2018, Vol. 4(1): 22-33
Avaliação
de fatores de risco psicossociais: estudo com docentes do ensino superior
Artigo Original
Sara Lopes Borges ⓘ ✉, Cristina Santos ⓘ, António
Saraiva ⓘ, Margarida Tenente Pocinho ⓘ
https://doi.org/10.7342/ismt.rpics.2018.4.1.54
Recebido 06 junho 2017
Aceite 26 fevereiro 2018
Objetivos: Os fatores
psicossociais, enquanto características relacionadas com condições e
organização do trabalho, interferem na saúde dos trabalhadores, e os riscos
psicossociais emergem da interação entre colaboradores e condições de vida e de
trabalho. O objetivo do estudo foi avaliar os fatores de riscos psicossociais
em docentes do ensino superior de modo a perceber o exercício da docência
enquanto profissão de risco em termos de esgotamento físico e mental, dada a
sua contínua exposição a situações risco psicossocial.
Método: O estudo
contou com a administração de dois instrumentos, um de caracterização da
amostra e o outro para avaliar fatores de risco psicossociais — a versão
portuguesa do Copenhagen Psychosocial
Questionnaire — constituído por 76 itens (escala tipo Likert de 5 pontos),
distribuídos por cinco dimensões, que medem indicadores de exposição a riscos
psicossociais e os seus efeitos.
Resultados: No estudo
participaram 59 docentes, a maioria homens (50,8%), com idade entre os 41 e os
50 anos (45,8%), mestres (59%), professores adjuntos (47,5%), com vínculo
laboral estável (68%) e a lecionar entre 11 e 17 horas semanais (64,4%). A
análise das várias subescalas revelou risco psicossocial, mostrando que os
docentes se encontravam em situação de vulnerabilidade. Existiram diferenças
significativas entre os riscos vivenciados no ensino superior público e os
experimentados no ensino superior privado. O sexo, idade, formação académica e
categoria profissional influenciaram o tipo de risco psicossocial.
Conclusões: Confirma-se
a importância da avaliação dos fatores de risco psicossociais no exercício da
profissão docente no ensino superior. Reconhece-se como necessária a avaliação
e gestão dos riscos psicossociais de forma a promover condições de trabalho
saudáveis, garantir respeito e tratamento justo, bem como incentivar a promoção
da conciliação da vida profissional e familiar, de modo a minimizar riscos
psicossociais e situações de vulnerabilidade em docentes do ensino superior.
Palavras chave:
Docentes de ensino superior · Fatores de risco psicossocial
O trabalho desempenha um papel central na vida do ser humano, é fonte de
sobrevivência, recompensa profissional e enriquecimento material na medida em
que é a partir dele que se retira a remuneração e as recompensas, a sensação de
utilidade, valorização pessoal e reconhecimento social. O trabalho adquire uma
importância cada vez maior. Por intermédio do trabalho, o indivíduo é inserido
numa organização, passa a compartilhar crenças, valores, hábitos, entre outros.
Ocupa grande parte do dia a par de aspetos como a família e o lazer, deixa de
ser unicamente um meio de sobrevivência ou um ganho económico, para se assumir
como um meio de realização. A sua inexistência propícia a criação de um trajeto
de fragilização que promove a agudização em escalada de comportamentos como
perda de autoestima, dificuldades relacionais, desgaste, frustração, ansiedade,
depressão, perturbações do sono, violência, abuso de medicação e de substâncias
ilegais (Kilimnik, Neto, Santos, Malta, & Santos, 2015; Rodrigues, 1995).
Se, por um lado, o trabalho se assume como um fator de inclusão que
previne o aparecimento de situações de risco psicossocial promovendo um estilo
de vida saudável por outro lado, há aspetos, dos quais salientamos os
relacionados com variáveis de contexto organizacional, que são propiciadores
para um possível adoecimento físico e mental.
A União Europeia (European Commission, 2000)
destacou como prioritário o estudo dos fatores psicossociais associados ao local
de trabalho bem como as consequências que acarretam nos colaboradores, empresas
e sociedade (Lluís, Serrano, Corominas, Camps, & Giné,
2008).
Por fatores psicossociais entendem-se as características relacionadas com
as condições de trabalho que afetam a saúde dos indivíduos, através de
processos psicológicos e fisiológicos; estes resultam da interação entre os
indivíduos e as condições de vida e trabalho. A literatura disponível permite
sustentar a ideia que as condições de trabalho, as novas exigências em torno do
exercício profissional e as mudanças nas organizações, em virtude de vários
constrangimentos económicos, políticos e sociais, são fatores de risco ao qual
não fica isenta a profissão docente como refere Silva et al. (2006).
Borges (2012) defende que nos docentes do
ensino superior em Portugal, as mudanças decorrentes do processo de Bolonha,
recessão económico-social, diminuição exponencial do número de alunos,
sustentabilidade da autonomia das universidades, qualidade do ensino superior
são, entre outros, fatores desencadeadores para o aparecimento de situações de
mal-estar, insatisfação, stress e
desgaste emocional. Este cenário provoca um impacto negativo na qualidade do
ambiente psicossocial do trabalho pelo que é imperiosa uma reflexão sobre o
atual panorama do ensino superior.
O exercício da profissão docente caracteriza-se por vários seguintes
aspetos. Alguns desses aspetos incluem:
“…diversidade das
tarefas, interação com os alunos, preparação e implementação de novos métodos
de ensino e de tópicos não utilizados anteriormente, oportunidade de organizar
o trabalho à sua maneira na sala de aula, imprevisibilidade do quotidiano,
processo de encontrar soluções para os problemas, investigação sobre os temas a
ensinar, preparação das aulas, novos desafios e o trabalho com os colegas” (Jesus, 2002, p. 223).
Outros aspetos incluem ainda, reconhecimento
que alguns alunos e encarregados de educação revelam do trabalho do professor,
interesse manifestado pelos alunos durante as aulas, participação em projetos
de investigação com os colegas e oportunidades para atualização e aprendizagem
através da participação em congressos e ações de formação (Capelo
& Calaça, 2016; Costa
& Santos, 2013; Ferreira, Machado, &
Gouveia, 2012; Figueiroa & Moreira, 2014;
Formosinho, 2001).
Nas últimas décadas temos assistido por um
lado, à desvalorização do papel do docente e, por outro, a um aumento da
exigência social sobre esse mesmo papel no processo educativo (Cardoso, Tavares, & Sin, 2015; Heitor
& Horta, 2015; Jesus et al., 2011). Deste
modo, são notórias as referências a respeito do mal-estar símbolo do sinal de
declínio na área docente como também, a revelação de que as situações de doença
são cada vez mais frequentes e ocorrem com maior intensidade entre a classe
docente do que noutros grupos profissionais (Jesus et al.,
2011). Reconhece-se que a degradação da condição docente, em termos de
remunerações e condições de trabalho em comparação com outras profissões, são
fatores que contribuem para um aumento da diminuição do interesse pela
profissão, sendo que os professores portugueses apresentam índices de mal-estar
superiores aos verificados com professores de outros países europeus, bem como
um elevado índice de stress
profissional, uma motivação não muito alta e uma maior insatisfação
profissional (Jesus et al., 2011; Machado-Taylor et al.,
2016).
Esta panorâmica permite-nos compreender o
motivo pelo qual o relatório da Organização Internacional do Trabalho (1981) considerou a docência como uma profissão de risco
em termos de esgotamento físico e mental dada a exposição exaustiva a condições
negativas que promovem o stress (tamanho das turmas, ritmos diferentes
de aprendizagem dos alunos, horários pouco adequados, falta de condições de
trabalho, desvalorização entre os pares e os superiores, pressão para cumprir o
programa, ausência de tempo para investir na formação, falta de realização
profissional). As condições de exercício da docência estão sujeitas a
interferências, como a natureza do trabalho, recompensas pessoais e condições
de trabalho de diferente natureza que potenciam desgaste físico e psíquico.
Para Borges (2012)
a natureza do trabalho e as recompensas pessoais estão relacionadas
respetivamente, com o facto do docente considerar o seu trabalho interessante e
significativo pelo que o realiza com satisfação e com aspetos como o salário,
progressão na carreira, reconhecimento, relações interpessoais, relação com os
colegas e com os órgãos de gestão que influenciam o comprometimento dos
docentes. As condições ambientais dizem respeito às condições gerais de
conforto físico (temperatura, luz, higiene) que facilitam a execução das
funções (condições de segurança, equipamentos de trabalho, localização das
instalações). As condições temporais reportam-se à necessidade de delimitar e
regular a duração dos períodos de trabalho considerados importantes para a
saúde, segurança e preservação da qualidade de vida. As condições de exigência
e esforço do trabalho relacionam-se com o esforço físico e/ou mental que a execução
da função exige e as condições sociais
e organizacionais incluem aspetos como clima organizacional, relações
interpessoais, participação nas decisões, circulação da informação,
expectativas sociais sobre o trabalho, insuficiência de espaços, desadequação
dos equipamentos, inadequação do número de alunos à dimensão da sala, falta de
funcionários administrativos, pouco tempo para a investigação, publicação e
formação, número elevado de horas de trabalho (tempo de exercício efetivo,
tempo de preparação de aulas e correção de testes e exames), horas para
reuniões, acompanhamento e atendimento aos alunos que interferem no desempenho
docente.
A literatura científica (Bustos,
2005; Correia, 1997; Costa & Santos, 2013; Delgado
et al., 1993; Dunham, 2002; Esteve,
1992; Gasparini, Barreto, & Assunção, 2005; Gomes, 2014; Jacques, 2003; Kyriacou &
Sutcliffe, 1979; Lima & Lima-Filho, 2009; Martinez, 1989; Mercado, 1987 tal como citado em Jesus, 1996; Olivas & Martínez, 2010;
Pessoa, 2015; Silva et al., 2016; Vilela, Garcia, & Vieira, 2013) revela
que as situações de doença ou mal-estar são cada vez mais frequentes e ocorrem
com maior intensidade entre a classe docente do que noutros grupos
profissionais em termos psicossomáticos, comportamentais, emocionais e
motivacionais. A nível psicossomático (fadiga, frustração, perturbações do
sono, agressividade, irritabilidade, problemas digestivos e cardiovasculares,
ansiedade, perturbações neuróticas e depressivas hipertensão arterial,
frequentes dores de cabeça, perda de peso, insónias, úlceras ou desordens
intestinais bem como menor resistência às infeções); a nível comportamental
(postura conflituosa, abuso de álcool ou drogas, apatia e falta de
empenhamento, insegurança); a nível cognitivo (intuição da autoestima e
dificuldade na tomada de decisão); a nível emocional (distanciamento afetivo,
impaciência, irritabilidade, frustração, apatia) e finalmente, a nível
motivacional (perda de idealismo, diminuição do envolvimento e capacidade de
iniciativa). Estes sintomas descritos estão associados a situações de trabalho
extremamente exigentes no âmbito da profissão docente.
O panorama esboçado interfere na forma como
o docente analisa as questões relacionadas com a saúde e a doença, tal como
verificou Mendes (1996) ao analisar as representações de
um grupo de professores da Universidade de Évora. Foi possível concluir que nos
docentes prevalece uma imagem de saúde construída e estruturada a partir da
doença e do tempo. A doença delimita todo o processo de valorização da saúde e
é o tempo que organiza e orienta todas as decisões que os docentes têm que
tomar sobre a saúde e a doença. Num quotidiano preenchido por projetos
profissionais, é o tempo de que não dispõem e o tempo que sonham vir um dia a
poder dispor, que pressiona a sua agenda. Para os docentes do ensino superior é
a espera temporal que medeia todo o processo de tomada de decisões sobre a
doença e é o tempo (a falta dele) que os leva a não se preocuparem com a saúde,
a não ser quando já não a têm pelo que a sua relação com o tempo é
eminentemente social quando se trata de representar a saúde e a doença (Borges, 2012).
Borges (2012)
defende que os docentes, com o exercício das múltiplas funções que lhes estão
atribuídas, ficam numa situação de vulnerabilidade o que os impede de dar uma
adequada e eficaz resposta ao que lhes é solicitado.
Perante o exposto é notório o interesse em
abordar os fatores psicossociais que, enquanto características relacionadas com
condições e organização do trabalho, interferem na saúde dos trabalhadores, e
os riscos psicossociais que surgem da interação entre colaboradores e condições
de vida e de trabalho.
Deste modo, o objetivo do estudo é avaliar
os fatores de riscos psicossociais em docentes do ensino superior de modo a
perceber o exercício da docência enquanto profissão de risco em termos de
esgotamento físico e mental.
Procedimentos
Foram cumpridos todos os princípios éticos inerentes a um estudo desta
natureza pelo que solicitámos as respetivas autorizações aos autores do COPSOQ
e ao Conselho Diretivo dos dois estabelecimentos de ensino como também,
cumprimos todos os requisitos relacionados com a proteção dos dados.
Neste sentido, os docentes receberam por correio eletrónico informação
sobre os objetivos do estudo, indicação de que a participação teria um carácter
voluntário e anónimo e que os instrumentos estariam disponíveis online através
da aplicação Google Docs de
27/04/2014 a 31/05/2014.
Aplicou-se o teorema do limite central inferindo a normalidade de sua
distribuição em amostras com mais de 30 casos, uma vez que este teorema afirma
que quando o tamanho de uma amostra aumenta, a distribuição amostral da sua
média aproxima-se cada vez mais de uma distribuição normal (Altman
& Bland, 1995).
Os dados obtidos foram tratados no programa IBM SPSS Statistics, versão
22, sendo que para os sistematizar utilizámos técnicas de estatística
descritiva (média, desvio padrão), correlacional (qui-quadrado entre variáveis
qualitativas em que pelo menos uma delas era nominal, e correlação de Spearman
quando uma das variáveis em análise era ordinal e a outra quantitativa) e
inferencial (teste t de Student e
ANOVA para observar diferenças entre dois ou mais grupos respetivamente).
Analisámos ainda a consistência interna do instrumento tendo obtido um alfa de Cronbach de 0,824 o que
atesta a consistência do COPSOQ (Peterson, 1994).
O nível do alfa adotado para a significância foi de 0,05.
Amostra
Pretendeu-se avaliar fatores de risco psicossociais associados ao
contexto de trabalho em docentes do ensino superior de dois estabelecimentos de
ensino superior de Coimbra: a Escola Superior de Tecnologias da Saúde de
Coimbra (ESTeSC) do ensino superior politécnico público e o Instituto Superior
Miguel Torga (ISMT) do ensino superior universitário privado.
O estudo realizado foi de cariz descritivo, natureza transversal, tendo
sido constituída uma amostra por conveniência e não probabilística.
A população incluiu todos os docentes em exercício de funções no ano
letivo de 2013/2014 dos dois estabelecimentos de ensino superior, sendo que
foram considerados elegíveis para participar 144 docentes (51 docentes da
ESTeSC e 93 do ISMT). Participaram 59 docentes (36 da ESTeSC e 23 do ISMT), o
que permite constatar que o nível de adesão foi de 40,9%.
Instrumentos
Para a recolha dos dados foram administrados dois instrumentos: um para a
caracterização da amostra e outro para avaliar os fatores de risco
psicossociais, o Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ).
O COPSOQ foi desenvolvido e validado, originalmente, por Kristensene Borg
(2000), e traduzido e adaptado para a população
portuguesa por Silva et al. (2006).
O COPSOQ é um questionário que avalia a exposição do trabalhador a
fatores de risco para a saúde, de cariz psicossocial, bem como pretende
identificar riscos psicossociais que permitam delinear um plano de prevenção e
intervenção em contexto organizacional.
A versão portuguesa está disponível em três versões (curta, média e
longa) sendo que a versão média, utilizada no estudo, assume-se como a
ferramenta mais adequada não só por apresentar uma identificação mais completa
de dimensões psicossociais, mas por ser a versão mais utilizada em estudos
internacionais.
Este instrumento, constituído por 76 itens e uma escala de Likert de cinco pontos (1-
Nunca/quase nunca, 2- Raramente, 3 – Às vezes, 4 – Frequentemente e 5- Sempre),
mede indicadores de exposição (riscos psicossociais) e indicadores do seu
efeito (saúde, satisfação e stress),
tendo em conta cinco dimensões: Exigências Laborais, Organização do Trabalho e Conteúdo,
Relações Sociais e de Liderança, Interface Trabalho-Individuo e Valores
no Local de Trabalho.
Relativamente à amostra considerou-se as
variáveis: sexo, grupo etário, estado civil, filhos e número de filhos, grau
académico, categoria profissional, horas lecionadas por semana, vínculo e tempo
de serviço na instituição.
Na Tabela 1 podemos
verificar que a distribuição entre o número de homens e mulheres foi quase
igual sendo que o sexo masculino foi mais participativo (50,8%).
A maioria dos docentes eram casados/união de
facto (69,5%), com filhos (64,4%), na faixa etária entre os 41 e os 50 anos
(45,8 %).
Os docentes possuíam maioritariamente o grau
de mestre (59,3%) e de doutor (33,0%) e 47,5% eram professores adjuntos e 28,8%
assistentes.
Constatámos que 67,8% dos docentes tinham uma
relação jurídica de emprego estável, fosse em regime de dedicação exclusiva
(35,6%) fosse a tempo integral (32,2%).
Relativamente ao tempo de serviço, 18,7% dos
docentes tinham um vínculo à instituição entre os 14 e os 17 anos e lecionavam
entre 14 a 17 horas semanais (28,8%).
|
TABELA 1 Caraterização da Amostra (N = 59) |
|
|||
|
|
|
N |
% |
|
|
Sexo |
Feminino |
29 |
49,2 |
|
|
Masculino |
30 |
50,8 |
|
|
|
Estado Civil |
Casado(a)/União
de Facto |
41 |
69,5 |
|
|
Separado(a)/Divorciado(a) |
9 |
15,3 |
|
|
|
Solteiro |
9 |
15,3 |
|
|
|
Filhos |
Não |
20 |
33,9 |
|
|
Sim |
38 |
64,4 |
|
|
|
Não
responderam |
1 |
1,7 |
|
|
|
Nº de Filhos |
1 |
15 |
25,4 |
|
|
2 |
22 |
37,3 |
|
|
|
3 |
1 |
1,7 |
|
|
|
Não
responderam |
21 |
35,6 |
|
|
|
Faixa Etária |
20-30
anos |
3 |
5,1 |
|
|
31-40
anos |
21 |
35,6 |
|
|
|
41-50
anos |
27 |
45,8 |
|
|
|
51-60
anos |
6 |
10,2 |
|
|
|
+
60 anos |
2 |
3,4 |
|
|
|
Grau Académico |
Mestrado |
35 |
59,3 |
|
|
Doutoramento |
23 |
39,0 |
|
|
|
Pós-Doutoramento |
1 |
1,7 |
|
|
|
Categoria Profissional |
Assistente |
17 |
28,8 |
|
|
Prof.
Adjunto |
28 |
47,5 |
|
|
|
Prof.
Auxiliar |
10 |
16,9 |
|
|
|
Prof.
Coordenador |
2 |
3,4 |
|
|
|
Prof.
Associado |
2 |
3,4 |
|
|
|
Contrato de Trabalho |
Prestação
serviços (mês/hora) |
13 |
22,0 |
|
|
Tempo
integral |
19 |
32,2 |
|
|
|
Tempo
parcial |
6 |
10,2 |
|
|
|
Dedicação
exclusiva |
21 |
35,6 |
|
|
|
Anos de Serviço |
Entre
1 e 3 anos |
7 |
11,9 |
|
|
Entre
4 e 6 anos |
10 |
12,1 |
|
|
|
Entre
7 e 10 anos |
9 |
15,3 |
|
|
|
Entre
11 e 13 anos |
9 |
15,3 |
|
|
|
Entre
14 e 17 anos |
11 |
18,7 |
|
|
|
Entre 18 e 21 anos |
6 |
10,2 |
|
|
|
Mais de 22 anos |
3 |
5,1 |
|
|
|
Não responderam |
1 |
1,7 |
|
|
|
Nº de aulas lecionadas |
Entre 1 e 3 horas |
1 |
1,7 |
|
|
Entre 4 e 6 horas |
9 |
15,3 |
|
|
|
Entre 7 e 10 horas |
10 |
17,0 |
|
|
|
Entre 11 e 13 horas |
21 |
35,6 |
|
|
|
Entre 14 e 17 horas |
17 |
28,8 |
|
|
|
Mais de 18 horas |
1 |
1,7 |
|
|
|
Total |
|
59 |
100,0 |
|
|
|
|
|
|
|
Quando se avaliaram os fatores do risco psicossociais (Gráfico
1) constatou-se como mais relevantes os relacionados com a dimensão Exigências
Laborais: as subescalas Exigências Cognitivas e Exigências
Emocionais foram as que apresentam valores mais altos, isto é, potenciavam
uma exposição mais desfavorável para a saúde dos docentes em termos de riscos
psicossociais. Na dimensão Organização do Trabalho e Conteúdo, as subescalas: Possibilidade de
Desenvolvimento e Significado do Trabalho assumiram uma situação de
risco mais desfavorável para a saúde dos docentes. No que diz respeito às Relações
Sociais e Liderança, destacamos a Transparência do Papel Laboral
Desempenhado; esta dimensão revelou-se como de maior risco para os docentes
em termos psicossociais. Finalmente, na dimensão Interface-Indivíduo, a subescala Conflito
Trabalho/Família e Insegurança Laboral revelou maior
risco para a saúde.
A nível da situação intermédia que nos indica a vulnerabilidade face ao
risco, destacamos na dimensão Exigências Laborais, as Exigências Quantitativas; na Organização do
Trabalho e Conteúdo a subescala Influência no Trabalho; nas Relações
Sociais e Liderança destacamos a subescala Apoio Social dos Superiores,
Conflitos de Papéis Laborais, Previsibilidade e Apoio
Social dos Colegas.
Na dimensão Interface Trabalho-Indivíduo destacou-se a subescala Satisfação
Laboral e na dimensão Valores no Local de Trabalho a subescala Confiança
Horizontal que apresentou valores mais elevados ao nível da situação
intermédia.
Comparámos os dados a nível das subescalas com o tipo de estabelecimento
de ensino, tendo-se recorrido ao teste t de Student. Os valores apresentados pelas duas instituições de
ensino superior mostraram não existir diferenças significativas a assinalar (p > 0,05). No entanto, obtivemos
resultados estatisticamente significativos (p
< 0,05) nas subescalas Problemas em Dormir e Comportamentos Ofensivos que foram mais elevados na
instituição de ensino pública do que na privada (respetivamente, M = 2,73; DP = 1,22 e M = 1,23;
DP = 0,43).
Quanto se comparam os valores da média obtida no estudo com os valores de
referência da amostra global e a da área do ensino verificou-se que os dados
foram muito idênticos.
Destacamos as subescalas Justiça e Respeito (instituição pública: M = 2,93; DP = 0,94; instituição privada: M = 2,84; DP = 0,70; t = 0,65; p
= 0,516) e Significado de Trabalho (instituição pública: M = 4,31; DP = 0,69; instituição privada: M = 4,39; DP = 0,64; t = 0,70; p
= 0,486) que apresentaram valores mais baixos e mais altos
comparativamente aos valores de referência global (Justiça e Respeito: M = 4,34; DP = 0,79/ Significado
do Trabalho: M = 3,77; DP
= 0,67) e de ensino (Justiça e Respeito: M = 3,98; DP = 0,67;
Significado do Trabalho: M
= 3,52; DP = 0,89).
Quanto ao sexo, através do qui-quadrado
verificámos a existência de diferenças significativas (p ≤ 0,05) com o Ritmo de Trabalho
e Burnout, o que constituiu para o sexo feminino um risco para a saúde
enquanto no masculino a Previsibilidade e Recompensas foram
consideradas duas situações de risco psicossocial.
GRÁFICO 1. Risco Psicossocial dos
Docentes.
Quanto à variável idade, procedemos à correlação (coeficiente de correlação de Spearman) e na subescala Confiança
Horizontal, obtivemos uma
relação estatisticamente significativa (r = 0,288; p < 0,05). As subescalas Possibilidade
de Desenvolvimento (r
= -0,278; p < 0,05), Compromisso com o Trabalho (r = -0,277; p < 0,05) e Confiança
Horizontal (r
= -0,301; p < 0,05) revelaram-se uma situação de risco para a saúde com o aumento
da idade dos docentes.
No que reporta à
formação académica quando correlacionada
com as subescalas, o Apoio Social de Colegas (r = -0,261; p < 0,05) destacou-se como uma
situação desfavorável para a saúde dos docentes com grau académico mais
elevado.
Encontraram-se diferenças estatisticamente significativas (p < 0,05) entre os Riscos
para a saúde e a categoria profissional, sendo os professores coordenadores os
que apresentaram maiores riscos para a saúde (M = 5,00; DP =
1,00) e a Saúde dos
professores associados foi aquela que apresentou menor risco (M = 2,00; DP = 1,41). A Qualidade
da Liderança apresentou valores compatíveis com risco
estatisticamente significativo (p <
0,05) para os assistentes (M =
3,75; DP = 0,54) e para os professores associados (M = 3,88; DP = 0,88).
A correlação de Spearman entre o número de horas lecionadas e a subescala Comunidade
Social no Trabalho, revelou
uma correlação fraca (r
= -0,308) contudo estatisticamente significativa (p
< 0,05).
A correlação
entre o tempo de serviço e a subescala Exigências Quantitativas foi igualmente fraca (0,288), mas
significativa (p < 0,05).
Os riscos psicossociais associados ao exercício profissional
são compostos por um conjunto de fatores que comprometem o bem-estar físico e
mental dos profissionais em contexto de trabalho independentemente, do sexo ou
idade dos docentes.
O estudo realizado permite verificar que participaram
mais docentes do sexo masculino, com idade entre os 41 e os 50 anos, o que vai ao encontro
dos dados obtidos por Schluter e Valdéz (2001),
em que participaram 60 professores universitários (15 eram do sexo masculino e
15 do feminino de uma universidade privada e o mesmo número de uma universidade
pública), e por Marqueze e Moreno (2009), na Universidade do Extremo Sul Catarinense, em que
dos 154 docentes 50,6% eram do sexo masculino, com idade média de 39,25 anos.
Já o estudo de Carlotto e Câmara (2004) com
uma amostra de 280 professores universitários de uma Universidade de Porto
Alegre, de Araújo, Sena, Viana e Araújo (2005) na Universidade Estadual de Feira de
Santana (UEFS), de Borges (2012)
com uma amostra de 81 docentes do ensino superior português, de Pessoa (2015) com 100 docentes brasileiros de uma cidade do Estado
do Maranhão e de Bueno (2017) com 26 professores
brasileiros das Escolas Pantaneiras, a
população mais participativa foi a do sexo feminino.
A literatura científica demonstra as consequências dos
riscos psicossociais para as organizações, o que tem implicações ao nível da
saúde pública, saúde física e mental dos docentes do ensino superior.
Sendo a docência considerada como uma das atividades
que apresenta um leque de conteúdos cognitivos, efetivos e instrumentais, que
interferem na qualidade de vida/saúde, assume-se como uma atividade
profissional desgastante devido às caraterísticas do trabalho e do papel de
docente, conflitos interpessoais para além da baixa remuneração, estagnação na
carreira e inadequação da estrutura dos estabelecimentos de ensino, o que contribui para o aparecimento de cada
vez mais situações de risco psicossocial ao nível na profissão docente.
O estudo de Pessoa (2015) destaca
os vários riscos psicossociais que interferem de modo negativo na capacidade de
trabalho dos docentes como stress,
apoio social de superiores, insegurança laboral, satisfação no trabalho e
transparência no papel laboral. A autora considera que riscos psicossociais,
como a pressão no ambiente de trabalho, excessiva carga de trabalho física ou
mental e a continuidade das tarefas de trabalho que muitas vezes se estendem ao
lar e interferem nas relações familiares, influenciam a saúde mental dos
docentes e são propiciadoras de desequilíbrios.
Bueno (2017) apresenta como
principais riscos psicossociais para a saúde dos professores as exigências
quantitativas, ritmo de trabalho, falta de influência no trabalho, problemas
relacionados ao sono, extenuação, stress
psíquico, somático e cognitivo, sintomas depressivos e problemas no
relacionamento interpessoal.
A degradação da condição docente em termos de
remunerações e condições de trabalho, em comparação com outras profissões,
propiciam diminuição do interesse pela profissão, baixa motivação e uma menor
satisfação profissional, pelo que Borges (2012)
no seu estudo desenha um perfil de docentes que trabalha no “fio da navalha” a programar, preparar
aulas, avaliar, orientar, atender alunos, desempenhar tarefas administrativas,
assistir e participar em seminários e reuniões de índole diversa para além da
investigação, publicação e preocupações com prosseguimento na carreira.
Para Mendes (1996),
Franco (2001) e Minter (2009), os
docentes do ensino superior tem múltiplas missões que vão desde o ensino e
serviço à comunidade, à investigação e criação de conhecimento. No trabalho docente
há necessidade contínua de estudo e aperfeiçoamento, como também, o trabalho
não termina no fim do expediente.
De igual modo, o relevo que se dá à produção
científica em detrimento do ensino afeta a imagem que o docente tem de si, dado
que as suas eventuais promoções nunca dependerão das suas qualidades
pedagógicas, mas do destaque obtido com trabalhos de pesquisa científica, o que
como refere Mendes (1996, p. 168) “subverte a
vertente dominante da sua carreira — o ensino”.
A cada vez maior
visibilidade deste paradigma interfere com aspetos como a Satisfação no Trabalho, Justiça e Respeito, mas também com
as questões da Previsibilidade,
Insegurança Laboral e Compromisso face ao Local de Trabalho, o que vai corroborar os dados obtidos neste
estudo e na revisão da literatura (Álvarez-Flores,
2007; Carlotto & Câmara, 2004, 2017; Costa & Santos, 2013; Dipp, Flores, & Gutiérrez, 2010;
Gomes, 2014; Marqueze & Moreno, 2009;
Pessoa, 2015; Sousa & Mendonça, 2009; Vilela et al.,
2013).
No que diz respeito à Satisfação no Trabalho, esta relaciona-se com a perceção que os docentes
têm sobre as condições de exercício profissional e a utilização das suas capacidades
no desempenho. A Justiça
e Respeito demonstram a
influência que os valores, atitudes e sentimentos têm sobre o que é justo ou
injusto. Sendo os docentes uma classe profissional sensível
à justiça, é previsível que atuem em conformidade nos processos de avaliação de
desempenho, decisões de promoção, incrementos salariais e controlo das
atividades, uma vez que os docentes não têm idêntica configuração na sua
atividade porque reportam a vários superiores no plano administrativo,
científico e pedagógico.
No meio docente constata-se que a entidade que
distribui as recompensas é a mesma que distribui as tarefas, pelo que os
professores a distinguem; porém, a entidade que distribui o serviço docente não
tem correspondente controlo sobre as recompensas.
Como refere Borges (2012,
p. 50), “A distribuição do serviço
docente é feita semestre a semestre ou ano a ano, havendo muitas vezes
flutuações no modo como é desenhada periodicamente, o que não tem
correspondência exata no plano das remunerações. Para além do desempenho de
atividades advindas da distribuição do serviço docente, os professores executam
diversas funções cuja quantidade, modo de exercício e desempenho não têm
implicações na remuneração”.
A Previsibilidade relaciona-se com a transmissão da informação
adequada e em tempo suficiente para os docentes se adaptarem às mudanças, o que
poderá provocar o aumento dos níveis de stress. Em relação à situação laboral, é importante que sejam comunicadas em
tempo útil aos docentes informação sobre o serviço atribuído e sobre eventuais
reestruturações e mudanças organizacionais. Neste aspeto, a comunicação interna
é crucial dado que permite o ajustamento de falhas, proporciona oportunidades
para o desenvolvimento da aprendizagem e habilidades, bem como permite envolver
os docentes na estratégia de desenvolvimento da organização (Huse, 1989, tal
como citado por Ferreira, Neves, & Caetano, 2001;
Kanter, Stein e Jick, 1992, tal como citado por Ferreira
& Martinez, 2008; Lawler, 1986 tal como citado por Ferreira & Martinez, 2008). Decorrente da situação
anterior, surge a questão da Insegurança
Laboral, que tanto
pode ser contratual como sobre
as condições de trabalho (mobilidade
funcional e geográfica, mudanças do horário de trabalho e do salário) ou sobre
ajustamentos organizacionais, o que representa um risco para a saúde.
No que se refere ao Compromisso face ao
Local de Trabalho, esta é uma
situação favorável para a saúde que aumenta com a idade (falar com os outros
sobre o local trabalho, sentir os problemas do local de trabalho como seus);
associado a esta questão está a manutenção do ambiente de trabalho, em termos
psicossociais, dado que melhora a saúde e o bem-estar dos trabalhadores,
fomenta a produtividade, estimula o desenvolvimento profissional bem como o
desempenho económico, promove a abstenção e a rotatividade de mão-de-obra.
Associado à manifestação de
riscos psicossociais, o Burnout potencia a acumulação de fadiga (física e mental)
e a exaustão mental e destaca-se no sexo feminino. A acumulação de atividades
docentes e a sua conciliação com o exercício de diferentes papéis sociais tem
implicações no ritmo de trabalho das mulheres docentes. O Ritmo
de Trabalho acelerado
ocasiona a falta de tempo, não só para as suas atividades diárias como para
pensar em si, pelo que a negação da doença é um facto dado que serve para não
recorrerem ao médico, como também para adiar o conhecimento sobre o problema
que pode estar a perturbar o ritmo de trabalho que querem assegurar como afirma
Mendes (1996).
Carlotto e Câmara (2004, 2017) e
Carlotto e Palazzo (2006) estudaram a síndrome de Burnout em professores universitários e
encontrou uma associação negativa entre as dimensões de Burnout e Características de
cargo e, no que respeita à exaustão emocional, evidenciou associação com
identificação com a tarefa, autonomia e potencial motivacional do cargo.
Marqueze e Moreno (2009) verificaram que há aspetos
com os quais há maior proporção de docentes no nível de satisfação, como o
conteúdo do trabalho que realiza, relacionamento com outras pessoas na
instituição e grau de motivação para o trabalho e, por outro, há aspetos com
maior proporção de docentes no nível de insatisfação, como o volume de trabalho
que tem para desenvolver, grau de segurança (estabilidade) no emprego e grau em
que a instituição absorve as potencialidades que julga ter.
Quanto
aos dados que obtivemos, estes apresentam risco psicossocial nas
subescalas Exigências Cognitivas,
Possibilidade de Desenvolvimento e Significado do Trabalho e
nas subescalas Confiança Horizontal, Conflito, Influência no Trabalho e Exigências
Quantitativas, indicando
uma situação de vulnerabilidade dos docentes face à situação de risco.
O estudo de Pessoa (2015) revela
que as variáveis com valores mais elevados e significativos foram a influência
no trabalho e o conflito laboral. Verifica-se, ainda, de forma negativa a
variável Comportamentos Ofensivos sendo que o estudo sugere que o sexo
masculino influencia mais negativamente, em comparação com o feminino, os Comportamentos
Ofensivos.
Salientamos as subescalas Justiça e Respeito e
Significado do Trabalho bem como Ritmo de Trabalho, Previsibilidade,
Recompensas, Possibilidade de Desenvolvimento e Insegurança Laboral em que
foram encontrados dados que despertaram interesse para futuros estudos
nomeadamente, no que concerne ao sexo, idade, formação académica e categoria
profissional. Os dados obtidos vão
ao encontro dos estudos realizados por Bueno
(2017),
Costa e Santos (2013) e Pessoa (2015).
Neste sentido, Gago e
Correia (2010), ao analisarem 84
professores de vários níveis de ensino, demostraram que perante a injustiça
procedimental os participantes com maior crença pessoal no mundo justo reagem
mais positivamente (com mais paciência) comparativamente com os que têm baixa
crença pessoal no mundo justo. No entanto, os participantes com alta crença
pessoal no mundo justo reagiram à injustiça procedimental mais negativamente
(negligência e voz agressiva) comparativamente com aqueles que tinham baixa
crença pessoal no mundo justo.
Sousa e Mendonça (2009) na
pesquisa com 233 professores universitários verificaram que o poder mediacional
do comprometimento se confirmou na relação entre perceção de justiça
distributiva e exaustão, pelo que a perceção de injustiça na forma de
distribuição de recursos pode levar o professor universitário à exaustão, o que
pode ter probabilidade aumentada diante da falta de comprometimento.
Finalmente,
destacamos os valores obtidos ao nível das subescalas Possibilidade de
Desenvolvimento,
Significado do Trabalho e Exigências Cognitivas, que vão ao encontro do atual panorama
profissional dos docentes do ensino superior. As referidas escalas são
percecionadas como situações de risco para a saúde no que se refere à Possibilidade de Desenvolvimento que a carreira proporciona.
O trabalho docente é uma fonte de oportunidades, de desenvolvimento de
competências e conhecimento. Pode ser criativo e exercido com autonomia,
no entanto, quando começa a ser percecionado como monótono e repetitivo, não
representa aprendizagem, crescimento ou possibilidade de desenvolvimento pelo
que potencia a manifestação de situações de risco psicossocial.
Por um lado, as exigências
de desenvolvimento ao nível da obtenção do grau de Doutor e de produção
científica sem implicações de promoção na carreira ou remuneratórias, traz
consequências negativas e, por outro, as mesmas exigências permitem ascender na
carreira em termos científicos. Esta dualidade proporciona e legítima
os docentes para desenvolver atividades de gestão, coordenação e direção,
participação nos órgãos de decisão científica e pedagógica, integração em
provas académicas e participação ativa em projetos de pesquisa internos e externos
à instituição, mas descura a progressão na carreira e o patamar salarial.
Quanto mais elevada for a categoria profissional dos
docentes, mais sobrecarregados estão de trabalho e mais dificuldades sentem em
dar uma resposta adequada e eficaz a todas as solicitações. Apesar de
reconhecermos que há atrativos na docência, nomeadamente, períodos de férias
dos alunos, grau de autonomia e flexibilidade horária a agenda do docente é
preenchida por atividades de diferente natureza que provocam sobrecarga e dificuldades
em geri-la de modo equilibrado.
Assim, o
docente está exposto a condições de trabalho (insuficiência de espaços,
desadequação dos equipamentos, inadequação do número de alunos à dimensão da
sala, falta de funcionários administrativos, pouco tempo para a investigação,
publicação e formação, número elevado de horas de trabalho, tempo de exercício
efetivo, tempo de preparação de aulas e correção de testes e exames, reuniões,
acompanhamento e atendimento aos alunos) que colocam em risco a saúde e impedem
a sua realização profissional.
O presente estudo, apesar de ter abordado de forma
exploratória a relação que algumas variáveis têm com as várias subescalas do
COPSOQ e avaliado os fatores de risco psicossociais mais significativos que
expõem os docentes a uma maior situação de vulnerabilidade, apresenta
limitações metodológicas porque se centra sobre uma população constituída por
docentes de dois estabelecimentos de ensino superior onde os autores do estudo
lecionam.
A este facto consideramos que os docentes do ensino
superior assoberbados com a realização de inúmeras funções ficam sem tempo e
espaço para repensar-se enquanto classe profissional. Em futuros estudos, será
conveniente alargar a recolha de dados a docentes de outros estabelecimentos de
ensino superior, considerar de forma representativa os diversos sistemas de
ensino superior em vigor em Portugal bem como alargar o estudo a
estabelecimentos de ensino de outros países.
É importante destacar que as boas condições
psicossociais em contexto laboral contribuem para a qualidade de vida dos
profissionais, o que resultará no aumento da sua capacidade para o trabalho.
Deste modo, preconizamos a realização de estudos que permitam melhor
compreender a temática em análise dando seguimento aos estudos de Borges (2012), Bueno (2017),
Capelo e Calaça (2016), Cortez, Souza, Amaral e Silva (2017), Figueiroa e Moreira (2014),
Fragoeiro (2011), Pessoa (2015),
Souza et al. (2017), bem como aos realizados pela Agência
Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (2018),
seja ao nível da prevalência de riscos psicossociais e estratégias de
prevenção, seja ao nível da prevenção do stress
relacionado com o trabalho no setor educacional.
Em face das evidências
de situações de risco para a saúde nos docentes é imperativa a avaliação e gestão dos riscos psicossociais com vista à
sua proteção, de forma a promover condições de trabalho saudáveis, estimular a
clareza e transparência organizativa, garantir respeito e tratamento justo, bem
como incentivar a promoção da conciliação vida profissional/familiar, de modo a
minimizar riscos psicossociais e situações de vulnerabilidade nos
docentes do ensino superior.
Os autores têm intenção de dar continuidade ao estudo,
dado que se constata uma enorme lacuna de estudos ao nível dos docentes do
ensino superior bem como pretendem comunicá-los aos órgãos próprios de ambas as
instituições de forma a poder iniciar-se uma estratégia de mudança fundamental
com a elaboração de estratégias de promoção da saúde e uma gestão preventiva do
risco, através da introdução de atividades planeadas e sistemáticas, de modo, a
assegurar a sua eficácia, de modo a obter resultados benéficos ao nível do
estado de saúde e do desempenho.
O objetivo é promover condições de vida no trabalho a
nível individual ou organizacional nomeadamente, ao nível da intervenção
primária (reestruturação de medidas organizacionais, mudanças no processo de
tomada de decisão, enriquecimento funcional, reorganização das linhas de
autoridade, redesenho do layout
físico, estabelecimento de um sistema de compensação mais justo);
intervenção secundária (treino de relaxamento, desenvolvimento de capacidades
de gestão de tempo ou de resolução de conflitos) e, finalmente, ao nível da
intervenção terciária (abordagens que envolvem o aconselhamento individual,
tendo em conta a identificação tipo de risco, e também o diagnóstico de
possíveis efeitos negativos noutras esferas da vida do docente).
Conclusão
Em
conclusão, o presente estudo indica uma situação de
vulnerabilidade dos docentes do ensino superior face à situação de risco psicossocial nas
subescalas Exigências Cognitivas,
Possibilidade de Desenvolvimento e Significado do Trabalho e
nas subescalas Confiança Horizontal, Conflito, Influência no Trabalho e Exigências Quantitativas.
Os valores apresentados pelas duas instituições de
ensino superior mostraram não existir diferenças significativas a assinalar, no
entanto, obtivemos resultados estatisticamente significativos na subescala Problemas
em Dormir e Comportamentos
Ofensivos que foram mais elevados na instituição de ensino pública
do que na privada.
Verifica-se, ainda, de forma negativa a variável Comportamentos
Ofensivos, sendo que o
estudo sugere que o sexo masculino influencia mais negativamente, em comparação
com o feminino, os referidos
comportamentos.
Salientamos as subescalas Justiça e Respeito e Significado
do Trabalho, Ritmo de Trabalho, Previsibilidade, Recompensas,
Possibilidade de Desenvolvimento e Insegurança Laboral em que
foram encontrados dados que despertaram interesse, nomeadamente, no que
concerne ao sexo, idade, formação e grau académico e categoria profissional.
Os presentes resultados podem ter implicações a nível
prático na promoção de condições de vida no trabalho a nível individual e
organizacional, seja a nível da intervenção primária e secundária, seja a nível
da intervenção terciária. Perante as evidências
de situações de risco para a saúde nos docentes do ensino superior urge avaliar os riscos psicossociais,
promover condições de trabalho saudáveis, estimular a clareza e transparência
organizativa, garantir respeito e tratamento justo e incentivar a promoção da
conciliação vida profissional/familiar de modo a minimizar riscos e situações
de vulnerabilidade psicossociais.
Conflito de interesses: Nenhum.
Fontes de financiamento: Nenhuma.
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ⓘ PhD.
Revisão da literatura, Interpretação e Discussão dos resultados, Redação do manuscrito. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Conceção e planeamento do estudo, Recolha de dados
e Análise Estatística. Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Coimbra,
Instituto Politécnico de Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Conceção e planeamento do estudo, Recolha de dados e
Análise Estatística. Escola Superior de Tecnologias da
Saúde de Coimbra, Instituto Politécnico de Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Revisão do Manuscrito e Análise Estatística.
Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Coimbra, Instituto Politécnico de
Coimbra, Portugal.