filho … |
0,753 |
0,921 |
|
|
9. … marido/esposa … ter sexo casual sem
significado com outras pessoas … |
0,612 |
0,926 |
|
|
10. …
admitisse ter beijado outra pessoa … |
0,690 |
0,923 |
|
|
11. …
marido/esposa … apaixonado(a) por outra pessoa casada … |
0,713 |
0,922 |
|
|
12. …
admitisse que preferia estar com outra pessoa … |
0,564 |
0,928 |
|
|
|
Análise de componentes principais, consistência interna das subescalas
e estabilidade temporal. Os valores do teste Kaiser–Meker–Oklin Measure of Sampling Adequacy (KMO) (valor obtido de 0,904; um valor
considerado significativo é ≥ 0,6) e Bartlett’s
Test of Sphericity (valor de p ≤
0,001; um valor considerado significativo deve ser ≤ 0,05) permitiram verificar
a adequabilidade dos dados para realizar a análise de componentes principais.
Ao explorar a respetiva tabela e
o screeplot de Catell verificamos a presença de 3 fatores que, pelo
conteúdo, se tornavam dificilmente interpretáveis. Assim, forçámos a análise a
dois fatores.
A análise de componentes
principais e o screeplot revelou, então, uma estrutura de 2 fatores que
explicaram, respetivamente, 56,4% e 9,5% da variância. Na Tabela 5 apresentamos
as saturações de cada item nos dois fatores.
Apenas existiu dúvida quanto ao item 5, que pareceu apresentar maior
saturação no Fator 1. Porém, dado o seu conteúdo, optámos por considerá-lo como
pertencente ao Fator 2. Encontrámos, então, 2 fatores compostos pelos seguintes
itens: Fator 1. Tolerância à infidelidade sexual: 1, 3, 4, 7, 8, 9; Fator 2. Tolerância à infidelidade
emocional: 2, 5, 6, 10, 11, 12.
|
Saturações
dos Itens da Escala de Intolerância à Infidelidade por Fator |
|
||
|
Fator 1 Tolerância à Infidelidade Sexual |
Fator 2 Tolerância à Infidelidade Emocional |
|
|
|
Item 1 |
0,807 |
0,196 |
|
|
Item 2 |
0,292 |
0,749 |
|
|
Item 3 |
0,782 |
0,353 |
|
|
Item 4 |
0,812 |
0,235 |
|
|
Item 5 |
0,732 |
0,389 |
|
|
Item 6 |
0,323 |
0,796 |
|
|
Item 7 |
0,711 |
0,321 |
|
|
Item 8 |
0,774 |
0,328 |
|
|
Item 9 |
0,580 |
0,363 |
|
|
Item 10 |
0,504 |
0,557 |
|
|
Item 11 |
0,264 |
0,876 |
|
|
Item 12 |
0,260 |
0,674 |
|
|
|
Considerando a consistência
interna de cada dimensão, a tolerância à infidelidade sexual apresentou um alfa
de Cronbach de α = 0,896 e a tolerância à infidelidade emocional de α = 0,878 (ambas boas, segundo Pestana & Gageiro, 2008).
Na Tabela 6 apresentamos as médias e desvios padrão de cada
dimensão na 1ª administração e reteste. Correlações de Pearson das dimensões
entre si indicam correlações de magnitude elevada (Cohen, 1992),
abonatórias da estabilidade temporal da ETI (tolerância à infidelidade sexual, r = 0,879; tolerância à infidelidade
emocional, r = 0,940). As dimensões
correlacionam uma com a outra, com magnitude elevada, na primeira administração
(r = 0,723) e no reteste (r = 0,734).
|
TABELA 6 Médias
e Desvios Padrão dos Fatores da ETI (1ª Administração e Reteste) |
|
|
|
M (DP) |
|
|
|
Tolerância à Infidelidade
Sexual (1ª Administração) |
13,51
(7,56) |
|
|
Tolerância à Infidelidade
Emocional (1ª Administração) |
15,16
(7,57) |
|
|
Tolerância à Infidelidade
Sexual (reteste) |
16,59
(9,59) |
|
|
Tolerância à Infidelidade
Sexual (reteste) |
19,10
(9,42) |
|
|
Nota. M =
Média; DP = Desvio-padrão. |
|
|
Validade de Construto
Diferenças por sexo nas dimensões da ETI. Através de testes t de Student exploraram-se diferenças na tolerância à infidelidade
emocional e sexual, por sexo. Não foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas.
Associações
entre a tolerância à infidelidade, variáveis sociodemográficas, relacionais e
relativas à infidelidade (e perdão face à mesma). Fomos
explorar diferenças e associações quanto à tolerância à infidelidade (sexual e
emocional) por/com diferentes variáveis sociodemográficas, relacionais e
relativas à infidelidade (e perdão face à mesma) e tolerância à infidelidade
(através de correlações de Pearson e Spearman, testes t de Student e U de Mann
Whitney): idade, escolaridade, orientação sexual, estado civil, estar numa
relação, satisfação na relação atual, ter ou não traído, motivos para trair,
ter contado, saber ter sido traído, ter perdoado ou não, motivos para perdoar,
divórcio ou não dos pais e saberem se o motivo para divórcio se devera a
traição. Encontraram-se diferenças por estado civil e pelas variáveis “perdoou
o(a) companheiro(a)/marido/esposa” e “foi difícil perdoar”. Os participantes
casados/em união de facto apresentaram pontuações estatisticamente mais
elevadas na tolerância à infidelidade sexual (t = -1,951; p ≤0,052;
casados/união de facto, M = 14,92, DP = 8,54; solteiros, M = 12,82; DP = 6,96), por oposição com os solteiros, viúvos, separados e
divorciados. Quem perdoou a infidelidade mostrou maior tolerância à
infidelidade sexual (t = -3,017; p ≤ 0,004; sim, M = 15,97; não, M =
11,02) Quem revelou dificuldade em perdoar apresentou menor tolerância à
infidelidade sexual (U = 43,000; p ≤0,009; sim, Md = 12,0, não, Md =
25,0) e emocional (U = 47,015; p ≤0,015; sim, Md = 14,00; não, Md =
20,50), do que quem não revelou dificuldade em perdoar.
Associações entre a tolerância à infidelidade,
autocriticismo e autocompaixão. Não
tendo encontrado diferenças por sexo nas dimensões de tolerância à
infidelidade, na amostra total, realizamos correlações de Pearson entre essas
dimensões e as dimensões da FSCRS (eu tranquilizador) e da SELFCS
(calor/compreensão; condição humana) que também não revelaram diferenças por
sexo (nas outras dimensões destes instrumentos foram encontradas diferenças,
que não importam apontar neste trabalho). Não foram encontradas associações
estatisticamente significativas.
O presente estudo teve como objetivos adaptar e
validar preliminarmente a Escala de Tolerância à Infidelidade (ETI) e explorar
associações entre o construto de tolerância à infidelidade, variáveis
sociodemográficas, relacionais e relativas à infidelidade e perdão face à mesma
e o autocriticismo e a autocompaixão.
Mas antes mesmo de explorarmos os dados relativos à
validação preliminar da ETI, importa atentar em alguns dos dados
sociodemográficos, relacionais e relativos à traição (e perdão da mesma)
encontrados no nosso estudo. Na nossa amostra, o motivo mais referido para
trair foi a saturação com a sua relação. Este dado vai ao encontro de vários
estudos (Mark, Janseen, & Milhausen, 2009; Martins,
2012) que também apontaram como
motivo principal para a infidelidade a saturação com a relação. De facto,
vários estudos (Atkins et al., 2001; Buss & Shackerford, 1997;
Drigotas et al., 1999; Shackerford, Besser, &
Goetz, 2008) verificaram que quanto maior a
insatisfação na relação, maior parece ser a predisposição para a infidelidade
(emocional e sexual). Em relação ao arrependimento, a maioria daqueles que
traíram (n = 18; 36,7%) sentiram
arrependimento. Numa amostra de 159 participantes do sexo masculino 239 do sexo
feminino, a maioria revelou ter-se arrependido da traição (Galperin et al., 2013).
Em relação à traição cometida pelo companheiro(a),
40,4% dos nossos inquiridos revelaram ter conhecimento do ocorrido. Flanignan
(2007) reportou que no seu estudo apenas 6,9% souberam ser traídos (com idades
entre os 15 e os 22 anos), em relações de curta duração. Para além do intervalo
etário diferente da nossa amostra, no nosso estudo, a média de duração do
relacionamento atual (pelo menos) não pode ser considerada de curta duração.
Abarcando a nossa amostra, também, pessoas mais velhas e que na atual relação
(e eventualmente também numa/noutras anterior/es), experienciaram já outro grau
de compromisso relacional, pode fazer sentido que, face a uma situação de
infidelidade, a mesma tenha sido revelada numa maior percentagem.
Apesar dos custos eventualmente envolvidos nessa
partilha, dado o maior compromisso relacional (dada a maior duração do
relacionamento, existência de filhos, estado civil, entre outras variáveis) e a
outras variáveis a ser tidas em conta se se desejar manter, ainda assim, o
relacionamento (e.g. a ausência de
satisfação na relação atual, a manter-se como está), depois de uma traição,
pode fazer sentido uma maior percentagem de revelação. Relativamente aos
motivos que levaram os nossos participantes a perdoar a traição, a maioria dos
sujeitos que perdoou o seu companheiro(a) referiu tê-lo feito por amor e
dependência emocional.
O resultado relativo à dependência emocional vai ao
encontro de estudos (Flanignan, 2007; Borsntein, 2006) que salientam níveis
maiores de dependência emocional como uma das variáveis que explica uma maior
tolerância à infidelidade. O medo de não voltar a ser amado(a) e de não
conseguir cuidar de si mesmo pode, então, influenciar a decisão de tolerar a
infidelidade. A resposta de tolerância face a infidelidade centrada na
existência de amor pode associar-se, consideramos nós, ao sofrimento vivenciado
por aquele(a) que é traído e reforçar a importância que a terapia de casal pode
ter nestes casos (particularmente se este sentimento de amor for partilhado
pelos dois elementos) (Atkins et al., 2010).
O tempo longo da relação também foi apresentado por
vários dos participantes (isoladamente ou em simultâneo com o amor e a
dependência emocional) como um motivo para tolerar a traição. De novo, o
sentimento de compromisso presente em relações de maior duração pode explicar
este dado, o que vai ao encontro do expresso por Cann e Baucom (2004)
e Finkel, Rusbult, Kumashiro e Hannon (2002).
Partindo, então, para os dados relativos à validação
preliminar da ETI, no que diz respeito aos resultados relativos à fidelidade da
ETI e validade interna dos itens, os resultados foram muito abonatórios (boa
fidelidade e todos os itens considerados como “bons” correlacionando-se com
valores superiores a 0,30 com o total. Os dados recolhidos com a presente
amostra revelaram adequabilidade para a realização da análise de componentes
principais, apontando para duas dimensões, tolerância à infidelidade sexual e
emocional, ambas revelando boa consistência interna. Estes dados estão em
consonância com os resultados obtidos com a versão original da escala (Lavelle,
2013).
Adicionalmente, a tolerância à infidelidade sexual
revelou boa estabilidade temporal e a tolerância à infidelidade emocional muito
boa estabilidade temporal. Pensamos que estes bons indicadores de fidelidade e
validade apontam para a possibilidade desta primeira adaptação da ETI poder ser
usada em estudos futuros que pretendam explorar o construto de tolerância à
infidelidade, embora sejam necessários mais estudos com amostras mais
representativas e que explorem, por exemplo, a validade de construto
(nomeadamente a validade convergente e divergente) mais detalhadamente. Os
dados aqui apresentados parecem ser um importante contributo na área de estudo
da infidelidade (e tolerância à infidelidade), particularmente quando são
escassos os instrumentos de avaliação existentes no nosso país nesta área.
Ao explorarmos a validade de construto da ETI e partindo,
inclusive, da perspetiva evolucionária (Buss et al., 1999)
que apontaria para eventuais diferenças, pelo menos ao nível da variável sexo,
em termos de tolerância à infidelidade, deparamo-nos com a ausência de
diferenças estatisticamente significativas por sexo nessa variável. De facto,
os nossos resultados contrariam os resultados de Lavelle (2013) que
verificou que a tolerância à infidelidade emocional foi menor nas mulheres, ao
passo que nos homens, a tolerância à infidelidade sexual foi menor, numa
situação de traição. Já Sabini e Green (2004) também não
identificaram diferenças entre sexos no que toca à tolerância à infidelidade,
apesar de ter verificado ser mais provável ambos saírem da relação no caso de
uma infidelidade emocional.
Outros estudos (Carpenter, 2012; Harris,
2003; Lishner, Nguyer, Stocks, & Zilmer, 2008; Urooj et
al., 2015) encontraram resultados semelhantes, contrariando a teoria
evolucionária. Um aspeto que parece ser muito relevante e que pode ter
condicionado a ausência de diferenças por sexo, a este nível, no nosso estudo,
diz respeito ao facto do estudo de Lavelle (2013) ter implicado a leitura prévia de vinhetas
descrevendo uma situação de traição sexual e outra de traição emocional e o
preenchimento de uma escala de afeto, antes do preenchimento da ETI. Apesar de
outros estudos (que não encontraram diferenças por sexo) usarem metodologias
semelhantes, no geral, recorrem a itens hipotéticos de traição (“imaginar o/a
seu/sua parceiro/a a ter relações sexuais com outra pessoa”), questionando, de
seguida, se os respondentes tolerariam ou não a traição, muito à semelhança do
que fizemos no presente estudo.
Já no estudo de Lavelle (2013), a leitura de vinhetas bastante vívidas e
explícitas no que toca a uma hipotética situação de infidelidade [“O João
chegou a casa e ouviu barulho vindo da sala. Fica claro que a mulher e um amigo
estão a conversar animadamente. Ao aproximar-se da sala, ouve claramente a
mulher a dizer “eu também te amo (…)”], pode aumentar a probabilidade de
identificação com a pessoa que é traída, facilitando a que quem lê realmente se
coloque na situação como se a estivesse a viver. Para além disso, na vinheta é
tido em conta o sexo de que trai e de quem é traído, aumentando mais o
potencial referido de identificação, o que pode tornar mais salientes as
diferenças de resposta às questões, atendendo ao sexo dos sujeitos. Assim, no
futuro, seria interessante, recorrendo à versão adaptada Portuguesa da ETI, e
recorrendo a uma metodologia idêntica à utilizada por Lavelle (2013), testar
diferenças por sexo na tolerância à infidelidade, bem como associações com
outras variáveis (algumas que incluímos e outras que podiam ter sido
consideradas).
Em relação às potenciais associações entre
diferentes variáveis sociodemográficas, relacionais e relativas à infidelidade
(e perdão face à mesma) e a tolerância à infidelidade, os sujeitos casados ou a
coabitarem apresentaram maior tolerância à infidelidade sexual. Lavelle (2013) também
concluiu que os homens casados têm maior probabilidade de tolerar os dois tipos
de infidelidade (emocional e sexual), em comparação com as mulheres.
No nosso estudo, dado não termos encontrados
diferenças por sexo na tolerância à infidelidade, exploramos esta associação na
amostra total, constatando que estar casado ou viver em união de facto parece
conduzir a uma maior tendência para tolerar a infidelidade em ambos os sexos.
Este resultado pode relacionar-se com a presença de um compromisso,
investimento emocional e eventual dependência financeira e emocional que os
sujeitos casados podem apresentar, em comparação com os indivíduos solteiros.
Isto pode levá-los a, mais facilmente, tolerar a infidelidade (não podendo ser
esquecida a eventualidade da presença de filhos poder estar associada, também, a
esta maior tolerância face à traição). Vários autores referem a questão do
compromisso, dependência (dos dois tipos) e a preocupação com o bem-estar dos
filhos, como varáveis que aumentam a probabilidade de tolerar a infidelidade (Bornstein,
2006; Cann & Baucom, 2004; Poortman & Seltzer, 2007).
No estudo de Viegas e Moreira (2013), os indivíduos solteiros (que nunca
namoraram ou nunca estiveram numa relação) revelaram tolerar mais a traição, o
que, apesar de poder parecer contraditório, pode fazer algum sentido, dado que
o desconhecimento das variáveis envolvidas quando se está num relacionamento
(compromisso, dependência, entre outras variáveis) por alguém que nunca teve
nenhum, pode conduzir a uma desvalorização das situações de infidelidade e do
seu verdadeiro impacto.
Quanto ao facto de, na nossa amostra, os
participantes que perdoarem a traição terem maior tolerância à infidelidade
sexual e aqueles que consideraram não ter sido difícil perdoar terem maior
tolerância à infidelidade sexual e emocional, estes resultados apontam para a
validade de construto da ETI (permitindo, indiretamente, explorar a sua
validade convergente) e estão de acordo com o estudo de Shackelford, Buss e
Bennett (2002) que mostrou que, em ambos os sexos, uma
menor facilidade em perdoar, levaria a uma maior probabilidade de sair da
relação tendo havido uma traição sexual.
Estaríamos à espera que variáveis como “ter traído”
ou “saber ter sido traído” pudessem ter revelado associações com a tolerância à
infidelidade. De facto, Lavelle (2013) referiu que o facto da pessoa já ter sido traída
ou ter traído influencia a probabilidade de a infidelidade ser tolerada. Porém,
tal não se verificou no nosso estudo. Voltamos a considerar a metodologia
utilizada nos estudos antes da administração da ETI como um elemento que pode
condicionar estes resultados.
Numa perspetiva evolucionária, estaríamos à espera
que níveis mais baixos de tolerância à infidelidade se associassem a níveis
mais elevados de autocriticismo e menores de autocompaixão, tendo em conta que
menores níveis de autocompaixão e maiores de autocriticismo dificultam a
capacidade de tolerar as próprias falhas e erros, mas também as falhas e erros
dos outros, como sucede numa situação de traição (Zuroff et al., 1999;
Neff,
2003b; Thompson & Zuroff, 2004).
Talvez pudesse ter sido uma melhor opção o recurso a
medidas focadas na compaixão (face ao outro) e crítica face ao outro (e.g. medidas de perfecionismo orientado
para o outro) e, ao mesmo tempo, a resposta a estas outras medidas ou mesmo à
FSCRS e à SELFCS tendo como “erro de base” do outro ou do próprio uma situação
de traição (em vez da resposta genérica sobre como lidam consigo próprios/com
os outros face a inadequações, erros e/ou fracassos).
Tendo já acentuada a importância dos dados
preliminares de validação da ETI, não podemos deixar de mencionar as limitações
principais deste estudo e referir hipóteses de estudos futuros. A nossa amostra
não pode ser considerada representativa da população portuguesa, ao tratar-se
de uma amostra de conveniência (de acentuar a necessidade de, no futuro,
existir um maior equilíbrio no número de sujeitos do sexo feminino e
masculino). Tal diminui a validade externa do estudo e condiciona a
generalização dos resultados. Num estudo sobre um tema relativo à área da
infidelidade, embora que não exatamente sobre infidelidade, a metodologia de
recolha de dados (online e através de instrumentos de autorrelato), apesar de
ter assegurado o anonimato e confidencialidade dos mesmos, precisamente pelo
tema em causa, pode ter condicionado os resultados.
Já referimos a metodologia utilizada na avaliação da
tolerância à infidelidade, visto que o não recurso a situações ativadoras da
identificação do sujeito com a pessoa que foi traída, antes do preenchimento da
ETI, pode não ter permitido avaliar de forma precisa a tolerância à
infidelidade (no caso da mesma acontecer).
Muitas outras variáveis poderiam ter sido exploradas
em associação com a tolerância à infidelidade, como a religião, as opiniões políticas,
os traços de personalidade e os estilos de vinculação, o que pretendemos fazer
em estudos futuros. Importa, ainda, refletir, sobre a importância de serem
realizados mais estudos sobre o tema da tolerância à infidelidade, uma vez que,
se parecem existir resultados positivos associados ao recurso à terapia de
casal em situações de infidelidade (Atkins et al., 2010),
importa explorar melhor as variáveis que influenciam a tolerância (ou não) à
infidelidade e que podem, se o casal assim o entender, constituir focos
centrais da terapia.
Conflito de interesses: nenhum.
Fontes de financiamento: nenhuma.
Afifi, W. A., Falato, W. L., & Weiner, J. L. (2001).
Identity concerns following a severe relational transgression: The role of discovery
method for the relational outcomes of infidelity. Journal of Social and Personal
Relationships, 18(2), 291-308. [Google Scholar] [CrossRef]
Allen, E. S., & Baucom, D. H. (2006). Dating, marital,
and hypothetical extradyadic involvements: How do they compare?. The Journal of Sex Research, 43(4), 307-317. [Google Scholar] [CrossRef]
Almeida, L. S., & Freire, T. (2008). Metodologia da investigação em
psicologia e educação [Methodology
of research in psychology and education] (4th ed.). Braga: Psiquilíbrios
Edições. [Google Scholar]
Amato, P. R., & Previti, D. (2003). People's reasons for
divorcing. Journal of Family
Issues, 24(5), 602-626. [Google Scholar] [CrossRef]
Atkins, D. C., Baucom, D. H., & Jacobson, N. S. (2001).
Understanding infidelity: Correlates in a national random sample. Journal of Family Psychology, 15(4), 735-749. [Google Scholar] [CrossRef]
Atkins, D. C., Marín, R. A., Lo, T. T. Y., Klann, N., &
Hahlweg, K. (2010). Outcomes of couples with infidelity in a community-based
sample of couple therapy. Journal
of Family Psychology, 24(2), 212-216. [Google Scholar] [CrossRef]
Blow, A. J., & Hartnett, K. (2005). Infidelity in
committed relationships II: A substantive review. Journal of Marital and Family
Therapy, 31(2), 217-233. [Google Scholar] [CrossRef]
Bornstein, R. F. (2006). The complex relationship between
dependency and domestic violence: Converging psychological factors and social
forces. American Psychologist, 61(6), 595-606. [Google Scholar] [CrossRef]
Buss, D. M., Larsen, R. J., Westen, D., & Semmelroth, J.
(1992). Sex differences in jealousy: Evolution, physiology, and psychology. Psychological Science, 3(4), 251-255. [Google Scholar] [CrossRef]
Buss, D. M., & Shackelford, T. K. (1997). Susceptibility
to Infidelity in the first year of marriage. Journal
of Research in Personality, 31(2), 193-221. [Google Scholar] [CrossRef]
Buss, D. M., Shackelford, T. K., Kirkpatrick, L. A., Choe, J.
C., Lim, H. K., Hasegawa, M., . . . Bennett, K. (1999). Jealousy and the nature
of beliefs about infidelity: Tests of competing hypotheses about sex
differences in the United States, Korea, and Japan. Personal Relationships, 6(1), 125-150. [Google Scholar] [CrossRef]
Cann, A., & Bacuom, T. R. (2004). Former partners and new
rivals as threats to a relationship: Infidelity type, gender and commitment as
factors related to distress and forgiveness. Personal
Relationships, 11(3), 305-318. [Google Scholar] [CrossRef]
Carpenter, C. J. (2012). Meta-analyses of sex differences in
responses to sexual versus emotional infidelity: Men and women are more similar
than different. Psychology of
Women Quarterly, 36(1), 25-37. [Google Scholar] [CrossRef]
Castilho, P., Gouveia, J. P., & Amaral, V. (2010).
Recordação das experiências de ameaça e subordinação na infância e
psicopatologia: o efeito mediador do auto-criticismo [Recalling experiences of
threat and subordination in childhood and psychopathology: The mediating effect
of self-criticism]. Psychologica, 2(52), 475-498. [Google Scholar] [URL]
Castilho, P., & Pinto Gouveia, J. (2011a).
Auto-criticismo: Estudo de validação da versão portuguesa da Escala das Formas
do Auto-criticismo e Auto-tranquilização (FSCRS) e da Escala das Funções do
Auto-criticismo e Auto-ataque (FSCS) [Self-criticism: A validation study of the
Portuguese version of the Forms of Self-Criticizing and Reassuring (FSCRS) and
the Functions of Self-criticizing/attacking Scale (FSCS)]. Psychologica, 2011(54), 63-86. [Google Scholar] [CrossRef]
Castilho, P., & Pinto Gouveia, J. (2011b).
Auto-compaixão: Estudo da validação da versão portuguesa da Escala da
Auto-compaixão e da sua relação com as experiências adversas na infância, a
comparação social e a psicopatologia [Self-compassion: Study of the validation
of the Portuguese version of the Self-Compassion Scale and its relationship
with adverse experiences in childhood, social comparison, and psychopathology]. Psychologica, 2011(54), 203-230. [Google Scholar] [URL]
Cattell, R. B. (1966). The scree test for the number of
factors. Multivariate
Behavioral Research, 1(2), 245-276. [Google Scholar] [CrossRef]
Cohen, J. (1992). A power primer. Psychological Bulletin, 112(1), 155-159. [Google Scholar] [URL]
DiBlasio, F. A. (2000). Decision-based forgiveness treatment
in cases of marital infidelity. Psychotherapy, 37(2), 149-158. [Google Scholar] [CrossRef]
Drigotas, S. M., & Barta, W. (2001). The cheating
heart: Scientific explorations of infidelity. Current
Directions in Psychological Science, 10(5), 177-180. [Google Scholar] [CrossRef]
Drigotas, S. M., Safstrom, C. A., & Gentilia, T.
(1999). An investment model prediction of dating infidelity. Journal of Personality and Social
Psychology, 77(3), 509-524. [Google Scholar] [CrossRef]
Fife, S. T., Weeks, G. R., & Stellberg-Filbert, J.
(2013). Facilitating forgiveness in the treatment of Infidelity: An
interpersonal model. Journal
of Family Therapy, 35(4), 343-367. [Google Scholar] [CrossRef]
Finkel, E. J., Rusbult, C. E., Kumashiro, M., & Hannon,
P. A. (2002). Dealing with betrayal in close relationships: Does commitment
promote forgiveness?. Journal
of Personality and Social Psychology, 82(6), 956-974. [Google Scholar] [CrossRef]
Flanigan, C. M. (2007). Staying
with a partner who cheats: The influence of gender and relationship dynamics on
adolescents´ tolerance of infidelity (Master’s
thesis, Universidade Bowling Green State). [Google Scholar] [URL]
Galperin, A., Haselton, M. G., Frederick, D. A., Poore, J.,
Hippel, W., Buss, D. M., & Gonzaga, G. C. (2013). Sexual regret: Evidence
for evolved sex differences. Archives
of Sexual Behavior, 42(7), 1145-1161. [Google Scholar] [CrossRef]
Gilbert, P. (2005). Compassion and cruelty: A biopsychosocial
approach. In P. Gilbert (Ed.), Compassion:
Conceptualisations, research and use in psychotherapy (pp. 9-74). London: Routledge. [Google Scholar]
Gilbert, P., Clarke, M., Hempel, S., Miles, J. N. V., &
Irons, C. (2004). Criticizing and reassuring oneself: An exploration of forms,
styles and reasons in female students. British
Journal of Clinical Psychology, 43(1), 31-50. [Google Scholar] [CrossRef]
Hall, J. H., & Fincham, F. D. (2006). Relationship
dissolution following infidelity: The roles of attributions and forgiveness. Journal of Social and Clinical
Psychology, 25(5), 508-522. [Google Scholar] [CrossRef]
Harris, C. R. (2003). Factors associated with jealousy over
real and imagined infidelity: An examination of the social-cognitive and
evolutionary psychology perspectives. Psychology
of Women Quarterly, 27(4), 319-329. [Google Scholar] [CrossRef]
Kaiser, H. F. (1970). A second generation little jiffy. Psychometrika, 35(4), 401-415. [Google Scholar] [CrossRef]
Kaiser, H. F. (1974). An index of factorial simplicity. Psychometrika, 39(1), 31-36. [Google Scholar] [CrossRef]
Kerlinger, F. N. (1986). Foundations
of behavioral research (3rd ed.).
New York, NY: Holt, Rinehard and Winston. [Google Scholar]
[CrossRef]
Lavelle, S. (2013). Tolerance
for Infidelity: Exploring the factors that determine a person´s likehood of
staying in a relationship where infidelity has occurred (Unpublished doctoral dissertation).
Universidade de Adelphy, Estados Unidos da América. [Google Scholar]
Lishner, D. A., Nguyen, S., Stocks, E. L., & Zillmer, E.
J. (2008). Are sexual and emotional infidelity equally upsetting to men and
women? Making sense of forced-choice responses. Evolutionary Psychology, 6(4), 667-675. [Google Scholar] [CrossRef]
Luo, S., Cartun, M. A., & Snider, A. G. (2010). Assessing
extradyadic behaviour: A review, a new measure, and two new models. Personality and Individual
Differences, 49(3), 155-163. [Google Scholar] [CrossRef]
Mark, K. P., Janssen, E., & Milhausen, R. R. (2009).
Infidelity in heterossexual couples: Demographic, interpersonal, and
personality-related predictors of extradyadic sex. Archives of sexual behavior, 40(5), 971-982. [Google Scholar] [CrossRef]
Martins, A. F. R. S. (2012). Comportamentos extra-diádicos
offline e online nas relações de namoro: Diferenças de género nos motivos,
prevalência e correlatos [Offline
and online extra-dyadic behaviors in dating relationships: Gender differences
in motives, prevalence and correlates] (Unpublished master’s thesis).
Universidade de Coimbra, Coimbra. [Google Scholar]
Miller, S. L., & Maner, J. K. (2009). Sex differences in
response to sexual versus emotional infidelity: The moderating role of
individual differences. Personality
and individual differences, 46(3), 287-291. [Google Scholar] [CrossRef]
Neff, K. D., & Pommier, E. (2013). The relationship
between self-compassion and other-focused concern among college undergraduates,
community adults, and pacticing meditators. Self
and Identity, 12(2), 160-176. [Google Scholar] [CrossRef]
Neff, K. D. (2003a). The development and validation of a
scale to measure self-compassion. Self
and Identity, 2(3), 223-250. [Google Scholar] [CrossRef]
Neff, K. D. (2003b). Self-compassion: An alternative
conceptualization of a healthy attitude toward oneself. Self and Identity, 2(2), 85-101. [Google Scholar] [CrossRef]
Pais-Ribeiro, J. L. (2010). Metodologia de investigação em
psicologia e saúde [Methodology of
research in psychology and health] (3rd ed.). Porto: Legis Editora. [Google Scholar]
Pallant, J. (2007). SPSS
survival manual (3rd ed.).
New York: Open University Press. [Google Scholar]
Pestana, M. H., & Gageiro, J. N. (2008). Análise de dados para ciências
sociais: A complementaridade do SPSS [Data
analysis for social sciences: The complementarity of SPSS] (5th ed.).
Lisboa: Edições Sílabo. [Google Scholar]
Poortman, A. R., & Seltzer, J. A. (2007). Parents’
expectations about childrearing after divorce: Does anticipating difficulty
deter divorce?. Journal of
Marriage and Family, 69(1), 254-269. [Google Scholar] [CrossRef]
Sabini, J., & Green, M. C. (2004). Emotional responses to
sexual and emotional infidelity: constants and diferences across genders,
samples, and methods. Personality
and Social Psychology Bulletin, 30(11), 1375-1388. [Google Scholar] [CrossRef]
Shackelford, T. K., & Buss, D. M. (1997).
Antecipation of marital dissolution as a consequence of spousal infidelity. Journal of Social and Personal
Relationships, 14(6), 793-808. [Google Scholar] [CrossRef]
Shackelford, T. K. (1997). Divorce as a consequence of
spousal infidelity. In V. C. de Munck (Ed.), Romantic
love and sexual behavior: Perspectives from the social sciences (pp. 135-153). Westport, CT, US:
Praeger Publishers/Greenwood Publishing Group. [Google Scholar]
Shackelford, T. K., Buss, D. M., & Bennett, K.
(2002). Forgiveness or breakup: Sex differences in responses to a partner’s
infidelity. Cognition and
Emotion, 16(2), 299-307. [Google Scholar] [CrossRef]
Shackelford, T. K., Besser, A., & Goetz, A. T.
(2008). Personality, marital satisfaction and probability of marital
Infidelity. Individual
Differences Research, 6(1), 13-25. [Google Scholar] [URL]
Shackelford, T. K., LeBlanc, G. J., & Drass, E.
(2000). Emotional reactions to infidelity. Cognition
and Emotion, 14(5), 643-659. [Google Scholar] [CrossRef]
Thompson, A. P. (1983). Extramarital sex: A review of the
research literature. The
Journal of Sex Research, 19(1), 1-22. [Google Scholar] [CrossRef]
Thompson, R., & Zuroff, D. C. (2004). The levels of
Self-Criticism Scale: Comparative self-criticism and internalized
self-criticism. Personality
and Individual Differences, 36(2), 419-430. [Google Scholar] [CrossRef]
Treas, J., & Giesen, D. (2000). Sexual Infidelity among
married and cohabiting americans. Journal
of Marriage and the Family, 62(1), 48-60. [Google Scholar] [CrossRef]
Tsapelas, I., Fisher, H. E., & Aron, A. (2010). Infidelity:
when, where, why. In W. R. Cupach & B. H. Spitzberg (Eds.), The dark side of close
relationships II (pp.
175-196). New York, NY: Routledge. [Google Scholar] [URL]
Urooj, A., Haque, A., & Anjum, G. (2015). Perception of
emotional and sexual infidelity among married men and women. Pakistan Journal of Psychological
Research, 30(2), 421-439. [Google Scholar] [URL]
Viegas, T., & Moreira, J. M. (2013). Julgamentos de
infidelidade: Um estudo exploratório dos seus determinantes. Estudos de Psicologia, 18(3), 411-418. [Google Scholar] [Scielo]
Whisman, M. A., Dixon, A. E., & Johnson, B. (1997).
Therapists’ perspectives of couple problems and treatment issues in couple
therapy. Journal of Family
Psychology, 11(3), 361-366. [Google Scholar] [CrossRef]
Zuroff, D. C., Moskowitz, D. S., & Côté, S. (1999).
Dependency, self-criticism, interpersonal behavior and affect: Evolutionary
perspectives. British Journal
of Clinical Psychology, 38(3), 231-250. [Google Scholar] [CrossRef]
ⓘ PsyM. Esboçou a versão escrita original;
contribuiu substancialmente para a conceção e planeamento do estudo e recolheu,
analisou e interpretou os dados do estudo. Instituto Superior Miguel Torga,
Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Orientou a versão escrita original; contribuiu substancialmente
para a conceção e planeamento do estudo e orientou a análise e interpretação
dos dados do estudo. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Contribuiu para a conceção do trabalho, reviu criticamente o
conteúdo intelectual. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.