2018, Vol. 4(2): 25-32
Versão Portuguesa Reduzida da Escala de Avaliação
da Aparência de Derriford (DAS-14): Análise fatorial exploratória e
confirmatória
Artigo Original
José Mendes ⓘ ✉, Vera Pereira ⓘ
https://doi.org/10.31211/rpics.2018.4.2.79
Recebido 09 abril 2018
Aceite 10 setembro 2018
Objetivo: Pretende-se com este estudo, apresentar uma versão reduzida
da Escala de Avaliação da Aparência de Derriford (DAS-24) para a população
portuguesa.
Método: Após análise de seis amostras recolhidas entre os anos 2010 e 2017, num
total de 1016 participantes que responderam a questões relacionadas com o
investimento esquemático da aparência e autoconsciência da aparência (DAS-24),
solicitou-se autorização aos autores da versão portuguesa e versão original da
DAS-24 a redução da escala para 14 itens.
Resultados. A DAS-14
apresentou um bom índice de consistência interna, quer na amostra não-clínica (α de
Cronbach = 0,91), quer na amostra clínica (α de Cronbach = 0,88). A análise fatorial
confirmatória apresentou um ajustamento aceitável, quer para a amostra não
clínica (χ2/gl = 1,17; GFI = 0,95; CFI = 0,99; TLI = 0,98; RMSEA = 0,028; p[(RMSEA ≤ 0,05) = 0,92], quer para a amostra clínica (χ2/gl = 1,36; GFI = 0,94; CFI = 0,98; TLI = 0,96; RMSEA =
0,047; p[(RMSEA ≤ 0,05) = 0,56].
Conclusões. A DAS-14 apresenta-se
psicometricamente robusta na avaliação da autoconsciência da aparência em
amostras da população geral e clínica.
Palavras chave:
Autoconsciência da aparência · Escala
de avaliação · DAS-14
As preocupações com a aparência são um
elemento central nas experiências e interações sociais, conduzindo à construção
da identidade de um indivíduo, em que a aparência comunica informação relativa
à etnicidade, ao caráter e ao estado físico e emocional (Carr,
Harris, & James, 2000). Níveis elevados de preocupação com a aparência
influenciam a que os indivíduos tenham uma perceção mais negativa do seu meio
ambiente (Rosser,
Moss, & Rumsey, 2010).
Na última década, a preocupação com a
aparência em Portugal tem despertado interesse na comunidade científica, tendo
sido realizados vários estudos: revisões de literatura (Mendes & Figueiras, 2013; Mendes,
Rego, Figueiras, & Moss, 2018); estudos empíricos em
amostras não-clínicas (Mendes, Figueiras, & Moss, 2016) e amostras clínicas (Alves,
2016; Mendes, Rego, Figueiras, Moss, &
Alcaidinho, 2018);
tradução e validação de escalas que avaliam o investimento esquemático da
aparência (Nazaré,
Moreira, & Canavarro, 2010) e avaliação da
autoconsciência da aparência (Mendes, Figueiras, Moreira, & Moss, 2016).
A construção da Derriford Appearance Scale (DAS-59) contribui para ultrapassar/
veio ultrapassar as limitações de vários instrumentos de avaliação do estado de
saúde mental, personalidade ou qualidade de vida em relação à imagem corporal.
O objetivo desta escala é avaliar as dificuldades experienciadas do indivíduo
em viver com problemas relativamente à sua aparência (Carr
et al., 2000).
Através de 59 itens distribuídos por um fator geral (autoconsciência da
aparência) e quatro dimensões (autoconsciência da aparência em situações
sociais, autoconsciência das características sexualmente significativas do
corpo, baixa autoestima e autoconsciência das características faciais), a Derriford Appearance Scale apresenta-se
válida e confiável, na avaliação do sofrimento e dificuldades em viver com
problemas de aparência (Carr
et al., 2000; Harris & Carr, 2001b). A DAS-59 apresentou-se como
uma medida objetiva do espectro de angústia psicológica e disfunção, que é
característica do desfiguramento, deformidades e problemas estéticos da
aparência (Harris & Carr, 2001a).
Face à extensão da respetiva escala, em
2005, Carr, Moss e
Harris, apresentaram
a versão reduzida da Derriford Appearance
Scale em 24 itens, com propriedades psicométricas robustas e identidade
concetual da versão longa. A DAS-24 apresenta-se como uma escala unidimensional
que avalia a autoconsciência da aparência, quer em populações não-clínicas,
quer em populações clínicas (Mendes & Figueiras, 2013). No entanto, estudos que
envolvam vários questionários tornam-se extensos, não sendo adequados para
pessoas fragilizadas ou acamadas (Ribeiro,
2010),
apresentando elevada probabilidade de não serem respondidos (Chaer,
Diniz, & Ribeiro, 2011). O elevado número de itens pode influenciar a
compreensão das questões (Leeuw,
Hox, & Dillman, 2008) e tender à existência do aumento do número de
questões por responder (Stanton,
Sinar, Balzer, & Smith, 2002).
Considerando que as versões reduzidas de
escalas têm sido consideradas um assunto sensível devido à informação recolhida
ser restrita e às possíveis qualidades psicométricas serem duvidosas (Ziegler,
Kemper, & Kruyen, 2014), pretende-se com este trabalho apresentar uma
versão reduzida da DAS-24, tendo em consideração uma seleção de itens sem que
se coloquem em causa as características métricas da estrutura original.
Segundo Stanton et al. (2002),
a redução de um instrumento deve ter em consideração três importantes etapa:
uma breve revisão de literatura, a demonstração dos procedimentos da redução da
escala e, por último, a aplicação das melhores práticas e compromissos viáveis
na seleção dos itens. Assim, através de uma revisão de literatura sobre os
critérios a considerar na escolha dos itens, respeito pelas especificadas
linguísticas e uma uniformização da versão reduzida com a versão original,
pretende-se com este estudo, apresentar uma versão reduzida da DAS-24,
contribuindo para uma melhor aplicabilidade de escalas de avaliação das
preocupações com a aparência em contexto clínico.
A
pertinência de desenvolver uma escala reduzida das DAS-24, principalmente em
contexto clínico, levou a uma breve análise de várias amostras recolhidas nos
últimos 10 anos, tendo-se proposto a redução da DAS-24 aos autores originais e
autores da versão portuguesa. Após análise prévia das respetivas amostras por
parte dos autores originais e da versão portuguesa, obteve-se autorização para
a redução da DAS-24.
Procedimentos e Participantes
A amostra global do presente estudo ficou constituída por um total de
1016 participantes, tendo sido usado 4 amostras não-clínicas e 2 amostras
clínicas recolhidas entre o ano 2010 e o ano 2017. As seis amostras
destinaram-se a vários estudos académicos, incluindo duas teses de doutoramento
finalizadas, validação da DAS-24 e outros trabalhos que aguardam publicação. Do
total de participantes, 427 (42%) eram homens e 589 (58%) mulheres, com idades
compreendidas entre os 18 e os 78 anos (M
= 35,76; DP = 12,60).
A amostra total dividiu-se numa amostra clínica (i.e., participantes que
apresentaram uma diferença visível na face) e não-clínica (i.e., participantes
sem diferenças visíveis na face). A amostra clínica englobou 171 participantes
com idades compreendidas entre os 21 e os 70 anos (M = 40,77 anos; DP =
10,78) e maioritariamente do sexo masculino (n = 109; 63,7%). A amostra não-clínica englobou 845 participantes
com idades compreendida entre os 18 e os 78 anos (M = 34,75 anos; DP =
12,70), maioritariamente do sexo feminino (n
= 527; 62,4%). A recolha da amostra clínica teve a aprovação da comissão de
ética do Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE (com a referência PCA-25 JUN
2012-0454). Todos os participantes que responderam ao questionário em formato
papel assinaram o termo de consentimento informado e esclarecido.
A amostra-não clínica foi recolhida através de questionários on-line e por conveniência, tendo como
critério de inclusão, idade igual ou superior a 18 anos e a amostra clínica foi
recolhida na unidade de internamento da cirurgia plástica e reconstrutiva do
Hospital de Santa Maria, tendo como critério de inclusão uma diferença visível
na face (cicatriz, queimadura, mancha, outros) e idade igual ou superior a 18
anos.
Instrumentos
DAS-24. A versão portuguesa
da Derriford Appearance Scale – short
(Carr et al.,
2005; Mendes et al., 2016) é um instrumento que se
inicia com uma questão sobre a existência de algum aspeto da aparência que
preocupa o indivíduo e três questões abertas. Seguidamente surgem 24 itens de
tipo Likert, que pretendem avaliar a autoconsciência da aparência (forma como o
indivíduo se sente e comporta relativamente ao aspeto que o incomoda), sendo
cotados através das seguintes opções de resposta: 1 = Nada, 2 = Ligeiramente, 3
= Moderadamente e 4 = Extremamente ou de 0 = N/A (não aplicável), ou 1 =
Nunca/Quase nunca, 2 = Às vezes, 3 = Frequentemente e 4 = Quase Sempre. Por
último, outras duas questões adicionais pretendem avaliar até que ponto o
aspeto da aparência do indivíduo causa dor/desconforto ou o limita na capacidade
física no seu quotidiano. A escala apresenta um bom índice de consistência
interna (α de Cronbach = 0,91).
ASI-R. A versão
portuguesa da Appearance Schemas
Inventory – revista (Cash,
Melnyk, & Hrabosky, 2004; Nazaré et al., 2010) é composta pelos fatores Saliência Autoavaliativa e Saliência Motivacional, avaliando o
investimento esquemático na aparência através de 20 itens de autorresposta,
numa escala tipo Likert com uma cotação que varia entre 1 (Discordo fortemente)
e 5 (Concordo fortemente). Este inventário avalia o investimento da imagem
corporal e os esforços de um indivíduo em manter ou aumentar a sua atratividade
física e gerir a aparência, apresentando bom índice de consistência interna (α de
Cronbach = 0,89).
Análise Estatística
Recorreu-se ao software SPSS24
para o sistema operativo MacOS e AMOS21 para sistema operativo Windows, para a
realização do tratamento estatístico dos dados. Procedeu-se a uma análise
fatorial exploratória (AFE) das seis amostras, verificaram-se os alfa (α) de Cronbach de
forma a estimar a fiabilidade do instrumento (Marôco & Garcia-Marques, 2006).
Utilizou-se uma regressão linear múltipla para analisar a versão reduzida
dos itens. A pontuação total da versão portuguesa original da DAS-24 foi
utilizada como variável dependente e cada item como variável independente.
Posteriormente, analisou-se o coeficiente de correlação de Pearson (r) para quantificar a intensidade e a
direção da associação entre as variáveis dos instrumentos DAS-14 (versão
reduzida da DAS-24) e ASI-R.
Procedeu-se à análise fatorial confirmatória (AFC), com a estimação de
máxima verosimilhança, avaliando a qualidade de ajustamento global do modelo
fatorial pelo teste Qui-quadrado de Ajustamento (χ2),
considerando χ2/gl
inferior a 5 como modelo aceitável; de acordo com os índices Comparative Fit Index (CFI), Goodness of Fit Index (GFI),
Root Mean Square Error of Approximation
(RMSEA), Incremental Fit Index (IFI),
sendo considerado um bom ajustamento quando os índices são próximos do valor de
1 e o RMSEA apresenta valores de
referência inferiores a 0,05 (Marôco, 2014).
A fiabilidade compósita (FC) e a variância extraída média (VEM) foram
avaliadas através das fórmulas (Marôco, 2014):
FC = (Σ24it=1 λ)2
/ (Σ24it=1 λ)2
+ Σ24it=1
ε e VEM
= Σ24it=1 λ2
/ Σ24it=1 λ2
+ Σ24it=1 ε
Desenvolvimento da Versão Reduzida da DAS-24
Os itens foram analisados individualmente com suporte
numa revisão de literatura de estudos realizados em Portugal sobre questões
relacionadas com a aparência. Posteriormente, procedeu-se a uma análise
fatorial exploratória em cada uma das seis amostras, de forma a analisar os
itens com baixas correlações Item-Total corrigido. Por fim, prosseguiu-se com o
pedido de autorização aos autores da versão portuguesa e versão original da
DAS-24, na redução dos itens. Posteriormente, reuniram-se os dados em duas amostras
(clínica e não-clínica), analisando-se as correlações Item-Total e eliminando
os itens com correlações inferiores a 0,50 (r).
Numa primeira análise (Tabela 1),
verificaram-se os índices de consistência interna e os padrões de correlação
existentes entre os itens das seis amostras. Pelo método de análise de
componentes principais, com rotação Varimax,
forçada a um fator, obtiveram-se as correlações entre os itens (Tabela 1).
Todas as amostras verificaram homogeneidade das variáveis [Amostra 1, N = 145, KMO = 0,92 (χ2(276) = 1951,83; p ≤ 0,001); Amostra 2 (clínica, indivíduos com diferenças visíveis
na face), N = 104, KMO = 0,70 (χ2(276) =
1745,63; p ≤ 0,001); Amostra 3
(clínica, indivíduos com diferenças visíveis na face), N = 67, KMO = 0,63 (χ2(276)
= 691,66; p ≤ 0,001; Amostra 4, N = 214, KMO = 0,91 (χ2(276) = 21130,91; p ≤ 0,001), Amostra 5, N
= 303, KMO = 0,87 (χ2(276)
= 2143,85; p ≤ 0,001) e Amostra 6, N = 206, KMO = 0,92 (χ2(276) = 2156,383; p ≤ 0,001)]. Em todas as
amostras, nenhuma das variáveis apresentou valores de assimetria (Sk) e curtose (Ku) indicadores de violações severas à distribuição normal (| Sk | < 3 e | Ku | < 10) (Marôco, 2010).
Eliminaram-se os itens 1, 8, 11, 12, 14, 15, 17, 20, 22 e 24, por apresentarem
o maior número de baixas correlações, com exceção do item 19 (“Sentir-se angustiado em encontros sociais”).
|
TABELA 1 Correlações
do Item-Total Corrigido da DAS-24 (Derriford Appearance Scale - reduzida) em
todas as amostras (N = 1016) |
|
|||||||
|
Item |
Descrição do
item |
Amostra 1 (α = 0,94) |
Amostra 2 (α = 0,89) |
Amostra 3 (α = 0,79) |
Amostra 4 (α = 0,90) |
Amostra 5 (α = 0,87) |
Amostra 6 (α = 0,91) |
|
|
1 |
Sentimento de
Confiança |
0,66 |
-0,28 |
-0,16 |
0,66 |
0,39 |
0,66 |
|
|
2 |
Sentimento de
Angústia |
0,76 |
0,63 |
0,57 |
0,70 |
0,60 |
0,71 |
|
|
3 |
Sentir-se
irritável em casa |
0,75 |
0,75 |
0,72 |
0,66 |
0,69 |
0,67 |
|
|
4 |
Sentir-se
magoado(a) |
0,72 |
0,70 |
0,59 |
0,72 |
0,59 |
0,69 |
|
|
5 |
Autoconsciência
afeta ao trabalho |
0,61 |
0,51 |
0,50 |
0,65 |
0,62 |
0,68 |
|
|
6 |
Inquietação na
praia |
0,65 |
0,74 |
0,44 |
0,74 |
0,70 |
0,74 |
|
|
7 |
Juízo de valor
da aparência |
0,56 |
0,61 |
0,55 |
0,52 |
0,53 |
0,59 |
|
|
8 |
Sentir-se
feminino/masculino |
0,31 |
-0,13 |
-0,20 |
0,21 |
0,10 |
0,22 |
|
|
9 |
Autoconsciência
da aparência |
0,70 |
0,69 |
0,61 |
0,73 |
0,73 |
0,73 |
|
|
10 |
Sentir-se
irritado |
0,69 |
0,56 |
0,58 |
0,62 |
0,50 |
0,63 |
|
|
11 |
Utilização de
gestos (ocultar) |
0,49 |
0,34 |
0,34 |
0,50 |
0,39 |
0,52 |
|
|
12 |
Evitar
vestuários comuns |
0,61 |
0,60 |
0,30 |
-0,03 |
0,49 |
0,47 |
|
|
13 |
Sentir angústia
nos hipermercados |
0,76 |
0,55 |
0,60 |
0,62 |
0,39 |
0,64 |
|
|
14 |
Sentir-se
rejeitado |
0,65 |
0,65 |
0,32 |
0,72 |
0,46 |
0,69 |
|
|
15 |
Evitar
despir-se frente ao parceiro |
0,64 |
0,44 |
0,31 |
0,18 |
0,34 |
0,18 |
|
|
16 |
Angustiado na
prática de desportos |
0,65 |
0,70 |
0,41 |
0,66 |
0,54 |
0,67 |
|
|
17 |
Fechar-se |
0,72 |
0,57 |
0,48 |
0,70 |
0,44 |
0,68 |
|
|
18 |
Preocupar-se
por não vestir roupas favoritas |
0,72 |
0,72 |
0,47 |
0,57 |
0,63 |
0,57 |
|
|
19 |
Sentir-se
angustiado em encontros sociais |
0,75 |
0,79 |
0,46 |
0,31 |
0,50 |
0,75 |
|
|
20 |
Sentir-se
normal |
0,49 |
-0,48 |
-0,30 |
0,64 |
0,36 |
-0,26 |
|
|
21 |
Afetar vida
sexual |
0,71 |
0,53 |
0,58 |
0,60 |
0,58 |
0,58 |
|
|
22 |
Evitar sair de
casa |
0,68 |
0,39 |
0,01 |
0,57 |
0,33 |
0,59 |
|
|
23 |
Angústia
quando comentam a aparência |
0,71 |
0,71 |
0,55 |
0,66 |
0,65 |
0,70 |
|
|
24 |
Evitar
cafés/restaurantes |
0,63 |
0,45 |
0,54 |
0,55 |
0,35 |
0,55 |
|
|
Nota. As Amostras
1, 4, 5, 6 constituem amostras não-clínicas e as Amostras 2 e 3 são amostras
clínicas. Os itens a sombreado correspondem aos itens eliminados da escala Derriford Appearance Scale-reduzida de
24 itens. |
|
Através da regressão linear múltipla da versão reduzida da DAS-24 a 14
itens e considerando a pontuação total da escala (DAS-14) como variável
dependente e os itens que a compõem como variáveis independentes, verificou-se
um modelo perfeito para a amostra não clínica (R2 = 1) com correlações Item-Total que variaram entre
0,48 a 0,80. Na amostra não-clínica observou-se um modelo quase perfeito (R2 = 0,94), com correlações
Item-Total que variaram entre 0,48 a 0,67. Os itens que constituíram a versão
reduzida da DAS-24 descreveram-se pelos itens 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 13, 16,
18, 19, 21 e 23. Os resultados apresentados seguidamente, concentram-se nas
análises dos 14 itens, que apresentaram maiores correlações, quer na amostra
clínica, quer na amostra não-clínica.
Fiabilidade da DAS-14
A DAS-14 apresentou uma consistência interna elevada para a amostra não
clínica (α de Cronbach = 0,91), e uma consistência interna moderada a
elevada para a amostra clínica (α de Cronbach = 0,88), estimando boa
fiabilidade e precisão da escala.
Validade concorrente da DAS-14 com
a ASI-R
A Tabela 2 mostra que em ambos os grupos de amostras
(clínica e não-clínica) se verificaram níveis de intensidade fraca entre a
DAS-14 e a dimensão Saliência Motivacional e associações moderadas com a
dimensão Saliência Autoavaliativa.
|
TABELA 2 Correlações de Pearson entre a DAS-14 (Derriford Appearance
Scale - reduzida a 14 itens) e as Dimensões da ASI-R (Appearance Schemas
Inventory – revista) (N =1016) |
|
||||
|
DAS-14 |
Saliência Motivacional |
Saliência Autoavaliativa |
M (DP) |
|
|
|
Amostras Não-Clínicas |
|
|
|
|
|
|
DAS-14 |
— |
0,18** |
0,57** |
21,24 (9,72) |
|
|
Saliência Motivacional |
|
— |
0,52** |
24,25 (2,94) |
|
|
Saliência Autoavaliativa |
|
|
— |
36,79 (5,76) |
|
|
Amostras
Clínicas |
|
|
|
|
|
|
DAS-14 |
— |
|
|
27,19 (10,54) |
|
|
Saliência Motivacional |
0,31** |
— |
|
26,76 (5,20) |
|
|
Saliência Autoavaliativa |
0,69** |
0,58** |
— |
37,05 (8,48) |
|
|
Nota. Saliência Motivacional e
Saliência Autoavaliativa são dimensões da ASI-R. **p < 0,01. |
|
Análise Fatorial Exploratória
A análise de componentes principais, com rotação Varimax e forçada a um fator, a medida Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) que revelou homogeneidade das
variáveis e o teste de esfericidade de Bartlett indicaram que as correlações
entre os itens eram suficientes para a realização da análise, quer na amostra
não-clínica [KMO = 0,92; (χ2(91)
= 1339,44; p < 0,001)], quer na
amostra clínica [KMO = 0,84; (χ2(91)
= 1105,05; p < 0,001)]. Quase todos
os itens apresentaram correlações moderadas a fortes (≥ 0,47; < 0,80),
apresentando-se o item 4 da amostra clínica com uma correlação mais fraca em
relação aos restantes itens (Tabela 3).
|
TABELA 3 Comparação das Correlações do
Item-Total Corrigido das DAS-14 numa Amostra Não-Clínica (1) e Amostra
Clínica (2) |
|
|||
|
Item |
Descrição do Item |
Correlação
Item-Total (1) |
Correlação
Item-Total (2) |
|
|
1 |
Sentimento de angústia |
0,76 |
0,65 |
|
|
2 |
Sentir-se irritável em casa |
0,75 |
0,78 |
|
|
3 |
Sentir-se magoado(a) |
0,67 |
0,63 |
|
|
4 |
Autoconsciência afeta o
trabalho |
0,66 |
0,47 |
|
|
5 |
Inquietação na praia |
0,79 |
0,67 |
|
|
6 |
Juízo de valor da aparência |
0,54 |
0,56 |
|
|
7 |
Autoconsciência da aparência |
0,81 |
0,72 |
|
|
8 |
Sentir-se irritado |
0,65 |
0,65 |
|
|
9 |
Sentir angústia nos
hipermercados |
0,57 |
0,55 |
|
|
10 |
Angustiado na prática de
desportos |
0,68 |
0,56 |
|
|
11 |
Preocupar-se por não vestir
roupas favoritas |
0,73 |
0,60 |
|
|
12 |
Sentir-se angustiado em
encontros sociais |
0,52 |
0,74 |
|
|
13 |
Afetar vida sexual |
0,66 |
0,50 |
|
|
14 |
Angústia quando comentam a
aparência |
0,77 |
0,70 |
|
|
|
Análise Fatorial Confirmatória
A estrutura da DAS-14 apresentou índices de qualidade de ajustamento
considerados sofríveis na amostra não-clínica (χ2/gl
= 2,68; GFI = 0,87) a fracos (CFI = 0,89; TLI = 0,87; RMSEA =
0,090; p[rmsea ≤ 0,05] < 0,001), e
um mau ajustamento para amostra clínica (χ2/gl
= 5,52; GFI = 0,71) a ajustamento
inaceitável (CFI = 0,67; TLI = 0,61; RMSEA = 0,163; p[rmsea ≤
0,05] < 0,001). A regressão e as variâncias de todos os itens em ambos os
modelos foram significativas (p ≤
0,001).
Tendo-se verificado um mau ajustamento para o modelo da amostra
não-clínica (GFI = 0,87; CFI = 0,89; TLI = 0,87) e um ajustamento inaceitável para a amostra clinica (GFI = 0,71; CFI = 0,67; TLI = 0,61),
segundo (Marôco, 2014) os índices absolutos não têm
grande utilidade quando não comparados com outros modelos, tendo-se assim
procedido à análise dos índices de modificação e ao refinamento dos modelos
pelas maiores covariâncias apresentadas pelo índice de modificação obtido.
Após reespecificação do modelo da amostra não-clínica (Figura 1)
pela correlação dos erros de medida nos itens (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10,
11, 12 e 13), o modelo apresentou um ajustamento considerado bom (χ2/gl = 1,17; GFI = 0,95; CFI = 0,99; TLI = 0,98; RMSEA = 0,028; p[rmsea ≤ 0,05] = 0,92).
A Figura
2 apresenta a reespecificação do modelo da amostra clínica pela correlação
dos erros de medida em todos os itens, tendo-se obtido um ajustamento
considerado bom (χ2/gl =
1,36; GFI = 0,94; CFI = 0,98; TLI = 0,96; RMSEA =
0,047; p[rmsea ≤ 0,05] = 0,56).
Através dos pesos fatoriais estandardizados do modelo simplificado,
calculou-se a fiabilidade compósita que se revelou adequada, quer para a
amostra não-clínica (0,89), quer para a amostra clínica (0,86). A VEM, um
indicador da validade convergente, revelou-se baixa, quer para a amostra
não-clínica (0,39), quer para a amostra clínica (0,37).
O impacto psicossocial da aparência é complexo, existindo
a necessidade de recorrer a mais do que um instrumento para avaliar possíveis
variáveis que influenciam a aparência (Rumsey & Harcourt,
2005). O feedback da maioria dos
participantes dos vários estudos realizados em Portugal (amostras representadas
na Tabela 1) que implicam a utilização da DAS-24, quer em
contexto clínico, quer em contexto não-clínico, apontam o elevado número de
itens como um problema, justificando-se assim o desenvolvimento de uma versão
reduzida da Versão Portuguesa da Escala de Avaliação da Aparência Derriford, a
DAS-14.
Seguindo as novas linhas de investigação na redução de
instrumentos de avaliação que por si já se apresentam como versões reduzidas (Stanton et al., 2002; Tambs & Røysamb,
2014), procedeu-se à análise
de regressão linear múltipla uma vez que o método de preditor dá maior ganho na
variância explicada quando inserido em cada etapa (Tambs & Røysamb, 2014) . Os nossos resultados
apontam assim para um modelo perfeito na amostra não-clínica e um modelo
perfeito para a amostra clínica, uma vez que nas ciências sociais, um
coeficiente de determinação com valores acima de 0,90 são indicadores de um bom
ajustamento (Marôco, 2010).
Considerando-se a confiabilidade uma propriedade muito
importante num instrumento (Widaman, Little, Preacher, &
Sawalani, 2011), a versão reduzida das DAS-24 apresenta-se como uma medida
de precisão, determinando a pontuação de um indivíduo na escala. Os 14 itens da
Derriford Appearance Scale na amostra
não-clínica apresenta um alfa de Cronbach de 0,91, considerando-se fiabilidade
elevada, tendo-se obtido uma fiabilidade moderada a elevada para a amostra
clínica (α de Cronbach = 0,88) (Marôco & Garcia-Marques, 2006). Na análise fatorial exploratória
dos 14 itens que constituem a escala, verifica-se homogeneidade das variáveis,
quer na amostra não-clínica (KMO =
0,92), quer na amostra clínica (KMO =
0,84) considerados de bom a elevada (Marôco, 2010), apresentando
correlações moderadas em quase todos os itens (0,50 ≤ r
≤ 0,80), à exceção do
item 4 na amostra clínica (r = 0,47).
Uma vez que esta amostra foi recolhida em contexto hospitalar (internamento),
os indivíduos podem ter respondido de forma aleatória ao item 4 — “No momento presente, o
desconforto/constrangimento que sinto em relação à minha aparência tem um
efeito negativo no meu trabalho” —, justificando-se assim a baixa
correlação, devido aos indivíduos ainda não terem estabelecido qualquer relação
interpessoal no meio laboral.
Através da análise fatorial confirmatória, o primeiro
modelo de equação estrutural testado em ambas as amostras, apresenta índices de
qualidade do ajustamento sofrível, pelo que, através da modificação dos erros
estimados pela maior covariância, obtiveram-se melhores níveis de qualidade de
ajustamento.
Atendendo às limitações deste estudo, especificamente
à impossibilidade de avaliar se os participantes da amostra não-clínica
apresentavam algum tipo de diferença visível na face que pudesse comprometer os
resultados; a falta de estudos que reportam resultados da DAS-24 e ao número
reduzido de participantes na amostra clínica, a DAS-14 apresenta-se como uma
escala reduzida da Derriford Appearance
Scale para a população portuguesa, com boas propriedades psicométricas,
quer na população geral, quer na população clínica (apresentam diferenças
visíveis).
O desenvolvimento da versão reduzida da Escala de
Avaliação da Aparência de Derriford (DAS-14) permite a sua aplicação em
contexto clínico e respetiva investigação, uma vez que a sua administração
requer menos tempo, facilitando a integração de outros instrumentos de
avaliação.
Conflito de interesses: Os autores declaram que não existem quaisquer
conflitos de interesses. No entanto, a autorização para uso da versão reduzida
da Escala de Avaliação da Aparência de Derriford (DAS-14), deve ser solicitada
aos autores da versão original da DAS-24 (tim.moss@uwe.ac.uk) e versão
portuguesa (hmoreira@fpce.uc.pt) | The authors declare that there are no
conflicts of interest. However, authorization to use the reduced version of the
Derriford Appearance Assessment Scale (DAS-14) should be requested from the
authors of the original version of DAS-24 (tim.moss@uwe.ac.uk) and the
Portuguese version (hmoreira@fpce.uc.pt)..
Fontes de financiamento: Nenhuma.
Agradecimentos: À Professora Doutora Helena Moreira na revisão
parcial do presente trabalho.
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ⓘ PhD. Recolha de Dados, Revisão de
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do Manuscrito. INTELECTO – Psicologia e Investigação, Ponta Delgada, Açores,
Portugal.
ⓘ Estudante PhD. Recolha de dados, Revisão de Literatura, Revisão do
Manuscrito. FCHS-UALG – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade
do Algarve, Campus de Gambelas, Faro. CIEO – Reserch Center for Spatial and
Organizational Dynamics, Faro, Portugal.