2018, Vol. 4(2): 33-41
Memórias das mensagens alimentares precoces
transmitidas pelos cuidadores e comportamentos de ingestão alimentar compulsiva
em adultos da população geral portuguesa: Estudo do papel da apreciação da
imagem corporal
Artigo Original
Sara Oliveira ⓘ ✉, Cláudia Ferreira ⓘ
https://doi.org/10.31211/rpics.2018.4.2.82
Recebido 11 junho 2018
Aceite 13 agosto 2018
Objetivo: O objetivo do presente estudo foi testar o efeito mediador da
apreciação da imagem corporal na associação entre memórias de mensagens
alimentares transmitidas pelos cuidadores durante a infância e adolescência e a
adoção de comportamentos de compulsão alimentar na adultez.
Métodos: Participaram neste estudo 246 mulheres e 133
homens da população geral que completaram numa plataforma online medidas de autorrelato para avaliar memórias de mensagens
alimentares transmitidas pelos cuidadores, a apreciação da imagem corporal e
sintomatologia de compulsão alimentar.
Resultados. Os
resultados revelaram associações negativas entre a recordação de mensagens
alimentares precoces do tipo restritivo e crítico e a apreciação da imagem
corporal e entre a apreciação da imagem corporal e a sintomatologia de ingestão
alimentar compulsiva. Os resultados da análise de vias revelaram uma associação
positiva entre mensagens parentais do tipo restritivo e crítico em relação à
alimentação durante a infância e adolescência e a sintomatologia de compulsão
alimentar, sendo esta relação parcialmente mediada pela apreciação da imagem
corporal, que explicou 35% da variância da sintomatologia de compulsão
alimentar, não revelando diferenças significativas entre o sexo masculino e feminino.
Conclusões. Este estudo
parece ter importantes implicações clínicas, demonstrando que a transmissão precoce
de mensagens alimentares de controlo por parte dos cuidadores está associada a
uma menor tendência dos indivíduos para adotar, posteriormente, atitudes
positivas relativamente à imagem corporal e, consequentemente, mais comportamentos
alimentares perturbados, como a compulsão alimentar. Estes resultados sublinham
a importância de desenvolver programas para pais/cuidadores focados no desenvolvimento
de estratégias adaptativas para regular o comportamento alimentar das crianças.
Palavras chave:
Análise confirmatória · Apreciação
corporal · Invariância por género · Mensagens alimentares transmitidas pelos cuidadores · Sintomatologia
de compulsão alimentar · Estudo exploratório
INTRODUÇÃO
A literatura tem sublinhado que o ambiente familiar,
nomeadamente as práticas parentais, desempenham um papel importante no
desenvolvimento das crianças (Collins, Maccoby, Steinberg,
Hertherington, & Bornstein, 2000; Maccoby, 2000).
Particularmente, as atitudes dos pais/cuidadores em relação à alimentação e ao
peso das crianças influenciam o desenvolvimento da sua imagem corporal e
comportamento alimentar (Birch et al., 2001; Fisher, Sinton, & Birch, 2009; Larsen
et al., 2015; Marcos, Sebastian, Aubalat, Ausina, &
Treasure, 2013). No entanto, é escassa a investigação acerca da relação
entre as mensagens parentais precoces acerca da alimentação e a ocorrência de
comportamentos de compulsão alimentar na adultez, assim como os mecanismos
envolvidos nessa associação (Faith, Scanlon, Birch, Francis,
& Sherry, 2004).
Vários estudos têm demonstrado que o
controlo excessivo dos pais/cuidadores sobre a alimentação das crianças está
associado a atitudes negativas acerca da imagem corporal e a um défice na
regulação da ingestão alimentar (Birch & Fisher, 2000).
De facto, a literatura parece demonstrar que práticas parentais tanto de
restrição alimentar (e.g., proibindo certos alimentos que são desejados ou nas
quantidades desejadas) como de pressão para comer, (e.g., forçando-as a comer
na ausência de fome) não permitem que as crianças satisfaçam as suas reais
necessidades alimentares e desenvolvam mecanismos eficazes de autorregulação da
fome/saciedade (Faith et al., 2004; Strein & Bazelier,
2007). Mais especificamente, alguns estudos têm sugerido que a consciência e
sensibilidade aos sinais de fome ou saciedade podem ser diminuídas devido a
práticas parentais de excessivo controlo, uma vez que a regulação do
comportamento alimentar é regida maioritariamente por fatores externos (Birch, Fisher, & Davison, 2003; Carper,
Fisher, & Birch, 2000).
Paralelamente, a literatura tem demonstrado
que as crianças podem moldar os seus comportamentos alimentares através da
receção de mensagens dos cuidadores em relação ao seu peso e/ou comportamento
alimentar (e.g., Baker, Whisman, & Brownell, 2000;
Cutting, Fisher, Grimm-Thomas, & Birch, 1999; Edmunds & Hill, 1999; Fisher
& Birch, 1999). Neste sentido, e de forma a perceber se este tipo de
mensagens recebidas durante a infância e adolescência, continua a ter um
impacto significativo na vida adulta dos indivíduos, Kroon Van Diest e Tylka (2010) desenvolveram uma escala que permite avaliar as perceções
dos indivíduos sobre as mensagens alimentares transmitidas pelos seus
cuidadores (Caregiver Eating Messages
Scale), através de duas subescalas: (i) pressão para comer e (ii) mensagens
restritivas e críticas acerca da ingestão de alimentos. Os resultados indicaram
que uma maior perceção deste tipo de mensagens por parte dos cuidadores,
particularmente as do tipo restritivo e crítico, está associada ao
desenvolvimento de psicopatologia alimentar, diminuição da perceção de
aceitação corporal por parte dos outros e diminuição da apreciação da imagem
corporal (Kroon Van Diest & Tylka, 2010).
A apreciação da imagem corporal corresponde
à capacidade do indivíduo se relacionar com o corpo de forma bondosa e
respeitosa e de valorizar a sua singularidade, independentemente da
identificação de certos aspetos e características que possam não ir ao encontro
dos ideais de beleza socialmente prescritos (Avalos,
Tylka, & Wood-Barcalow, 2005; Tylka &
Wood-Barcalow, 2015).
Adicionalmente, a literatura tem demonstrado
que a vivência da imagem corporal tem um impacto significativo na saúde física,
psicológica e social das mulheres (Goss & Gilbert, 2002).
Neste sentido, esta atitude positiva em relação à imagem corporal tem sido
associada positivamente a características positivas e indicadores de bem-estar
e negativamente com estratégias e fatores maladaptativos em amostras de homens
e mulheres da população ocidental (e.g., Tylka &
Wood-Barcalow, 2015). Especificamente, a apreciação corporal tem sido
associada à avaliação favorável da aparência, estima pelo corpo, otimismo,
afeto positivo, satisfação com a vida, autocompaixão (Avalos
et al., 2005; Swami, Steiger, Haubner, & Voracek, 2008;
Tylka & Kroon Van Diest, 2013; Wasylkiw,
MacKinnon, & McLellan, 2012) e capacidade de se comer de acordo com os
sinais internos de fome e saciedade (e.g., Avalos &
Tylka, 2006; Tylka & Kroon Van Diest, 2013). Por
outro lado, a apreciação da imagem corporal tem sido inversamente associada a
maiores níveis de insatisfação corporal, vergonha da imagem corporal,
perfecionismo maladaptativo (Iannantuono & Tylka,
2012; Tylka & Wood-Barcalow, 2015), ansiedade,
depressão, maiores índices de massa corporal e psicopatologia alimentar (e.g., Marta-Simões, Mendes, Trindade, Oliveira, & Ferreira,
2016). Em paralelo, diversos estudos têm demonstrado que uma atitude
negativa perante a imagem corporal, nomeadamente associada a sentimentos de
vergonha e inferioridade, se associa à adoção de episódios de compulsão
alimentar periódicos (Duarte, Pinto-Gouveia, &
Ferreira, 2014; Dunkley & Grilo, 2007).
Os episódios de ingestão alimentar
compulsiva são atualmente reconhecidos como um grave problema com implicações
para a saúde física e mental, estando associados ao desenvolvimento de
sobrepeso e a comorbidades físicas e psiquiátricas (Duarte
et al., 2014; Kessler et al., 2013). De facto,
episódios de compulsão alimentar envolvem o consumo de uma grande quantidade de
alimentos, num curto período de tempo, acompanhados por uma sensação de falta
de controlo (e.g., American Psychiatric Association [APA], 2013).
Vasta literatura tem documentado que a
ocorrência de comportamentos de ingestão alimentar é relativamente frequente na
população geral em indivíduos de ambos os sexos e com diferentes índices de
massa corporal (e.g., Duarte et al., 2014). Embora
a ocorrência de episódios de ingestão alimentar compulsiva possa apresentar
diferentes graus de severidade, desde casos subclínicos a casos clínicos de
severa gravidade, estes episódios são a característica central da perturbação
de ingestão alimentar compulsiva (APA, 2013). Embora a
literatura em relação à perturbação de ingestão alimentar compulsiva seja ainda
lacunar, dado que esta perturbação só foi reconhecida oficialmente como uma
entidade clínica singular na última edição do manual de diagnóstico da APA (American Psychiatric Association, 2013), os dados existentes
parecem mostrar com relativa segurança que esta perturbação é mais frequente
que a anorexia nervosa ou bulimia, tendendo a surgir no final da adolescência
ou início da idade adulta e a apresentar uma distribuição mais homogénea por
sexo, comparativamente com as restantes perturbações do comportamento alimentar
(Kessler et al., 2013).
Alguns modelos teóricos sugerem que a
compulsão alimentar resulta de um processo de regulação emocional
maladaptativo, no qual o consumo excessivo de alimentos opera como um meio para
escapar momentaneamente ou evitar pensamentos e emoções angustiantes e
indesejadas (Goldfield, Adamo, Rutherford, & Legg,
2008; Heatherton & Baumeister, 1991; Leehr et al., 2015). Adicionalmente, diferentes trabalhos têm
documentado que uma perceção negativa da imagem corporal pode estar associada
ao aumento da gravidade dos sintomas de ingestão alimentar compulsiva, tanto na
população geral como na população clínica (Duarte et
al., 2014; Duarte, Pinto-Gouveia, & Ferreira,
2017; Dunkley & Grilo, 2007; Hayaki,
Friedman, & Brownell, 2002; Jambekar, Masheb, &
Grilo, 2003). Por outras palavras, o consumo exagerado e compulsivo de
alimentos pode operar como uma estratégia de regulação emocional para lidar com
sentimentos negativos e/ou indesejados procedentes de uma vivência da imagem
corporal menos positiva.
Apesar do estudo em relação à imagem
corporal e ao comportamento alimentar perturbado ter privilegiado quase
exclusivamente amostras do sexo feminino, trabalhos recentes sugerem que estas
dificuldades não são exclusivas das mulheres (Dakanalis et
al., 2016; Duarte & Pinto-Gouveia, 2017).
De facto, os dados existentes apontam que memórias precoces e experiências
negativas associadas à imagem corporal desempenham um papel central na
explicação de comportamentos de ingestão alimentar compulsiva tanto em homens
como em mulheres (Dakanalis et al., 2016; Duarte & Pinto-Gouveia, 2017).
Embora estudos anteriores tenham sugerido a
relevância dos cuidadores nos comportamentos alimentares, pouco se sabe sobre o
impacto das mensagens transmitidas acerca da alimentação nos sintomas de
compulsão alimentar e nos mecanismos envolvidos nessa associação (Faith et al., 2004). Adicionalmente, o modo como estas
mensagens específicas, transmitidas ao longo da infância e adolescência,
influenciam atitudes relativamente à imagem corporal e ao comportamento
alimentar dos indivíduos durante a vida adulta tem sido pouco explorado (Kroon Van Diest & Tylka, 2010).
Neste sentido, o objetivo do presente estudo
é explorar a associação entre mensagens alimentares transmitidas pelos
cuidadores, uma atitude positiva, bondosa e de respeito para com a imagem
corporal (apreciação corporal) e a sintomatologia de compulsão alimentar.
Especificamente, o modelo testado hipotetizou que a recordação de mensagens
alimentares do tipo restritivo transmitidas pelos cuidadores se associa a menos
atitudes de amor, apreço e proteção em relação às características únicas da
própria aparência física, e que tal se reflete em maiores níveis de
sintomatologia de ingestão alimentar compulsiva. De forma a aumentar a robustez
deste modelo foi controlado o efeito do índice de massa corporal e foram ainda
exploradas diferenças entre o sexo masculino e feminino.
MÉTODOS
Participantes
A amostra foi constituída por 379 participantes de ambos os sexos, 246
mulheres e 133 homens da população normal com idades compreendidas entre 18 e
60 anos (M = 28,0; DP = 9,71) e uma média de 14,41 (DP = 2,56) anos de escolaridade. A média
do Índice de Massa Corporal (IMC) dos participantes foi de 23,78 (DP = 4,22), variando entre 16,23 e
41,97. Esta distribuição reflete a distribuição normal do IMC em adultos da
população portuguesa para ambos os sexos (Poínhos et al.,
2009).
Instrumentos
O protocolo de avaliação foi constituído por um questionário breve de
recolha de dados demográficos (e.g., idade, sexo, anos de escolaridade, estado
civil, altura e peso atual) e por três medidas de autorresposta validadas para
a população portuguesa.
Índice de Massa Corporal (IMC). O IMC foi calculado através do
índice de Quetelet (Kg/m2) com base nos autorrelatos do peso e
altura atual dos participantes.
Caregivers Eating Messages Scale (CEMS; Kroon
Van Diest & Tylka, 2010; versão portuguesa de Ferreira,
Oliveira, & Marta-Simões, 2018); A CEMS é um instrumento de
autorreposta que pretende avaliar memórias de mensagens sobre a sua alimentação
transmitida pelos cuidadores, durante a infância e adolescência. A CEMS é
composta por duas subescalas (com cinco itens cada): (i) mensagens alimentares
do tipo restritivo e crítico (e.g., “Diziam-lhe que não deveria comer certos
alimentos porque o/a iriam engordar”) e (ii) mensagens de pressão para comer
(e.g., “Diziam-lhe para comer toda a comida do seu prato”). É solicitado aos
participantes que respondam a cada item através de uma escala de resposta de 6
pontos (de 1 = “Nunca” a 6 = “Sempre”). No estudo original, ambas as subescalas
desta medida apresentaram boa consistência interna, com valores de alfa de 0,82
para a subescala de mensagens do tipo restritivo e crítico e de 0,86 para a
subescala pressão para comer, respetivamente (Kroon Van Diest
& Tylka, 2010). Na versão portuguesa, os alfas de Cronbach foram de
0,88 e de 0,85 para a subescala de mensagens restritivas e críticas e de
pressão para comer, respetivamente (Ferreira et al., 2018).
No presente estudo as subescalas da CEMS apresentaram igualmente bons valores
de consistência interna com valores de Cronbach de 0,83 e 0,88 para a subescala
pressão para comer e mensagens restritivas/críticas, respetivamente.
Body Appreciation Scale-2 (BAS-2; Tylka et al., 2015; versão
portuguesa de Marta-Simões et al., 2016); A BAS-2 é
uma medida de autorrelato que avalia atitudes de aceitação e respeito em
relação à imagem corporal, independentemente das características específicas ou
do aspeto global (e.g., “O meu
comportamento revela uma atitude positiva em relação ao meu corpo/imagem
corporal”). A BAS-2 é composta por 10 itens com uma escala de resposta de cinco
pontos (de 1 = “Nunca” a 5 = “Sempre”) e revelou boas qualidades psicométricas,
apresentando um alfa de Cronbach entre 0,93 a 0,97 em diversas amostras na
versão original (Tylka et al., 2015) e de 0,95 na versão portuguesa (Marta-Simões et al., 2016). A escala apresentou um alfa
de Cronbach de 0,96 no presente estudo.
Binge Eating Scale (BES; Gormally, Black, Daston,
& Rardin, 1982; versão portuguesa de Duarte,
Pinto-Gouveia, & Ferreira, 2015); A BES é uma medida de autorresposta
de 16 itens que avalia manifestações comportamentais (comer rápido, comer
grandes quantidades de comida), cognições e sentimentos (culpa, sensação de
perda de controlo ou incapacidade de parar de comer) que precedem ou sucedem
episódios de compulsão alimentar. Cada item (e.g., “Sinto-me totalmente incapaz
de controlar os meus impulsos para comer”, “Quando começo a comer, tenho
dificuldade em parar e geralmente sinto-me desconfortavelmente empanturrado(a)
depois de comer uma refeição”) contém 3 a 4 afirmações que constituem opções de
resposta e refletem diferentes níveis de gravidade da sintomatologia avaliada.
Os participantes são convidados a selecionar a afirmação que melhor descreve
sua experiência. Resultados mais altos refletem maior severidade de ingestão
compulsiva, considerando-se valores iguais ou superiores a 17 como indicadores
de valores clínicos de Perturbação de Ingestão Alimentar Compulsiva. A escala
tem apresentado boas qualidades psicométricas tanto na versão de língua inglesa
(α
de Cronbach = 0,85; Gormally et al., 1982) como na
versão de língua portuguesa (α de Cronbach = 0,88; Duarte et al., 2015), assim como no presente estudo (α de
Cronbach = 0,88).
Os valores da consistência interna das medidas utilizadas na amostra
deste estudo são apresentados na Tabela 1.
Procedimentos
O presente estudo encontra-se inserido numa investigação mais alargada
acerca do impacto de diferentes fatores e processos de regulação emocional na
qualidade de vida e na saúde mental da população geral.
Os procedimentos deste estudo respeitaram todos os requisitos éticos e
deontológicos inerentes à investigação em psicologia, nomeadamente na recolha
da amostra e tratamento de dados. Após o consentimento da comissão de ética da
instituição de ensino superior envolvida, a recolha de amostra foi realizada no
período entre outubro de 2017 e abril de 2018 através do método de amostragem
exponencial não-discriminante de bola-de-neve. Num primeiro momento, foram
endereçados convites à participação no estudo a diferentes contactos dos
investigadores, via e-mail e através da rede social Facebook. A esses contactos foi solicitada a partilha do convite de
participação no estudo a dois ou mais potenciais participantes. No convite foi
incluída informação acerca do caráter voluntário da participação, o anonimato e
a confidencialidade dos dados obtidos, e ainda, o objetivo, procedimentos e
critérios de inclusão no estudo (indivíduos com idades compreendidas entre os
18 e os 60 anos de nacionalidade portuguesa). Este convite incluía ainda um link que direcionava para a plataforma GoogleForms, dando acesso à versão
online do protocolo de investigação construído por: consentimento informado,
questionário de recolha de informação biográfica e as medidas de autorresposta
anteriormente descritas.
Estratégia Analítica
A análise de dados foi realizada com recurso ao software IBM SPSS Statistics 22,0 do SPSS (SPSS; IBM, Chicago, IL)
e ao AMOS 21,0 (Analysis of Momentary Structure, SPSS; Armonk, NY: IBM Corp.).
De forma a explorar as características da amostra nas variáveis em estudo
foram efetuadas estatísticas descritivas (médias e desvios-padrão).
Seguidamente, e de forma a compreender as associações entre os diferentes constructos
da investigação, foram efetuadas análises de correlação de Pearson. As magnitudes destes resultados foram
discutidas de acordo com as recomendações de Cohen, segundo as quais se
considera correlações de magnitude fraca
entre 0,1 e 0,3, moderada acima de
0,3 e forte iguais ou superiores a
0,5, para um nível de significância de 0,05 (Cohen, Cohen,
West, & Aiken, 2003).
As análises de mediação foram conduzidas através do AMOS 21,0, uma
ferramenta estatística que permite realizar análises de vias (path analysis), uma forma de modelos de
equação estruturais para examinar, simultaneamente, efeitos diretos e indiretos
em diferentes variáveis (endógenas e exogéneas) controlando a presença de erros
(Kline, 2005). Em conformidade com os objetivos do estudo,
foi testado o efeito das mensagens alimentares do tipo restritivo transmitidas
pelos cuidadores (RCM; variável exógena) na sintomatologia de compulsão alimentar
(BES; variável endógena), examinado o efeito mediador da apreciação positiva da
imagem corporal nesta associação (BAS-2; variável endógena mediadora), quando
controlado o efeito do IMC. O método de Máxima Verossimilhança foi utilizado
para averiguar a significância dos coeficientes da via (path) e uma série de testes que visam calcular a qualidade do
ajustamento do modelo (χ2, CFI, TLI, NFI
e RMSEA; Hu & Bentler, 1999). Os efeitos diretos,
indiretos e totais estabelecidos entre as variáveis foram testados através do
Qui-Quadrado e do método Bootstrap
resampling com 2000 amostras e com um intervalo de confiança (IC) corrigido de 95% (biascorrected confidence intervals).
Nesta análise, considera-se que o efeito é estatisticamente significativo
quando o IC não inclui o zero (Kline, 2005) e quando o p
é inferior a 0,05 (Tabachnick & Fidell, 2007).
Finalmente uma análise multigrupos foi realizada com o objetivo de
verificar se existiam diferenças significativas no modelo final testado no sexo
masculino e sexo feminino.
RESULTADOS
Análises Descritivas e de Correlações
As estatísticas descritivas referentes às
variáveis em estudo são apresentadas na Tabela 1.
Particularmente, foi verificado que os valores na BES variaram entre 0 e 41,
sendo que apenas 15 (4%) participantes apresentaram valores clínicos de
ingestão alimentar compulsiva, atendendo ao ponto de corte para a população
portuguesa (i.e., iguais ou superiores a 17).
|
TABELA 1 Médias,
Desvios-padrão e Correlações Entre as
Variáveis em Estudo |
|
|||||||||
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|
|
M |
DP |
Min - Max |
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
|
|
1 |
PEM |
15,77 (16,53) |
5,36 (5,19) |
5 - 30 |
— |
0,17 |
0,05 |
0,11 |
0,06 |
|
|
2 |
RCM |
9,93 (9,52) |
4,06 (4,72) |
5 - 30 |
0,07 |
— |
-0,25** |
0,41*** |
0,32*** |
|
|
3 |
BAS-2 |
39,85 (39,71) |
7,88 (8,21) |
10 - 50 |
0,06 |
-0,28*** |
— |
-0,50*** |
-0,26** |
|
|
4 |
BES |
4,61(5,52) |
5,92 (5,54) |
0 - 46 |
0,09 |
0,26*** |
-0,55*** |
— |
0,37*** |
|
|
5 |
IMC |
22,40 (24,90) |
3,65 (4,71) |
16,23 - 41,97 |
-0,09 |
0,19** |
-0,33*** |
0,36*** |
— |
|
|
Nota. M = Médias; DP = Desvios-padrão; min-máx =
amplitude dos resultados nas variáveis em estudo. Os valores a negrito
correspondem aos dados dos participantes do sexo masculino; Valores de
correlações entre as variáveis em estudo para os participantes do sexo
feminino (n = 246; parte inferior
do Quadro) e participantes do sexo masculino (n = 133; parte superior do Quadro, a negrito). IMC = Índice de
Massa Corporal; PEM = Mensagens de pressão para comer (subescala da Caregiver Eating Messages Scale); RCM
= Mensagens alimentares do tipo restritivo e crítico (subescala da Caregiver Eating Messages Scale);
BAS-2 = Body Apreciation Scale-2;
BES = Binge Eating Scale. **p < 0,01; ***p < 0,001. |
|
Análises
de Vias (path analysis)
Através de uma análise de vias (path analysis) foi testada a hipótese de
que a associação entre mensagens alimentares do tipo restritivo transmitidas
pelos cuidadores (RCM) e a sintomatologia de compulsão alimentar (BES) seria
mediada pela relação de aceitação e apreço pela própria imagem corporal
(BAS-2), quando controlado o efeito do índice de massa corporal (IMC). A opção
pelo estudo deste modelo foi baseada na análise de correlações, a qual mostrou
que a associação entre mensagens de pressão para comer transmitidas pelos
cuidadores e as restantes variáveis em estudo não se revelou significativa, não
justificando a inclusão desta variável no modelo a testar.
O
modelo foi testado através de um modelo saturado composto por 14 parâmetros.
Este modelo revelou explicar 35% da variância da sintomatologia de ingestão
alimentar compulsiva (BES), no qual todas as vias apresentaram significância
estatística (Figura
1).
As mensagens alimentares do tipo restritivo
transmitidas pelos cuidadores revelaram um efeito direto sobre a apreciação da
imagem corporal de -0,20 (bRCM= -0,36; SEb = 0,09; Z = -3,94; p < 0,001) e de 0,15 sobre a sintomatologia de ingestão
alimentar compulsiva (bRCM= 0,20; SEb = 0,06; Z = 3,40; p < 0,001). A apreciação positiva da imagem corporal revelou um
efeito direto na sintomatologia de ingestão alimentar compulsiva de -0,43 (bBAS-2
= -0,32; SEb = 0,03; Z
= -9,80; p < 0,001).
Como síntese, os resultados obtidos
mostraram que o impacto das mensagens alimentares do tipo restritivo
transmitidas pelos cuidadores na sintomatologia de ingestão alimentar
compulsiva é parcialmente mediado pela diminuição de uma atitude de respeito e
aceitação da imagem corporal (β = 0,09; IC 95% = 0,04 a 0,14). Adicionalmente, a análise multigrupos
permitiu verificar a inexistência de diferenças significativas entre o sexo
feminino e masculino no modelo final testado (χ2(5) = 6,62; p = 0,25).
DISCUSSÃO
A literatura tem documentado que as mensagens
parentais precoces de restrição alimentar ou os comentários críticos sobre
alimentação estão associados a padrões alimentares perturbados dos filhos (Kroon Van Diest & Tylka,
2010). Dados empíricos suportam que
estas mensagens de restrição e crítica em relação ao padrão alimentar na
infância ou adolescência têm um impacto negativo nas atitudes e comportamentos
alimentares e, ainda, que este impacto persiste mesmo após a exposição direta a
essas mensagens ter diminuído ou cessado (Kotler, Cohen,
Davies, Pine, & Walsh, 2001). No entanto, os mecanismos que explicam
esta relação permanecem pouco estudados, especialmente quando se trata de
comportamentos alimentares característicos da ingestão compulsiva. Neste
sentido, o presente estudo pretendeu testar a relação entre a recordação de
mensagens alimentares transmitidas pelos cuidadores e a sintomatologia de
compulsão alimentar. Com base na literatura existente no âmbito das
dificuldades na regulação do comportamento alimentar, hipotetizou-se que uma
atitude de aceitação, respeito e de bondade com a imagem corporal pode
funcionar como processo mediador na relação entre estas mensagens de controlo
parental da alimentação e a sintomatologia de compulsão alimentar.
Os resultados da análise das correlações
revelaram-se em conformidade com os dados prévios e acrescentam à literatura
dados específicos acerca da relação entre memórias das mensagens alimentares
transmitidas pelos pais/cuidadores, apreciação da imagem corporal e
comportamentos de compulsão alimentar. Particularmente, os resultados
corroboraram a associação positiva entre a recordação de mensagens alimentares
restritivas e críticas e comportamentos alimentares disfuncionais (Kroon Van Diest & Tylka,
2010), e especificamente em relação
à sintomatologia de compulsão alimentar. Em contraste, a recordação de
mensagens parentais que traduzem pressão para comer não apresentou associações
significativas com atitudes e comportamentos de ingestão alimentar compulsiva.
Adicionalmente, no presente estudo foi, ainda, encontrada uma correlação
negativa e de forte magnitude entre a apreciação da imagem corporal e a
sintomatologia de compulsão alimentar. Estes resultados estão igualmente em
consonância com os dados de estudos prévios, os quais sugerem que a apreciação
da imagem corporal poderá ser um potencial mecanismo de redução de
comportamentos alimentares perturbados (Halliwell, 2015;
Smolak & Cash, 2011).
No sentido de analisar a hipótese principal, isto é,
se a associação entre mensagens alimentares transmitidas pelos cuidadores e a
sintomatologia de ingestão alimentar compulsiva é significativa e mediada pela
apreciação da imagem corporal, foi realizada uma análise de vias (path analysis), controlando o efeito do
índice de massa corporal. No presente estudo optou-se pela exploração de um
modelo teórico que não contemplava a subescala ‘pressão para comer’, opção que
foi legitimada pela verificação de correlações não significativas com as
restantes variáveis em estudo. O modelo teórico testado apresenta uma excelente
adequação aos dados e explicou 35% da variância da sintomatologia alimentar
compulsiva. Adicionalmente, os resultados da análise multigrupos não revelaram
diferenças significativas entre os grupos amostrais do sexo masculino e do sexo
feminino, o que sugere a adequabilidade do modelo testado para ambos os sexos.
Os resultados da análise de vias (path analysis) sugerem que os indivíduos
que recordam receber mais mensagens alimentares do tipo restritivo e crítico
durante a infância e adolescência apresentam na idade adulta maiores níveis de
sintomatologia de compulsão alimentar, sendo esta relação parcialmente mediada
por menores níveis de apreciação da imagem corporal. Mais especificamente,
verificou-se a existência de um efeito direto e positivo entre recordação de
mensagens parentais de restrição e crítica em relação ao padrão alimentar e a
severidade de ingestão alimentar compulsiva, e indireto através de uma atitude
positiva, de apreciação e respeito pela imagem corporal, independentemente das
suas características. Deste modo, os resultados do presente estudo parecem
confirmar as hipóteses previamente estabelecidas e acrescentam dados relevantes
à literatura existente. De facto, diversos estudos sublinham que as crianças
conseguem ajustar e adequar a ingestão de alimentos através do uso de pistas de
fome e saciedade para iniciar ou terminar uma refeição, detendo assim um
mecanismo autorregulador (Birch & Deysher, 1985, 1986; Birch & Fisher, 1998).
No entanto, esta capacidade de autocontrolo pode ser diminuída devido a
abordagens controladoras dos pais como as do tipo restritivo (e.g., Birch et al., 2003; Carper et al., 2000).
Deste modo, os indivíduos deixam de seguir pistas internas para iniciar ou
terminar de comer e aprendem a usar pistas externas, como por exemplo as
emoções (Strien & Bazelier, 2007). Assim, a relação
direta encontrada no presente estudo entre mensagens alimentares do tipo
restritivo e sintomatologia de compulsão alimentar parece estar em consonância
com os dados da literatura existente.
Adicionalmente, os dados parecem suportar que as
mensagens parentais precoces de restrição e crítica em relação ao padrão
alimentar poderão funcionar como experiências precoces de vergonha que se
associam ao desenvolvimento de sentimentos de inadequação ou inferioridade em
relação à imagem corporal e, consequentemente, a uma menor capacidade de
cultivar uma atitude positiva, de apreciação e respeito em relação à imagem
corporal, e ainda a uma menor capacidade de controlo alimentar. Estes dados
suportam a relação entre memórias de mensagens parentais de crítica em relação
à alimentação e menores níveis de apreço e respeito em relação às
características individuais da aparência física (Kroon Van Diest & Tylka, 2010). Por outro lado, embora este seja o primeiro
estudo, que seja do nosso conhecimento, que demonstra a relação negativa entre
uma atitude de apreciação e respeito da imagem corporal e a severidade da
sintomatologia da ingestão compulsiva, este dado está em conformidade com
estudos existentes (e.g., Máximo, Ferreira, &
Marta-Simões, 2017). De facto, recentemente Máximo e colaboradores (2017) revelaram que menores níveis de aceitação e gentileza
para com as características únicas do próprio corpo poderão refletir-se numa
maior propensão para adotar atitudes e comportamentos alimentares perturbados.
Os presentes resultados devem ser analisados
atendendo a algumas limitações. A principal limitação é a natureza transversal
deste estudo, a qual não permite retirar conclusões de causalidade. Deste modo,
futuros estudos devem testar estes efeitos de mediação recorrendo a um planeamento
longitudinal. Adicionalmente a amostra utilizada neste estudo pode limitar a
generalização dos resultados visto se tratar de uma amostra da população geral
constituída maioritariamente por mulheres. Outros estudos serão necessários de
forma a confirmar os resultados em amostras com uma distribuição mais homogénea
por géneros e em outros grupos etários (e.g., adolescentes), assim como em
amostras clínicas (e.g., doentes com Perturbação de Ingestão Alimentar
Compulsiva). A utilização exclusiva de questionários de autorresposta pode ser considerada
outra limitação, uma vez que este tipo de medidas se associa a subjetividade e,
portanto, a possíveis enviesamentos nos resultados. Investigações futuras devem
recorrer a entrevistas, de forma a testar a plausibilidade deste modelo.
Adicionalmente, por pretender estudar uma hipótese em específico, o modelo foi
limitado à exploração das variáveis mensagens alimentares transmitidas pelos
cuidadores, apreciação da imagem corporal e sintomatologia de compulsão
alimentar. Contudo, dada a natureza multideterminada das dificuldades
associadas à imagem corporal e à sintomatologia de compulsão alimentar, futuras
investigações deverão incluir outras variáveis (e.g., diferentes processos de
regulação emocional).
Em conclusão, o presente estudo sugere que indivíduos,
tanto do sexo masculino como do sexo feminino, que receberam por parte dos
cuidadores mais mensagens de restrição e crítica acerca da sua alimentação têm
tendência a apresentarem menores níveis de aceitação e gentileza para com as
características únicas do próprio corpo, e uma maior propensão para
apresentarem maior severidade da sintomatologia de compulsão alimentar. Os
presentes resultados parecem ter implicações aos níveis da prática clínica e da
investigação, destacando a importância do desenvolvimento de programas de
prevenção para aumentar a conscientização dos cuidadores sobre a natureza insidiosa
das mensagens alimentares restritivas, ensinando-os a substituir este tipo de
mensagens maladaptativas por outras mais adaptativas que promovam o desenvolvimento
de uma atitude positiva face à sua imagem corporal e estratégias de
autorregulação da ingestão alimentar. Finalmente, o presente estudo para além
de enfatizar a relevância de avaliar mensagens dos cuidadores sobre a
alimentação e o seu impacto no padrão alimentar atual do indivíduo, salienta a
necessidade do desenvolvimento de estratégias de regulação emocional
adaptativas para lidar com estas memórias e a ativação emocional associada.
Adicionalmente, este estudo sublinha a importância de se desenvolverem
competências autocompassivas e de aceitação, respeito e bondade para com as
características únicas da imagem corporal em programas de intervenção e
prevenção de ingestão alimentar compulsiva.
Conflito de interesses: nenhum.
Fontes de financiamento: nenhuma.
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Recolha e tratamento dos dados; Redação do manuscrito e Revisão crítica no
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ⓘ PhD. Contributo para a obtenção e adaptação do instrumento de medida; Revisão
da redação final do manuscrito e Revisão crítica no âmbito científico da
estatística. Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental
(CINEICC). Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de
Coimbra, Portugal.