2017, Vol. 3(2): 10-20

 

PDF

       

Adaptação e Validação da Utrecht Work Engagement Scale (UWES) aplicada a Assistentes Sociais em Portugal

 

Artigo Original   

 

Helena Teles , Nélson Ramalho , Vanda Ramalho , Sónia Ribeiro

 

https://doi.org/10.7342/ismt.rpics.2017.3.2.52

 

Recebido 25 maio 2017

Aceite 07 setembro 2017

 

 

ÍNDICE

RESUMO

INTRODUÇÃO

MÉTODOS

RESULTADOS

DISCUSSÃO

REFERÊNCIAS

 

TOP

RESUMO

Objetivo: O presente estudo visa avaliar os itens e as respetivas dimensões da Utrecht Work Engagement Scale (UWES-17) de Schaufeli e Bakker (2009), aplicada a assistentes sociais a exercer funções em Portugal.

Método: Foi aplicada a versão portuguesa da UWES a uma amostra constituída por 1369 assistentes sociais portugueses, 94% do sexo feminino e 6% do sexo masculino, com uma média de idades de 39 anos (desvio-padrão = 8,99). A habilitação académica mais frequente é a licenciatura (63,8%) e no que respeita à atividade profissional possuíam, em termos médios, 12,99 anos de experiência (desvio-padrão = 8,28). A fidedignidade da escala foi avaliada através do coeficiente de alfa de Chronbach e a validade através da análise fatorial exploratória. Foi utilizada a pesquisa metodológica de natureza quantitativa.

Resultados: Os resultados alcançados vão ao encontro dos valores presentes em estudos anteriores quanto à sua consistência interna, tanto dos 17 itens que compõe a escala como das suas três dimensões (“vigor”, “dedicação” e “absorção”). A UWES-17 neste estudo apresenta uma estrutura fatorial de três fatores, tal como o estudo original, mas a constituição dos itens de cada dimensão é diferente.

Conclusões: A escala UWES-17 apresenta-se com boas características psicométricas e uma boa consistência interna.

 

Palavras chave: Engagement · UWES · Assistentes Sociais · Portugal

 

TOP

INTRODUÇÃO

 

A psicologia, ao longo da sua história, deu mais primazia ao estudo dos aspetos negativos do ser humano em geral (problemas, sintomas e doenças) do que aos positivos (Bakker, Schaufeli, Leiter, & Taris, 2008). Como resposta a esta tendência, surge a chamada "Psicologia Positiva", que foca os aspetos psicológicos positivos. É a partir desta corrente, que na década de 90 Kahn começa a desenvolver os primeiros estudos sobre engagement, como consequência às inúmeras pesquisas sobre os problemas, sintomas e doenças laborais, como o burnout.

O engagement[1] no trabalho, definido enquanto um estado mental positivo e de bem-estar relacionado com o contexto laboral, tende a ser visto como oposto ao burnout. Contrariamente aos trabalhadores que sofrem desta síndrome – manifestado em estado de exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização pessoal (Maslach & Leiter, 1997) – os que se encontram envolvidos na sua atividade profissional revelam energia, eficácia e capacidade para lidar positivamente com os desafios do trabalho.

Porém, se para Maslach e Leiter (1997), o engagement e o burnout, enquanto estados psicológicos do bem-estar laboral (um possuindo qualidades positivas e outro negativas), encontram-se negativamente correlacionados, para Schaufeli e Bakker (2003) esta correlação nem sempre acontece. Por exemplo, quando um trabalhador não está afetado pelo síndrome de burnout, tal não significa que apresente nível de engagement no seu posto de trabalho. E o contrário, também é verdade, ou seja, quando um trabalhador possui baixos níveis de engagement, não significa que ele esteja em situação de burnout. Teoricamente, estes dois conceitos não podem ser estudados em simultâneo, dado apresentarem-se como distintos e independentes um do outro. No entanto, na prática, considera-se haver uma possível correlação entre o burnout e o engagement. Existem evidências empíricas que apresentam correlação negativa do engagement com o burnout (Salanova, Schaufeli, Llorens, Peiró, & Grau, 2000; Durán, Extremera, & Rey, 2005) e correlação positiva com o desenvolvimento profissional (Martínez & Salanova, 2003), com as competências emocionais, o bem-estar emocional e a felicidade (Extremera, Durán, & Rey, 2005).

Schaufeli, Salanova, González-Romá e Bakker (2002, p. 74) definem o engagement como um estado afetivo-cognitivo positivo, persistente e abrangente (não sendo característico de um evento, indivíduo ou comportamento momentâneo), relacionado com o mundo laboral, constituído por três dimensões: comportamental (“vigor”), emocional (“dedicação”) e cognitiva (“absorção”). O “vigor” caracteriza-se por altos níveis de energia, resiliência mental, vontade de investir e persistir face a dificuldades no trabalho; a “dedicação” pelo forte envolvimento, entusiasmo, orgulho, desafio, inspiração no desempenho da atividade profissional e atribuição de significado ao trabalho desenvolvido; e a “absorção” pela “imersão” e concentração total nas atividades em que o indivíduo se encontra implicado, de tal forma que possui dificuldade em desapegar-se do seu trabalho, dando a sensação de o tempo passar rapidamente. Estar absorvido no trabalho consiste, pois, num estado de atenção focalizada e satisfação intrínseca (Csikszentmihalyi, 1990). O engagement profissional caracteriza-se, pois, por uma forte identificação e altos níveis de energia despendidos no trabalho.

Dado a falta de instrumentos para se avaliar e medir o engagement, os autores Schaufeli e Bakker (2009) elaboraram o questionário Utrecht Work Engagement Scale (UWES). Originalmente, este instrumento, construído em 1999, era composto por 24 itens, dos quais nove eram relativos ao “vigor” e oito à “dedicação”. Mais tarde, em 2002, após uma avaliação psicométrica, sete desses itens demonstraram-se inconsistentes, tendo sido eliminados. A versão UWES de 17 itens é, assim, composta por seis itens de “vigor”, cinco de “dedicação” e seis de “absorção” (Schaufeli et al., 2002).[2]

Entre 1999 e 2003, a escala UWES-17 foi sujeita a vários testes psicométricos preliminares. Num primeiro momento, aplicada a uma grande amostra de trabalhadores (n = 9679) pertencentes a diferentes grupos profissionais na Holanda e Bélgica; e, mais tarde, estendida a outros países. Estes testes tinham a pretensão de avaliar a distribuição dos itens, a consistência interna das subescalas, a estrutura fatorial da UWES, a relação com diferentes variáveis (o burnout, a idade e o sexo), bem como as diferenças entre os grupos profissionais e entre países. Dos seus resultados, Schaufeli e Bakker (2009), apresentam, para este instrumento, propriedades psicométricas muito satisfatórias. A consistência interna revelou-se alta, tal como a estabilidade temporal. A estrutura fatorial foi confirmada, revelando níveis altos de correlação entre os fatores que a compõem, não variável entre amostras de diversos países. No que se refere ao burnout, observou-se uma correlação negativa com o engagement. Foram encontradas pequenas diferenças estatisticamente significativas nos níveis de engagement relativas a algumas variáveis, como a idade, o sexo e os grupos profissionais, mas com pouca relevância a nível prático. Deste modo, os autores consideram a UWES um instrumento válido e adequado para ser usado em investigações futuras com outros grupos profissionais, podendo estes estarem integrados em diferentes territórios ou países.

O presente estudo pretende analisar, por um lado, as dimensões do “vigor”, “dedicação” e “absorção” como formas específicas de engagement (Schaufeli & Bakker, 2003). Dado que vários estudos nacionais e internacionais têm observado elevados riscos de burnout presentes na população dos assistentes sociais (Abdallah, 2009; Carrera, 2011; Collins, 2008; Davies, 1998; Hamama, 2012; Kim & Kao, 2011; Lloyd, King, & Chenoweth, 2002; Lonne, 2003; Ramiro, 2014; Takeda, Yokoyama, Miyake, & Ohida, 2002) e de outros trabalhadores sociais (Extremera et al., 2005; Fong & Ng, 2012; Galán & Fernández, 2009) devido aos contextos profissionais permeáveis a situações de stress, pretende-se, por outro lado, complementar estes estudos, avaliando as características psicométricas da UWES quando aplicada a esta classe profissional, em Portugal.

A UWES é, atualmente, o instrumento mais utilizado em estudos internacionais para avaliar o engagement profissional. Ter uma ferramenta de medição válida e padronizada do constructo de engagement é essencial para facilitar uma melhor compreensão do envolvimento, da regulação das emoções e do bem-estar dos trabalhadores nos contextos laborais, razão pela qual, se pretendeu validar a escala UWES-17 para a população de assistentes sociais em Portugal (UWES-17) dada a sua inexistência, permitindo melhorar e prevenir os efeitos negativos dos riscos psicossociais em contextos sócio comunitários. Em Portugal já existe um estudo relativo à validação desta escala, mas respeitante aos profissionais dos cuidados de saúde primários (Martins, 2013).

 

TOP

MÉTODOS

De acordo com a finalidade e objetivos deste trabalho realizou-se um estudo metodológico de natureza quantitativa do tipo descritivo-correlacional que permite obtenção, organização e análise de dados, através da elaboração, validação e avaliação do instrumento e técnicas de pesquisa.

Instrumentos

Para avaliar o engagement nos assistentes sociais utilizou-se a UWES-17 de Schaufeli e Bakker (2009), na versão traduzida para o português (Angst, Benevides-Pereira, & Porto-Martins, 2009), adaptando-se, no entanto, algumas expressões brasileiras ao português europeu e promovendo-se a linguagem paritária[3], conforme Tabela 1. Esta escala – que pretende avaliar em que medida os assistentes sociais se encontram envolvidos com o seu trabalho (e não a eficácia do trabalho executado) – encontra-se estruturada por dezassete itens, divididos em três dimensões relacionáveis entre si: o “vigor”, com seis itens (1, 4, 8, 12, 15, 16), a “dedicação” com cinco (2, 5, 7, 10, 13) e a “absorção” com seis (3, 6, 9, 11, 14,16). Os profissionais responderam a cada um dos itens de acordo com uma escala ordinal do tipo Likert com sete alternativas de resposta, composta por valores variáveis entre 0 (se nunca teve esse sentimento ou crença) e 6 (se o sentiam ou tinham frequentemente).

 

 

TABELA 1

Escala UWES-17 Aplicada aos Assistentes Sociais Portugueses

 

 

Itens da UWES-17

 

 

1.  No meu trabalho sinto-me chei@ de energia

 

 

 

2. Acho que o meu trabalho tem muito significado e utilidade

 

 

 

3. O tempo passa a voar quando estou a trabalhar

 

 

 

4. No meu trabalho sinto-me com força e energia

 

 

 

5. Estou entusiasmad@ com o meu trabalho

 

 

 

6. Quando estou a trabalhar esqueço tudo o que se passa à minha "volta"

 

 

 

7. O meu trabalho inspira-me

 

 

 

8. Quando me levanto de manhã apetece-me ir trabalhar

 

 

 

9. Sinto-me feliz quando estou a trabalhar intensamente

 

 

 

10. Estou orgulhos@ do que faço neste trabalho

 

 

 

11. Estou imers@ no meu trabalho

 

 

 

12. Sou capaz de ficar a trabalhar por períodos de tempo muito longos

 

 

 

13. O meu trabalho é desafiante para mim

 

 

 

14. “Deixo-me ir” quando estou a trabalhar

 

 

 

15. Sou uma pessoa com muita resistência mental no meu trabalho

 

 

 

16. É-me difícil desligar do meu trabalho

 

 

 

17. No meu trabalho sou sempre perseverante (não desisto), mesmo quando as coisas não estão a correr bem

 

 

 

 

 

Procedimento

A escala UWES-17 foi aplicada aos assistentes sociais portugueses através da aplicação de um questionário, elaborado com recurso à plataforma Google Docs, disponível on-line por um período aproximado de dois meses (Setembro a Outubro de 2015). O questionário apresentava confidencialidade e garantias de anonimato das informações recolhidas. Para a sua divulgação recorreu-se à rede social Facebook e ao envio de 6.261 correios eletrónicos para assistentes sociais, apelando à sua participação através de auto-preenchimento. No total foram obtidas 1434 respostas. Excluíram-se 65, dado não deterem os critérios definidos para o universo em análise[4]. Face ao exposto, o estudo totalizou 1369 respostas válidas. Os dados foram tratados com recurso ao Software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS – versão 22), tendo como variáveis base os 17 itens da UWES. Dado que a validação de uma escala é sempre determinada pelo estudo da sua validade e fiabilidade, foram realizados testes de fiabilidade à consistência interna[5] da escala, através do cálculo dos coeficientes Alfa de Cronbach, correlação de Pearson e t-test. Face à validade do constructo foi realizada a análise fatorial exploratória.

 

 

 

TABELA 2

Caracterização da Amostra (N = 1369)

 

 

Características

n

%

 

 

Sexo

Feminino

1287

94

 

 

Masculino

82

6

 

 

Grupo Etário

20-29 anos

194

14,2

 

 

30-39 anos

587

42,9

 

 

40-49 anos

397

29

 

 

50-59 anos

162

11,9

 

 

60-69 anos

29

2

 

 

Habilitações Académicas

Licenciatura

874

63,8

 

 

Pós-Graduação

294

21,5

 

 

Mestrado

187

13,7

 

 

Doutoramento

13

0,9

 

 

Pós-Doutoramento

1

0,1

 

 

Anos de Exercício Profissional

< 10 anos

642

46,9

 

 

11 a 20 anos

519

37,9

 

 

21 a 30 anos

156

11,4

 

 

31 a 40 anos

47

3,4

 

 

> 41 anos

5

0,4

 

 

Campo de Intervenção Profissional

3ª Idade

226

16,5

 

 

Ação Social

352

25,7

 

 

Crianças e Jovens

197

14,4

 

 

Educação/formação

35

2,6

 

 

Empresas

9

0,7

 

 

Ensino e investigação

9

0,7

 

 

Habitação

20

1,5

 

 

Justiça

12

0,9

 

 

Saúde

297

21,7

 

 

Deficiência e Reabilitação

84

6,1

 

 

Múltiplas áreas de Intervenção

32

2,3

 

 

Sector Laboral

 Público

637

46,5

 

 

 Privado

656

47,9

 

 

 Ambos (público e privado)

76

5,6

 

 

Vencimento Bruto

Sem rendimentos

5

0,4*

 

 

< S.M.N.

17

1,2

 

 

S.M.N. (505€)

7

0,5

 

 

505€ a 600€

23

1,7

 

 

600€ a 800€

120

8,8

 

 

800€ a 1.000€

263

19,2

 

 

1 000€ a 1 200€

271

19,8

 

 

1 200€ a 1 500€

347

25,3

 

 

1 500€ a 2 000€

232

16,9

 

 

> 2 000€

84

6,1

 

 

Satisfação com o Vencimento

Sim

127

9,3

 

 

Não

1018

74,4

 

 

Mais ou menos

224

16,4

 

 

Avaliação do Ambiente de Trabalho

Muito Bom

210

15,3

 

 

Bom

557

40,7

 

 

Satisfatório

481

35,1

 

 

Mau

65

4,7

 

 

Muito Mau

9

0,7

 

 

Avaliação das Condições Materiais de Trabalho

Muito Boas

125

9,1

 

 

Boas

419

30,6

 

 

Satisfatórias

597

43,6

 

 

Más

195

14,2

 

 

Muito Más

33

2,4

 

 

Nota. *Assistentes sociais que exerciam atividade profissional não remunerada (e.g., cargos diretivos, conhecidos pelo Instituto da Segurança Social como “trabalhadores por conta de outrem não remunerados).

 

 

Amostra

O tamanho da amostra foi calculado através da fórmula para populações finitas e variável qualitativa, recorrendo-se a uma amostra aleatória simples (Sarmento, 2008, p. 25), que garante um nível de confiança e precisão aceitáveis. Assume-se um universo de 14875 que reflete, de acordo com Branco (2009), o número global de licenciados em serviço social, em Portugal[6]. O nível de respostas (n = 1369) foi acima da dimensão exigida estatisticamente. Calculou-se o nível de precisão, cuja margem de erro foi de, aproximadamente, 2,5%.

A amostra do estudo (Tabela 2) foi constituída por assistentes sociais maioritariamente do sexo feminino (94%), com idades compreendidas entre 22 e os 69 anos. A média etária situava-se nos 39 anos (DP = 8,99; Moda = 34). A habilitação académica mais frequente era a licenciatura (63,8%), sendo que 36,2% detinham uma pós-graduação, mestrado, doutoramento ou pós-doutoramento. No que respeita à atividade profissional possuíam, em termos médios, 12,99 anos de experiência (DP = 8,28), encontrando-se a exercer funções maioritariamente no domínio da ação social (25,7%), saúde (21,7%) ou gerontologia (16,5%), distribuídos, de forma muito idêntica, pelo sector público (46,5%) e privado (47,9%). Em termos de vencimento bruto, 68,1% auferia rendimentos mensais superiores a 1 000 euros. Porém, 74,4% revelava não estar satisfeita com o seu vencimento. O ambiente de trabalho foi avaliado como sendo “bom” (40,7%) e as condições materiais disponibilizadas para o exercício das suas funções como “satisfatórias” (43,6%).

 

TOP

RESULTADOS

 

 

Validade

De forma a averiguar se existiria a possibilidade de se proceder à análise das correlações do conjunto de itens, através da análise fatorial, estudámos o valor de medida de adequabilidade através do Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy (KMO)[7] e do teste de Bartlett[8]. No estudo em presença, encontramos um KMO de 0,88 e no teste de Bartlett, um valor significativo inferior a 0,001. Assim, uma vez que ambos apresentam valores aceitáveis, existem condições para a realização de uma análise fatorial. Prosseguiu-se com a extração a partir dos 17 itens da Escala UWES, através da análise fatorial exploratória (Tabela 3).

 

 

 

TABELA 3

Variação Total da Análise de Componentes Principais

 

 

 

Valores próprios iniciais

 

 

Componente

Total

% da Variância

Cumulativo %

 

 

1

10,341

60,8

60,8

 

 

2

1,410

8,3

69,1

 

 

3

1,046

6,2

75,3

 

 

4

0,838

4,9

80,2

 

 

5

0,717

4,3

84,4

 

 

6

0,522

3,1

87,5

 

 

7

0,381

2,2

89,7

 

 

8

0,337

2,0

91,7

 

 

9

0,312

1,8

93,6

 

 

10

0,256

1,5

95,1

 

 

11

0,218

1,3

96,4

 

 

12

0,182

1,1

97,4

 

 

13

0,170

1,0

98,4

 

 

14

0,093

0,5

99,0

 

 

15

0,083

0,5

99,5

 

 

16

0,048

0,3

99,7

 

 

17

0,044

0,3

100,0

 

 

Nota. Método de Extração: Análise de Componentes Principais.

 

 

Para determinar o número de componentes a incluir na análise utilizou-se o critério de Kaiser (exclui as componentes cujos valores próprios são inferiores a 1), cumprindo-se o critério de que os fatores devem explicar aproximadamente 70% da variação total observada nas variáveis originais. São retidos três fatores, que explicam 75,3% da variação total observada nas 17 variáveis originais. De seguida apresenta-se o diagrama Scree Plot (Figura 1). Atendendo a que “os valores próprios representados em relação ao número de fatores a reter, são os que correspondem à maior inclinação de recta, ou seja, a um maior afastamento entre valores próprios” (Pestana & Gageiro, 2000, p. 399), o scree plot da fatorização corrobora os três fatores, o que é coincidente com a proposta dos autores.

 

FIGURA 1. Scree Plot dos Componentes da UWES. [Clique aqui para abrir]

 

A Tabela 4 apresenta a matriz dos componentes após rotação varimax, salientando-se os fatores associados a cada uma das variáveis.

O Fator I, resultante da análise fatorial exploratória, integra todos os itens da dimensão “dedicação” (2, 5, 7, 10 e 13), mas integra também 3 itens do “vigor” (1,4 e 8) e 3 itens da “absorção” (3, 6 e 11). O Fator II integra os itens 9, 15 e 17, sendo que estes dois últimos pertencem à dimensão do “vigor” e o primeiro à dimensão de “absorção”. Por fim, o Fator III integra os itens 12, 14 e 16, sendo o primeiro relativo à dimensão “vigor” e os restantes à dimensão “absorção”. Para esta análise dos dados foi tido em consideração o defendido por Costello e Osborne (2005), designadamente o facto da constituição de cada fator ter um mínimo de 3 itens, um valor de saturação fatorial dos itens superior a 0,30 e a não existência de saturações duplas.

Os resultados corroboram a estrutura fatorial proposta pelos autores da escala, com três dimensões, não se corroborando o agrupamento de itens das dimensões.  

 

 

 

TABELA 4

Rotação Varimax de Componentes Principais da PSS

 

 

Matriz de Componentesa

 

 

 

Componente

 

 

1

2

3

 

 

1. No meu trabalho sinto-me chei@ de energia

0,853

0,145

0,217

 

 

2. Acho que o meu trabalho tem muito significado e utilidade

0,615

0,522

0,090

 

 

3. O tempo passa a voar quando estou a trabalhar

0,821

0,235

0,185

 

 

4. No meu trabalho sinto-me com força e energia

0,920

0,218

0,132

 

 

5. Estou entusiasmad@ com o meu trabalho

0,893

0,310

0,127

 

 

6. Quando estou a trabalhar esqueço tudo o que se passa à minha "volta"

0,488

0,256

0,380

 

 

7. O meu trabalho inspira-me

0,766

0,393

0,254

 

 

8. Quando me levanto de manhã apetece-me ir trabalhar

0,848

0,273

0,172

 

 

9. Sinto-me feliz quando estou a trabalhar intensamente

0,430

0,651

0,014

 

 

10. Estou orgulhos@ do que faço neste trabalho

0,618

0,562

0,099

 

 

11. Estou imers@ no meu trabalho

0,598

0,541

0,259

 

 

12. Sou capaz de ficar a trabalhar por períodos de tempo muito longos

0,445

0,363

0,640

 

 

13. O meu trabalho é desafiante para mim

0,704

0,279

0,437

 

 

14. “Deixo-me ir” quando estou a trabalhar

0,561

0,364

0,637

 

 

15. Sou uma pessoa com muita resistência mental no meu trabalho

0,170

0,808

0,256

 

 

16. É-me difícil desligar do meu trabalho

0,031

0,088

0,832

 

 

17. No meu trabalho sou sempre perseverante (não desisto), mesmo quando as coisas não estão a correr bem

0,179

0,850

0,301

 

 

Nota. aA rotação convergiu em 3 iterações. Método de extração: Análise de Componentes Principais.  Método de rotação: Varimax com Normalização Kaiser

 

 

Fiabilidade

Afim de procurar validar a adaptação da UWES-17 à população de assistentes sociais portugueses, realizou-se uma análise das características psicométricas da escala, tendo-se testado a sua consistência interna (fiabilidade) através do Alfa de Cronbach, que pondera o rácio existente entre a variância total dos 17 itens que compõem a UWES-17 e a variância de cada um dos itens. Autores vários (Davis, 1964; Kaplan & Saccuzzo, 1982; Murphy & Davidsholder, 1988; Nunnally, 1978) têm definido critérios de recomendação de fiabilidade estimada para o Alfa de Cronbach, estimando intervalos considerados aceitáveis para a utilização de escalas científicas (Tabela 5).

 

 

 

TABELA 5

Critérios de Recomendação de Fiabilidade Estimada para o Alfa de Cronbach

 

 

Autor

Condição

Alfa considerado aceitável

 

 

Davis (1964, p. 24)

Previsão individual

Acima de 0,75

 

 

Previsão para grupos de 25-50

Acima de 0,5

 

 

Kaplan e Saccuzzo (1982, p. 106)

Investigação fundamental

0,7-0,8

 

 

Investigação aplicada

0,95

 

 

Murphy e Davidsholder (1988, p. 89)

Fiabilidade inaceitável

< 0,6

 

 

Fiabilidade baixa

0,7

 

 

Fiabilidade moderada a elevada

0,8-0,9

 

 

Fiabilidade elevada

> 0,9

 

 

Nunnally (1978, p. 245-246)

Investigação preliminar

0,7

 

 

Investigação fundamental

0,8

 

 

Nota. Adaptado de Peterson (1994).

 

 

Os autores responsáveis pelos estudos relativos à UWES-17 (Demerouti, Bakker, Janssen, & Schaufeli, 2001; Montgomery, Peeters, Schaufeli, & Den Ouden, 2003; Salanova et al., 2000; Schaufeli & Bakker, 2004; Salanova, Brescó, & Schaufeli, 2005; Salanova, Carrero, Pinanzo, & Schaufeli, 2003; Salanova, Grau, Llorens, & Schaufeli, 2001) determinaram a sua consistência interna dentro do intervalo 0,91-0,96 (Schaufeli & Bakker, 2009, p. 13).

Dos resultados da aplicação do Alfa de Cronbach à UWES-17 constata-se que esta escala apresenta um bom coeficiente de consistência interna, com um valor de 0,95. O valor mínimo do Alfa de Cronbach (0,95) foi verificado no item5. Estou entusiasmad@ com o meu trabalho” e o mais elevado (0,96) no item 16. É-me difícil desligar do meu trabalho”, conforme Tabela 6. Este valor revela, pois, que estamos perante um instrumento cujo grau de consistência e fiabilidade interna é adequado dado encontrar-se dentro dos limites estabelecidos pelos autores.

 

 

 

TABELA 6

Estatística Descritiva e Alfa de Cronbach

 

 

 

Média

Desvio Padrão

Média da escala se o item for excluído

Variância da escala se o item for excluído

Correlação item-total corrigida

Alfa de Cronbach se o item for excluído

 

 

UWES-APS-1

4,13

1,48

66,05

400,56

0,73

0,95

 

 

UWES-APS-2

4,98

1,38

65,21

406,50

0,68

0,95

 

 

UWES-APS-3

4,65

1,53

65,53

402,73

0,67

0,95

 

 

UWES-APS-4

4,11

1,54

66,08

394,47

0,81

0,95

 

 

UWES-APS-5

3,97

1,64

66,21

389,08

0,84

0,95

 

 

UWES-APS-6

3,78

1,81

66,4

395,66

0,66

0,95

 

 

UWES-APS-7

3,82

1,75

66,37

386,85

0,81

0,95

 

 

UWES-APS-8

3,65

1,89

66,54

383,93

0,79

0,95

 

 

UWES-APS-9

4,08

1,69

66,1

395,51

0,71

0,95

 

 

UWES-APS-10

4,44

1,60

65,74

393,43

0,79

0,95

 

 

UWES-APS-11

4,19

1,59

66,00

394,78

0,77

0,95

 

 

UWES-APS-12

4,02

1,70

66,17

397,25

0,68

0,95

 

 

UWES-APS-13

4,03

1,80

66,16

385,56

0,81

0,95

 

 

UWES-APS-14

3,94

1,72

66,24

390,22

0,78

0,95

 

 

UWES-APS-15

4,17

1,58

66,01

402,59

0,65

0,95

 

 

UWES-APS-16

3,71

1,84

66,47

413,44

0,39

0,96

 

 

UWES-APS-17

4,53

1,51

65,66

404,69

0,64

0,95

 

 

 

 

 

 

 

 

No que concerne ao Alfa de Cronbach das três dimensões (“vigor”, “dedicação” e “absorção”), os valores apurados na UWES-17 aplicada a assistentes sociais são superiores à UWES-17 (Tabela 7). A dimensão na qual se verifica um Alfa de Cronbach substancialmente superior é na “absorção” na qual a UWES-17 apresenta um Alfa de Cronbach de 0,83 e na UWES-17 aplicada a assistentes sociais um valor de 0,92, acima do intervalo enunciado para a UWES-17 estabelecido entre 0,79 – 0,88 (Schaufeli & Bakker, 2009, p. 21). Deste modo, considera-se que os dados são aceitáveis como unidimensionais em cada uma das dimensões, apresentando todas elas um nível de consistência adequado na amostra em estudo.

 

 

 

TABELA 7

Alfa de Cronbach das Escalas do UWES-17 vs. UWES-17 Aplicada a Assistentes Sociais

 

 

 

UWES-17

(N = 12 161) *

UWES-17 no presente estudo

(N = 1 369)

 

 

Vigor

0,82

0,89

 

 

Dedicação

0,89

0,91

 

 

Absorção

0,83

0,92

 

 

Total

0,93

0,94

 

 

Nota. *Adaptado de Schaufeli e Bakker (2009, p. 21).

 

 

Recorreu-se ao t-teste para confirmar a significância das diferenças entre dimensões. Na Tabela 8 são apresentados os valores da média, do erro padrão e do desvio padrão dos resultados obtidos na UWES-17 aplicada a assistentes sociais em comparação com os dados apresentados pela UWES-17. As médias observadas nas três dimensões encontram-se acima de 4 pontos (“uma vez por semana”), numa escala de 0 (“nunca”) até 6 (“todos os dias”), sendo o ponto médio 3 (“algumas vezes por mês”). O nível total do engagement quer da UWES-17 como da UWES-17 aplicada a assistentes sociais estão acima do ponto médio (3), revelando valores semelhantes entre si.

 

 

 

TABELA 8

Média, Erro Padrão e Desvio Padrão das Dimensões do UWES-17 e da UWES-17 Aplicada a Assistentes Sociais

 

 

 

UWES-17

(N = 12 161) *

 

UWES-17 no presente estudo

(N = 1 369)

 

 

Média

Erro Padrão

Desvio Padrão

Média

Erro Padrão

Desvio Padrão

 

 

Vigor

4,24

0,01

1,09

 

4,10

0,03

1,28

 

 

Dedicação

4,33

0,01

1,36

 

4,25

0,04

1,42

 

 

Absorção

3,77

0,01

1,28

 

4,06

0,03

1,27

 

 

Total

4,10

0,01

1,11

 

4,13

0,03

1,33

 

 

Nota. *Adaptado de Schaufeli e Bakker (2009, p. 30).

 

 

Além da observação da média, desvio e erro padrão, realizou-se a comparação das percentagens de scores[9]. Constatou-se (Tabela 9) que tanto no score total da UWES-17 como da UWES-17 aplicada a assistentes sociais, mais de metade dos trabalhadores detinham um score principal de 5 ou 6: 59,1% (UWES-17) e 61,2% (UWES-17 aplicada a assistentes sociais) dos trabalhadores selecionaram as respostas “algumas vezes por semana” (5) ou “todos os dias” (6). Relativamente às opções “algumas vezes por ano” (1) e “uma vez ou menos por mês” (2) quer a UWES-17 quer a UWES-17 aplicada no nosso estudo apresentaram valores residuais de 4,2% e 7,6% respetivamente. Tais resultados evidenciam não existirem diferenças substanciais nos scores de engagement entre escalas.

 

 

 

TABELA 9

Scores de Distribuição em Percentagens da UWES-17 e da UWES-17 no Presente Estudo

 

 

UWES-17

(N = 12 161) *

 

UWES-17 no presente estudo

(N = 1 369)

 

 

Vigor

Dedicação

Absorção

Score Total

Vigor

Dedicação

Absorção

Score Total

 

 

0,6

1,3

2,0

0,7

 

1,5

2,0

1,9

1,2

 

 

2,5

3,9

6,6

3,5

 

6,1

6,8

5,8

6,4

 

 

9,4

9,7

16,3

11,8

 

11,8

9,9

11,4

11,8

 

 

22,1

18,0

25,2

24,9

 

27,2

23,0

31,4

19,2

 

 

Nota. *Adaptado de Schaufeli e Bakker (2009, p. 30).

 

 

Após a verificação da distribuição dos scores em percentagens, efetuou-se uma análise aos indicadores estatísticos da média, desvio e erro padrão dos scores normativos para as três dimensões. Também aqui não se verificaram discrepâncias expressivas entre os valores da UWES-17 e da UWES-17 no presente estudo (Tabela 10). Destaca-se, no entanto, os valores da média da UWES-17 no presente estudo ligeiramente superiores. Contudo, estes não comprometem a adequação das características psicométricas da escala aplicada.

 

 

 

TABELA 10

Scores Normativos para o UWES-17 e a UWES-17 no Presente Estudo

 

 

 

UWES-17

(N = 2 313) *

 

UWES-17 no presente estudo

(N = 1 369)

 

 

 

Vigor

Dedicação

Absorção

Score Total

Vigor

Dedicação

Absorção

Score Total

 

 

Média

3,99

3,81

3,56

3,82

 

4,60

4,72

4,51

4,65

 

 

Desvio padrão

1,11

1,31

1,18

1,10

 

1,31

1,38

1,29

1,28

 

 

Erro padrão

0,01

0,01

0,01

0,01

 

0,04

0,04

0,03

0,03

 

 

Nota. *Adaptado de Schaufeli e Bakker (2009, p. 32).

 

 

Para a fixação de normas estatísticas standard para a UWES-17, os autores (Schaufeli & Bakker, 2009) elencaram um conjunto de cinco categorias: “muito baixo”, “baixo”, “médio”, “alto” e “muito alto”. A Tabela 11 mostra a definição e atribuição de intervalos para estas cinco categorias. Esta classificação foi motivada, entre outras características psicométricas, pela distribuição dos itens e considerando a preocupação com a mensuração do erro padrão.

 

 

 

TABELA 11

Categorização dos Scores da UWES-17

 

 

 

UWES-17

(N = 2313)

 

 

Vigor

Dedicação

Absorção

Score Total

 

 

Muito Baixo

≤ 2,17

≤ 1,60

≤ 1,60

≤ 1,93

 

 

Baixo

2,18 – 3,20

1,61 – 3,00

1,61 – 2,75

1,94 – 3,06

 

 

Médio

3,21 – 4,80

3,01 – 4,90

2,76 – 4,40

3,07 – 4,66

 

 

Alto

4,81 – 5,65

4,91 – 5,79

4,41 – 5,35

4,67 – 5,53

 

 

Muito Alto

≥ 5,61

≥ 5,80

≥ 5,36

≥ 5,54

 

 

Nota. *Adaptado de Schaufeli e Bakker (2009, p. 32).

 

 

Tendo por base os valores de referência fixados podemos afirmar que o score das variáveis “vigor” e “dedicação” da UWES-17 no presente estudo, assim como o seu score total, apresentam valores médios de 4,60, 4,72 e 4,65 respetivamente, integrando-se na categorização “médio”. Destaca-se, no entanto, que a classificação da variável “absorção” é “alta” na medida em que o seu score apresenta o valor médio de 4,51. A análise realizada aos scores vem, também, validar os anteriores testes, permitindo garantir que a UWES-17 apresenta características psicométricas consideradas muito boas em comparação com a UWES-17, pelo que se revela um instrumento adequado para aferir o nível de engagement dos assistentes sociais em Portugal.

No intuito de analisar as relações estabelecidas entre as dimensões da UWES, recorremos ao cálculo dos coeficientes de correlação de Pearson, cujos valores encontrados expressos na Tabela 12 denotam uma associação significativamente positiva, na medida em que as correlações entre as dimensões apresentam-se dentro dos intervalos estabelecidos pelos autores (Salanova et al., 2000; Schaufeli et al., 2002; Schaufeli, Martinez, Marques Pinto, Salanova, & Bakker, 2002).

 

 

 

TABELA 12

Coeficientes de Correlação de Pearson da UWES-17 e UWES-17 Aplicado a Assistentes Sociais Portugueses

 

 

 

UWES-17

(N = 12 631) *

UWES-17 no presente estudo

(N = 1 369)

 

 

Total

Média

Intervalo

Total

 

 

Vigor - Dedicação

0,93

0,94

0,82 – 0,99

0,86**

 

 

Dedicação - Absorção

0,85

0,91

0,75 – 0,94

0,81**

 

 

Vigor - Absorção

0,86

0,90

0,73 – 0,99

0,83**

 

 

Nota. *Adaptado de Schaufeli e Bakker (2009, p. 24). **p < 0,01.

 

 

Dado que estatisticamente as correlações são significativas quando p < 0,01, afere-se que as três dimensões da UWES-17 no nosso estudo estão intimamente correlacionadas entre si. A correlação mais elevada observa-se entre o “vigor” e a “dedicação” (0,86) e a mais baixa entre a “dedicação” e a “absorção” (0,81). A alta correlação entre as três dimensões (Tabela 10) e os valores adequados do Alfa de Cronbach, tanto para o total da escala como para as dimensões “vigor”, “dedicação” e “absorção” (Tabela 7) da UWES-17 no presente estudo.

 

TOP

DISCUSSÃO

Este estudo realizou-se com o objetivo de avaliar os itens e as respetivas dimensões da Utrecht Work Engagement Scale (UWES-17) de Schaufeli e Bakker (2009), aplicada a assistentes sociais a exercerem funções em Portugal. Para tal foram analisados e comparados os valores do Alfa de Cronbach, média, erro e desvio padrão, bem como a distribuição e classificação dos scores da UWES-17 aplicada a assistentes sociais com a UWES-17. Relativamente ao Alfa de Cronbach (UWES-17 = 0,93; UWES-17 no presente estudo = 0,952) verificou-se que o instrumento tem um elevado grau de fiabilidade. Quer as dimensões, quer os 17 itens que compõem a escala detêm uma consistência interna classificada como muito boa, de acordo com diferentes autores (Davis, 1964; Kaplan & Saccuzzo, 1982; Murphy & Davidsholder, 1988; Nunnally, 1978). Quando analisadas os resultados das médias, erros e desvios padrão da UWES-17 do presente estudo e comparados com os da UWES-17, não foram identificados valores discrepantes significativos. No que respeita à análise dos scores, também não foram identificadas discordâncias entre os dados obtidos na UWES-17 e na UWES-17 no presente estudo. Os scores das variáveis “vigor” e “dedicação”, assim como do score total, apresentam valores dentro da média. O score da variável “absorção” classifica-se como elevado.

A análise fatorial exploratória confirmou o número de dimensões do estudo original, mas apresentou resultados diferentes no agrupamento dos itens de cada dimensão. Parafraseando Siegert et al. (1987), não podemos deixar de referir que a distribuição dos itens pelas dimensões pode variar consoante as populações. Mais, uma vez que todos os itens avaliam o engagement, pode acontecer alguma interpenetração entre os diferentes domínios. Talvez esta diferença também possa estar relacionada com os conteúdos dos itens. Por exemplo, o item 12 (“Sou capaz de ficar a trabalhar por períodos de tempo muito longos”), segundo os autores da escala pertence à dimensão vigor, no entanto, no nosso estudo, surge juntamente com dois itens da dimensão absorção, que parecem ter ligação de conteúdo (Item 14 – “Deixo-me ir quando estou a trabalhar” e Item 16 – “É-me difícil desligar do meu trabalho”). É ainda de referir, que segundo o Manual UWES (Schaufeli & Bakker, 2009) a alta correlação entre as três dimensões pode levar a que se considere um modelo unidimensional para esta escala. Aliás, tal como é possível confirmar no presente estudo as três dimensões da UWES-17 estão intimamente correlacionadas entre si.

Após o apuramento das suas características psicométricas afirma-se que a UWES-17 aplicada a assistentes sociais pode ser considerada um instrumento válido de medição do nível do engagement dos assistentes sociais a exercerem funções em Portugal.

Espera-se que a adaptação e validação desta escala possa estimular não só o interesse pela teorização acerca do envolvimento no trabalho, como também servir de ferramenta para a promoção do comportamento organizacional positivo e da prevenção do burnout no campo da intervenção social.

 

Conflito de interesses: nenhum.

Fontes de financiamento: nenhuma.

 

 

 

 

TOP

REFERÊNCIAS

 

 

Abdallah, T. (2009). Prevalence and predictors of burnout among palestinian social workers. International Social Work, 52(2), 223-233. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Angst, R., Benevides-Pereira, A., & Porto-Martins, P. (2009). UWES manual - português BR [UWES manual - portuguese BR]. Rio de Janeiro: GEPEB - Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Estresse e Burnout. [Google Scholar]

 

Bakker, A. B., Schaufeli, W. B., Leiter, M. P., & Taris, T. W. (2008). Work engagement: An emerging concept in occupational health psychology. Work & Stress, 22(3), 187-200. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Branco, F. (2009). A profissão de assistente social em Portugal [The social work profession in Portugal]. Locus SOCI@L, 3, 61-89.  [Google Scholar]  [Url]

 

Carrera, J. (2011). Stress e burnout: Um estudo de caso de assistentes sociais que trabalham com idosos em IPSS’s [Stress and burnout: A case study of social workers working with elderly people at Private Institutions of Social Solidarity] (Master´s thesis, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas).  [Google Scholar] [Handle]

 

Collins, S. (2008). Statutory social workers: Stress, job satisfaction, coping, social support and individual differences. British Journal of Social Work, 38(6), 1173-1193. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Costello, A. B., & Osbourne, J. W. (2005). Best practices in exploratory factor analysis: Four recommendations for getting the most from your analysis. Practical Assessment, Research and Evaluation, 10(7), 1-9.  [Google Scholar]  [Url]

 

Csikszentmihalyi, M. (1990). Flow: The psychology of optimal experience. New York, NY: Harper and Row. [Google Scholar]

 

Davies, R. L. (1998). Stress in social work. London: Jessica Kingsley Publishers. [Google Scholar]

 

Davis, F. B. (1964). Educational measurements and their interpretation. Belmont, CA: Wadsworth Publishing Co. [Google Scholar]

 

Demerouti, E., Bakker, A. B., Jonge, J., Janssen, P. P. M., & Schaufeli, W. B. (2001). Burnout and engagement at work as a function of demands and control. Scandinavian Journal of Work, Environment & Health, 27(4), 279-286. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Durán, M. A., Extremera, N. E., & Rey, L. (2005). Burnout y engagement en el marco de la experiencia piloto para la adaptación a los créditos europeos [Institutions Burnout and engagement in the framework of the pilot experience for the adaptation to the European credits of Social Solidarity]. In J. R. Martínez & R. G. Mira (Eds.), Psicología social y problemas sociales (Vol. 4., pp. 741-749). Madrid: Biblioteca Nueva. [Google Scholar]

 

Extremera, N., Durán, M., & Rey, L. (2005). La inteligencia emocional percibida y su influencia sobre la satisfacción vital, la felicidad subjetiva y el "engagement" en trabajadores de centros para personas con discapacidad intelectual [Perceived emotional intelligence and its influence on life satisfaction, subjective happiness and "engagement" in workers of centers for people with intellectual disabilities]. Ansiedad y Estrés, 11(1), 63-73.  [Google Scholar]  [ResearchGate]

 

Fong, T. C., & Ng, S. (2012). Measuring engagement at work: Validation of the chinese version of the Utrecht Work Engagement Scale. International Journal of Behavioral Medicine, 19(3), 391-397. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Galán, A. A., & Fernández, G. L. (2009) Inteligencia emocional y burnout en profesionales de la intervención social y comunitaria [Emotional intelligence and burnout in professionals of social and community intervention]. In P. F. Berrocal (Ed.), Avances en el estudio de la inteligencia emocional (pp. 173-178). Málaga: Fundación Marcelino Botín. [Google Scholar]

 

Hamama, L. (2012). Burnout in social workers treating children as related to demographic characteristics, work environment, and social support. Social Work Research, 36(2), 113-125. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Kahn, W. A. (1990). Psychological conditions of personal engagement and disengagement at work. The Academy of Management Journal, 33(4), 692-724. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Kaplan, R. M., & Saccuzzo, D. P. (1982). Psychological testing: Principles, applications and issues. Monterey, California: Brooks/Cole Publishing Company. [Google Scholar]

 

Kim, H., Ji, J., & Kao, D. (2011). Burnout and physical health among social workers: A three-year longitudinal study. Social Work, 56(3), 258-268. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Lloyd, C., King, R., & Chenoweth, L. (2002). Social work, stress and burnout: A review. Journal of Mental Health, 11(3), 255-265. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Lonne, R. L. (2003). Social workers and human service practitioners. In M. F. Dollard, A. H. Winefield, & H. R. Winefield (Eds.), Occupational stress in the service professions (pp. 281-310). London: Taylor and Francis.  [Google Scholar]  [Url]

 

Malheiro, J. (2010). A satisfação laboral e a confiança organizacional em três empresas de tecnologias da informação: Um estudo exploratório [Job satisfaction and organizational confidence in three information technology companies: An exploratory study]. In E. Vaz & V. Meirinhos (Eds.), Recursos Humanos: Das teorias às boas práticas. Porto: Editorial Novembro. 

 

Martínez, I. M. M., & Salanova, M. (2003). Niveles de burnout y engagement en estudiantes universitarios: Relación con el desempeño y desarrollo profesional [Levels of burnout and engagement in university students: Relationship with performance and professional development]. Revista de Educación, 2003(330), 361-384.  [Google Scholar]  [Url]

 

Martins, J. (2013). Validação da Versão Portuguesa do Questionário Utrecht Work Engagement para medir o engagement no trabalho nos profissionais dos cuidados de saúde primários [Validation of the Portuguese version of the Utrecht Work Engagement Questionnaire to measure work engagement in primary care professionals] (Unpublished master’s thesis). ISCTE, Lisboa. [Google Scholar]

 

Maslach, C., & Leiter, M. P. (1997). The truth about burnout: How organizations cause personal stress and what to do about it. San Francisco, CA: Jossey-Bass. [Google Scholar]

 

Montgomery, A. J., Peeters, M. C. W., Schaufeli, W. B., & Ouden, M. D. (2003). Work-home interference among newspaper managers: Its relationship with Burnout and engagement. Anxiety, Stress & Coping, 16(2), 195-211. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Murphy, K. R., & Davidsholder, C. O. (1988). Psychological testing: Principles and applications. Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice Hall. [Google Scholar]

 

Nunnally, J. C. (1978). Psychometric theory. New York, NY: McGraw-Hill. [Google Scholar]

 

Pestana, M. H., & Gageiro, J. N. (2000). Análise de dados para ciências sociais [Data analysis for the social sciences]. Lisboa: Edições Sílabo. [Google Scholar]

 

Peterson, R. A. (1994). A meta-analysis of Cronbach's coefficient alpha. Journal of Consumer Research, 21(2), 381-391. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Ramiro, B. (2014). Una aproximación a la influencia de la inteligencia emocional percibida en su relación con los niveles de burnout y engagement en el desempeño del trabajo social [An approach to the influence of emotional intelligence perceived in its relationship with the levels of burnout and engagement in the performance of social work]. Revista Internacional de Trabajo Social y Bienestar, 3, 123-131.  [Google Scholar]  [Url]

 

Salanova, M., Brescó, E., & Schaufeli, W. B. (2005). Hacia un modelo espiral de las creencias de eficacia en el estudio del burnout y del engagement [Towards a spiral model of efficacy beliefs in the study of burnout and engagement]. Ansiedad y Estrés, 11(2-3), 215-231.  [Google Scholar]  [Url]

 

Salanova, M., Carrero, V., Pinanzo, D., & Schaufeli, W. B. (2003). Job characteristics and proactive behaviour: The mediating role of job engagement. Journal of Occupational and Organizational Psychology, 17, 199-210. [Google Scholar]

 

Salanova, M., Grau, R., Llorens, S., & Schaufeli, W. B. (2001). Exposición a las tecnologías de la información, burnout y engagement: El rol modulador de la autoeficacia profesional [Exposure to information technologies, burnout and engagement: The modulating role of professional self-efficacy]. Revista de Psicología Social Aplicada, 11(1), 69-89.  [Google Scholar]  [Url]

 

Salanova, M., Schaufeli, W. B., Llorens, S., Peiró, J. M., & Grau, R. (2000). Desde el "burnout" al "engagement": Una nueva perspectiva [From "burnout" to "engagement": A new perspective]. Revista de Psicología del Trabajo y de las Organizaciones, 16(2), 117-134.  [Google Scholar]  [Url]

 

Sarmento, M. (2008). Guia prático sobre a metodologia científica para a elaboração, escrita e apresentação de teses de doutoramento, dissertações de mestrado e trabalhos de investigação aplicada [Practical guide on the scientific methodology for the preparation, writing and presentation of doctoral theses master's dissertations and applied research works] (2nd ed.). Lisboa: Universidade Lusíada Editora. [Google Scholar]

 

Schaufeli, W. B., & Bakker, A. (2003). UWES - Utrecht work engagement scale. Utrecht: Utrecht University - Occupational Health Psychology Unit.  [Google Scholar]  [Url]

 

Schaufeli, W. B., & Bakker, A. B. (2004). Job demands, job resources, and their relationship with burnout and engagement: A multi-sample study. Journal of Organizational Behavior, 25(3), 293-315. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Schaufeli, W. B., & Bakker, A. (2009). UWES - Escala de Engagement no Trabalho de Utrecht [Utrecht work engagement scale]. Maringá: GEPEB - Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Estresse e Burnout.  [Google Scholar]  [Url]

 

Schaufeli, W. B., Martinez, I. M., Pinto, A. M., Salanova, M., & Bakker, A. B. (2002). Burnout and engagement in university students: A cross national study. Journal of Cross-Cultural Psychology, 33(5), 464-481. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Schaufeli, W. B., Salanova, M., Gonzalez-Romá, V., & Bakker, A. B. (2002). The measurement of engagement and burnout and: A two sample confirmatory factor analytic approach. Journal of Happiness Studies, 3(1), 71-92. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Siegert, R. J., McCormick, I. A., Taylor, A. J. W., & Walkey, F. H. (1987). An examination of reported factor structures of the General Health Questionnaire and the identification of a stable replicable structure. Australian Journal of Psychology, 39(1), 89-100. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

Takeda, F., Yokoyama, E., Miyake, T., & Ohida, T. (2002). Mental health and job factors in social workers at social welfare offices. Journal Occupational Health, 44(6), 385-390. [Google Scholar]  [CrossRef]

 

 

 

 



PhD. Elaboração de análise estatística. Centro de Administração e Políticas Públicas, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Portugal.

PhD St. Elaboração do trabalho. Centro de Investigação e Estudos em Sociologia, ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, Portugal.

PhD St. Elaboração do trabalho. Centro Lusíada de Investigação em Serviço Social e Intervenção Social, Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa, Universidade Lusíada Lisboa, Portugal.

PhD. Contribuiu significativamente para a revisão e discussão do trabalho. Universidade Lusófona do Porto, Portugal.

[1] O conceito de engagement é relativamente recente. É da autoria de Kahn que, em 1990, o cunhou no artigo Psychological conditions of personal engagement and disengagement at work. Até o momento ainda não existe, em português, um termo que abranja a natureza do conceito e que permita traduzi-lo de forma clara. Por isso, uma aproximação possível seria “envolvimento”.

[2] Atualmente, existe, também uma versão de UWES- 15 e UWES-9 itens.

[3] Recorremos à utilização do símbolo “@” na aplicação da UWES-17 (passando, por exemplo, a afirmação: “No meu trabalho sinto-me cheio de energia” a estar constituída como “No meu trabalho sinto-me chei@ de energia”) a fim de garantir uma linguagem inclusiva que contemplasse não só as categorias de homem / mulher como as restantes que integram o espectro não-binário.

[4] Nomeadamente, ao nível da licenciatura em serviço social/política social, a exercerem funções em Portugal.

[5] A consistência interna representa a média das correlações entre todas as questões do questionário.

[6] Embora os dados fossem apenas uma estimativa realizada no ano de 2009, estes eram, até ao momento, os únicos existentes a nível nacional.

[7] “O KMO perto de 1 indica coeficientes de correlação parciais pequenos, enquanto que valores próximos de zero indica que a análise fatorial pode não ser uma boa ideia, porque existe uma correlação fraca entre as variáveis” (Pestana & Gageiro, 2000, p. 397). O KMO compara as correlações simples com as correlações parciais observadas entre as mesmas. Os valores de KMO podem variar de 0 a 1, sendo que a partir de 0,7, se considera aceitável o valor para analise fatorial; de 0,5 a 0,7 é considerado aceitável; de 0,7 a 0,8 é considerado bom; de 0,8 a 0,9 é ótimo; e acima de 0,9 é considerado soberbo (Malheiro, 2010).

[8] Neste teste, sempre que o valor do Qui-quadrado é significativo (< 0,001), as correlações entre as variáveis são adequadas para a análise fatorial.  Este “testa a hipótese de a matriz das correlações ser a matriz de identidade, cujo determinante é igual a 1.” (Pestana & Gageiro, 2000, p. 251). 

[9] Schaufeli e Bakker (2009, p. 30) definiram os scores normativos de acordo com valores: de 0 a 0,99 (1 – “algumas vezes por ano”); de 1 a 1,99 (2 – “uma vez ou menos por mês”); de 2 a 2,99 (3 – “algumas vezes por mês”); de 3 a 3,99 (4 – “uma vez por semana”); de 4 a 4,99 (5 – “algumas vezes por semana”); e de 5 a 6 (6 – “todos os dias”).