2016, Vol. 2(1):
14-24
Ajustamento
Mental ao Cancro do Pulmão: o papel da autocompaixão e do suporte social
Artigo Original
Rute Batista ⓘ ✉, Marina Cunha
ⓘ, Ana Galhardo
ⓘ, Margarida
Couto ⓘ
https://doi.org/10.7342/ismt.rpics.2016.2.1.30
Recebido 07 setembro 2015
Aceite 12 janeiro 2016
Objetivos: É bem conhecido o impacto que o diagnóstico de uma doença
oncológica tem ao nível do ajustamento psicológico em doentes com cancro do
pulmão. Por outro lado, sabe-se que a sintomatologia depressiva pode, também,
sobrepor-se aos sintomas físicos do cancro e tratamento oncológico, o que
dificulta a sua deteção e adequada abordagem terapêutica. O presente trabalho
pretende explorar em que medida a autocompaixão e o suporte social são
preditores do ajustamento mental e estados afetivos negativos em doentes com
cancro do pulmão.
Métodos: A amostra é constituída por 55 indivíduos (38 homens e 17 mulheres)
diagnosticados com cancro do pulmão e com idades compreendidas entre os 44 e os
87 anos. Como instrumentos de medida foram utilizadas a Escala de Ajustamento
Mental ao Cancro (MiniMac), a Escala de Autocompaixão (SELFCS), a Escala de
Satisfação com o Suporte Social (ESSS) e a Escala de Ansiedade, Depressão e Stress
(EADS-21).
Resultados: Foram encontradas correlações significativas entre o
ajustamento mental, a psicopatologia e as estratégias de regulação emocional
(autocompaixão) e suporte social. Os modelos preditores do ajustamento mental e
da sintomatologia associada ao stress incluem dimensões da autocompaixão
e o suporte social como variáveis preditoras significativas. Já em relação ao
modelo preditor da sintomatologia depressiva, o mindfulness parece ser a
única variável com um contributo relevante.
Conclusões: Estes resultados têm implicações práticas, sugerindo que
estes doentes podem no seu programa terapêutico beneficiar do desenvolvimento
deste tipo de estratégias (novas formas de se relacionarem com as suas
experiências emocionais e qualidade das suas redes sociais) no sentido de
promover um melhor ajustamento mental à sua condição.
Palavras chave:
Cancro do pulmão · Ajustamento mental ·
Psicopatologia · Autocompaixão · Suporte social
O cancro é uma doença de origem genética
causada por mutações do ácido desoxirribonucleico (ADN). Existem mais de 200
tipos de cancro, entre os quais os mais incidentes são os da mama, do pulmão,
do colorretal e da próstata (Bower & Waxman 2006).
De doença rara no passado, o cancro do
pulmão transformou-se na doença neoplásica mais comum e mais mortal, em todo o mundo
(Zamboni, 2002),
sendo, a nível mundial, responsável por 1,8 milhões de novos casos em 2012 (Ferlay et al., 2008). Em Portugal, o cancro
do pulmão é considerado a principal causa de
morte por cancro no sexo masculino (Ferlay et al., 2008).
Menos frequente no sexo feminino, corresponde apenas a uma taxa de 20% do número
total de casos, verificando-se, contudo, nos últimos anos, uma tendência para aumentar (Alves, Bastos, & Lunet, 2009). De realçar também que a taxa de
incidência de cancro do pulmão tem vindo a crescer, independentemente da etnia,
condições socioeconómicas ou geográficas (Ferlay
et al., 2008; Parente et al., 2007).
Apesar das causas do cancro do pulmão serem
predominantemente ambientais, é provável que exista uma variação individual
substancial na suscetibilidade aos carcinogéneos respiratórios. O risco de
neoplasia pode ser conceptualizado como reflexo das consequências conjuntas e
da inter-relação entre a exposição aos agentes etiológicos ou protetores e a
suscetibilidade individual a esses agentes (Alberg & Samet, 2003).
Tendo em conta a etiologia multifatorial do cancro do pulmão, as interações
sinérgicas entre os vários fatores de risco podem ter consequências
substanciais para o desenvolvimento da doença, referindo-se como exemplo o
sinergismo entre hábitos tabágicos e a exposição ao amianto.
Relativamente ao tratamento desta doença, em
quase todos os tipos de cancro existem opções de tratamento consideradas
eficazes, entre elas a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia, devendo o
tratamento adaptar-se a cada caso, de acordo com a realidade de cada paciente (Ogden, 1999; Straub, 2005). Na
revisão da literatura é amplamente reconhecido que os doentes oncológicos, ao
longo de todo o percurso associado à doença (diagnóstico, tratamento e follow-up), desenvolvem problemas a
nível psicológico, sendo por vezes frequente o aparecimento de sintomas de
ansiedade e de depressão com relevância clínica, assim como uma diminuição na
sua qualidade de vida (Santos & Pais-Ribeiro,
2001; Marques et al., 1991).
Sofrimento psicológico e cancro do pulmão
O doente com patologia oncológica sofre
mudanças, designadamente físicas (alterações da imagem corporal), psicológicas,
sociais (perda de papéis) e espirituais (perda do sentido da vida) (Pereira & Lopes, 2005).
Entre as alterações psicológicas mais evidentes, Pereira e Lopes (2005) apontam a ansiedade, a depressão, a
expressão de sentimentos de medo, a raiva, a revolta, a desesperança, a culpa e
os sentimentos suicidas. Stommel, Kurtz, Kurtz, Given e Given (2004) encontraram nos seus estudos valores
de depressão mais elevados em doentes com cancro do pulmão comparativamente a
doentes com cancro da mama, do cólon e da próstata. Este facto constitui um
pesado fator de risco, dado que a sintomatologia depressiva pode, também,
sobrepor-se e/ou confundir-se com sintomas físicos do cancro e do seu
tratamento, o que dificulta a deteção da depressão e adequada abordagem
terapêutica (Domingues & Albuquerque, 2008).
Outro dado importante é o facto da
experiência do estigma no cancro do pulmão ser moldada pela associação entre a
doença e o consumo de tabaco, pela perceção da doença como uma lesão
autoinfligida, pela sua elevada taxa de mortalidade e pelo tipo de morte, com
grande sofrimento (Domingues & Albuquerque, 2008). Assim,
segundo Domingues e Albuquerque (2008), características
da doença como mau prognóstico, a culpabilidade do doente relativamente a
comportamentos de risco ao longo da vida, nomeadamente tabagismo, e o estigma
associado ao consumo de tabaco e cancro do pulmão são apontados como fatores
responsáveis pela elevada prevalência de maior sofrimento psicológico em
doentes com este tipo de cancro.
Autocompaixão e saúde/doença
Partindo da tradição Budista e da Psicologia
Social, Neff (2003b) descreve
a autocompaixão como uma atitude calorosa e de aceitação em relação aos aspetos
negativos do self ou da vida. Segundo
esta linha de pensamento, distinguem-se três componentes principais: (a)
componente de calor/compreensão, isto é, a capacidade para ser amável e compreensível
para consigo próprio, em vez de uma atitude demasiada crítica e punitiva; (b)
componente de condição humana, que significa entender as próprias experiências
como parte de uma experiência humana mais abrangente por oposição ao
isolamento; e (c) componente de mindfulness, referente à consciência
equilibrada e aceitação dos sentimentos e sentimentos dolorosos, sem uma
excessiva sobreidentificação com os mesmos.
Este conjunto de competências associadas à
(auto)compaixão tem vindo a ser estudado como um processo de regulação
emocional já que pode ser traduzido por uma forma particular de lidar com
experiências dolorosas, evidenciando um efeito protetor relativamente ao
desenvolvimento de psicopatologia. Na verdade, os estudos de Leary, Tate,
Adams, Allen e Hancock (2007) mostram
como a autocompaixão é capaz de moderar as reações a acontecimentos negativos
(fracasso, rejeição, vergonha), amortecendo o impacto destes acontecimentos
negativos para o indivíduo. Este efeito amortecedor poderá estar também relacionado
com o facto dos indivíduos mais compassivos serem menos autocríticos, fazerem
avaliações mais realistas dos seus desempenhos, terem mais tolerância e
compreensão pelo Eu e a autoavaliação não depender tanto da qualidade ou
quantidade dos resultados obtidos.
No domínio da oncologia, o estudo de
Pinto-Gouveia, Duarte, Matos e Fráguas (2013)
realizado com pacientes diagnosticados com cancro, realçou o papel relevante da
autocompaixão no funcionamento psicológico destes indivíduos. Os autores
verificaram que os pacientes com níveis mais elevados de autocompaixão
apresentavam um melhor funcionamento psicológico, nomeadamente, uma menor
sintomatologia ansiosa, depressiva e associada ao stress.
Por sua vez, a autocompaixão tem-se mostrado
fortemente associada ao bem-estar psicológico, à felicidade, à satisfação com a
vida, ao otimismo, à inteligência emocional e relações interpessoais (Neff, Kirkpatrick, & Rude,
2007; Neff, Rude, & Kirkpatrick, 2007; Neff & Costigan, 2014).
O facto das competências de autocompaixão se mostrarem associadas à capacidade
de gerir a adversidade e de fazer mudanças necessárias na vida (Neff et al., 2007), pode ser
particularmente relevante nos indivíduos com doença oncológica tendo em conta
os desafios próprios desta condição.
Suporte Social e saúde/doença
O suporte ou o apoio social é um termo
abrangente que diz respeito não só à coesão e à quantidade de relações sociais
que o indivíduo estabelece, mas também à força e frequência dos laços
constituídos e ao modo como tal sistema de apoio é percebido. Assim, de acordo
com Stewart, Craig, MacPherson, & Alexander (2001),
o suporte social pode ser conceptualizado como a interação com familiares,
amigos, profissionais e pares que providenciam informação, confiança, ajuda e
estima.
A perceção da disponibilidade do suporte
social tem estado consistentemente associada a uma melhor adaptação fisiológica
e psicológica (Custódio,
2010). Na vida do adulto com cancro, as redes de apoio são
benéficas quando prestam apoio de forma a influenciar positivamente a saúde (Rodrigues & Ferreira, 2012). Segundo
Usta (2012), o apoio social tem uma
importância extraordinária no confronto com problemas psicológicos, como
ansiedade e depressão, ambas comuns em doentes com cancro.
Apesar da diversidade de definições, parece
haver consenso no que se refere à importância do suporte social na diminuição
dos efeitos nefastos do stress, bem como na promoção do bem-estar e
qualidade de vida do indivíduo (Pais-Ribeiro, 1999).
Esta multiplicidade de conceptualizações do
suporte social tem-se refletido na forma como este constructo tem sido medido,
originando vários instrumentos de avaliação que realçam, cada um deles,
diferentes componentes ou dimensões do suporte social, sem, no entanto, o
contemplar na sua totalidade. A este propósito, Pais-Ribeiro (1999) desenvolveu a Escala de
Satisfação com o Suporte Social a qual pretende medir o grau de satisfação com
o suporte social existente, partindo do pressuposto de que “as medidas de
perceção de suporte social explicam melhor a saúde do que as de suporte social
tangível” (Pais-Ribeiro, 1999,
p. 552).
Neste enquadramento teórico, a satisfação
com o suporte social refere-se a um julgamento pessoal do individuo sobre as
suas necessidades de suporte, o que recebe para as satisfazer, bem como o custo
estimado desse apoio. De acordo com estes autores, trata-se de uma dimensão
subjetiva que é fundamental para o bem-estar e qualidade de vida, tanto em
populações saudáveis como doentes. No estudo da adaptação da referida escala a
pessoas com doença oncológica, os dados corroboraram a aplicabilidade deste
constructo teórico nas suas diferentes dimensões às características da doença
oncológica (Santos, Pais-Ribeiro, &
Lopes, 2003).
Adicionalmente, a satisfação com o suporte
social mostrou-se correlacionada com o processo de adaptação à doença
oncológica e aos resultados de saúde, nomeadamente a qualidade de vida. Ainda,
neste estudo, não foram encontradas diferenças significativas na satisfação com
o suporte social em função dos grupos de doença oncológica, o que está em
consonância com a literatura que aponta o papel pouco relevante do tipo de
cancro no processo de coping e seus recursos (Santos
et al., 2003).
O presente estudo tem como principal
objetivo avaliar o contributo (papel preditor) da autocompaixão e da satisfação
com o suporte social para o ajustamento mental e consequentes sintomas
emocionais negativos de doentes com cancro do pulmão. Paralelamente foi
explorado se variáveis clínicas como ser ou não fumador, ter ou não
antecedentes familiares oncológicos, o tempo de conhecimento do diagnóstico e a
perceção da gravidade da doença poderiam afetar as estratégias de coping,
o suporte social, a autocompaixão, e sintomas emocionais negativos.
Participantes
Para o presente estudo foi usada uma amostra por conveniência, recolhida
no Hospital de Dia de Oncologia do Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra.
A amostra é constituída por 55 doentes diagnosticados com cancro do
pulmão, independentemente do seu estádio e da existência de comorbilidades com
outras patologias orgânicas. Foram admitidos doentes de ambos os sexos,
mediante o respeito pelos seguintes critérios de inclusão: a) idade superior a
18 anos; b) diagnóstico de cancro do pulmão; c) garantia de que os
participantes não receberam ou estejam a receber apoio psicológico, relacionado
com a doença, até à data (de forma a evitar uma contaminação dos resultados no
que diz respeito ao ajustamento mental dos indivíduos à doença oncológica).
Fizeram parte da amostra 38 homens (69%) e 17 mulheres (31%), com idades
compreendidas entre os 44 e os 87 anos, sendo a média de idades de 66,36 (DP
= 9,60).
Relativamente ao estado civil, 5 indivíduos (9,1%) são solteiros, 38
(69,1%) são casados, 3 (5,5%) são divorciados e 9 (16,4) são viúvos. No que diz
respeito ao nível socioeconómico, 9 participantes (16,4%) percecionam o seu
nível como baixo, 28 (50,9%) percecionam como médio baixo, 17 (30,9%)
consideram ter um nível médio e 1 indivíduo (1,8%) considera ter um nível
socioeconómico médio alto.
Quanto ao meio de residência, o mais prevalente é o meio rural (63,2% no
sexo masculino e 88,2% no sexo feminino), sendo que no meio urbano residem
apenas 14 homens (36,8%) e 2 mulheres (11,8%).
A Escala Reduzida de
Ajustamento Mental ao Cancro (The Mini-Mental Adjustment to
Cancer Scale — MiniMac; Watson, Greer, Inayat, Burgess, & Robertson, 1994, versão portuguesa de Pais-Ribeiro, Ramos &
Samico, 2003) inclui 29 itens que avaliam as estratégias de coping utilizadas pelos doentes
oncológicos, isto é, a forma como os sujeitos lidam com o diagnóstico e
tratamento de cancro. Os itens distribuem-se por cinco subescalas que cobrem as
dimensões: Desânimo/Fraqueza (e.g., “Sinto que a vida não tem esperança”)
caracterizada pelo pessimismo e a ausência de estratégias de combate ativo da
doença; Preocupação Ansiosa (e.g., “Estou preocupado que a doença volte a
aparecer”) caracterizada por uma ansiedade persistente; Espírito de luta (e.g.,
“estou determinado a vencer a minha doença”) refere-se a um padrão de resposta
dominado por uma atitude otimista; Evitamento Cognitivo (e.g., “faço um esforço
positivo para não pensar na minha doença”) o qual remete para a recusa do
conhecimento do diagnóstico; e Fatalismo (e.g., Entreguei-me nas mão de Deus”)
o qual diz respeito à aceitação passiva da doença. Os itens são cotados numa
escala de 0 a 3 pontos, permitindo a MiniMac obter cinco pontuações referentes
a cada uma das dimensões mencionadas. Na versão portuguesa, validada por
Pais-Ribeiro, Ramos e Samico (2003), os
resultados apontaram para valores de consistência interna aceitáveis para
quatro das cinco dimensões (Desânimo/Fraqueza: α = 0,79; Preocupação ansiosa: α =
0,88; Evitamento cognitivo: α = 0,84; Espírito de Luta: α =
0,72), sendo a dimensão “Fatalismo” a exceção (α = 0,28).
A Escala da Autocompaixão
(Self-Compassion Scale — SELFCS; Neff,
2003a; versão portuguesa de Castilho
& Pinto-Gouveia, 2011) é composta por 26 itens que
procuram avaliar a autocompaixão do indivíduo, enquanto traço. Cada item é
respondido com base numa escala de 0 a 5 pontos. Para além da pontuação total,
a escala permite obter pontuações referentes aos seis fatores que a constituem:
Calor/Compreensão (e.g., “Tento ser compreensivo e paciente em relação aos
aspetos da minha personalidade e que não gosto”); Autocrítica (e.g.,
“Desaprovo-me e faço julgamentos acerca dos meus erros e inadequações”;
Humanidade Comum (e.g., “Tento ver os meus erros e falhas como parte da
condição humana”); Isolamento (e.g., “Quando penso acerca das minhas
inadequações e defeitos sinto-me mais separado e desligado do resto do mundo”);
Mindfulness (e.g., “Quando alguma coisa dolorosa acontece tento ter uma
visão equilibrada da situação”) e Sobreidentificação (e.g., “Quando me sinto em
baixo tendo a ficar obcecado com tudo aquilo que está errado”). A versão
portuguesa apresenta uma boa consistência interna para o total da escala 0,89
(na versão original americana 0,92), uma boa fidelidade temporal 0,78 (na
versão original americana 0,93) e boa validade de constructo (Castilho & Pinto-Gouveia, 2011).
A Escala de Satisfação com o
Suporte Social (ESSS; Pais-Ribeiro, 1999) avalia a satisfação sentida pelo
indivíduo relativamente ao suporte social percebido. É constituída por 15 itens
que se organizam em 4 fatores: satisfação com os amigos, intimidade, satisfação
com a família e atividades sociais, sendo cada item cotado numa escala entre 1
e 5 pontos. O Total da escala revela uma boa consistência interna (α =
0,85) e as subescalas apresentam valores alfa de Cronbach que variam entre 0,64
(Atividades Sociais) e 0,83 (Satisfação com os Amigos) (Pais-Ribeiro, 1999).
A Escala de Depressão,
Ansiedade e Stress (Depression, Anxiety and Stress Scale
— DASS-21; Lovibond
& Lovibond, 1995, EADS-21, versão portuguesa de Pais-Ribeiro, Honrado, & Leal, 2004)
é composta por 21 itens que avaliam três dimensões de sintomas emocionais
negativos: Depressão, Ansiedade e Stress, cada uma constituída por 7 itens,
utilizando uma escala de resposta de 4 pontos, entre 0 e 3. A versão portuguesa
evidenciou valores adequados de consistência interna com valores de alfa de
Cronbach que variaram entre 0,74 e 0,85 (Pais-Ribeiro, Honrado, & Leal, 2004).
Procedimento
O projeto de investigação foi submetido à apreciação da Comissão de ética do
Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra, tendo o mesmo sido aprovado.
Para a recolha de dados, foi aplicada uma bateria de questionários de
autorresposta concebida para analisar o papel/impacto da autocompaixão e do
suporte social no que respeita ao ajustamento mental ao cancro do pulmão,
avaliando ainda os sintomas emocionais negativos: depressão, ansiedade e stress
dos participantes.
Os instrumentos foram administrados individualmente, em contexto de
gabinete enquanto os doentes se encontravam no serviço a aguardar consultas
e/ou a realização de tratamentos, demorando o seu preenchimento cerca de 20
minutos. Previamente ao preenchimento os participantes foram informados acerca
dos objetivos do estudo, do facto de a sua participação ser voluntária e de ser
assegurada a confidencialidade e anonimato dos dados recolhidos. Todos os
participantes deram o seu consentimento informado por escrito.
Os indivíduos que manifestaram grandes dificuldades de ajustamento à doença e/ou níveis significativos de sintomas emocionais negativos,
foram, consequentemente, aconselhados/encaminhados para acompanhamento psicológico no serviço, através das consultas de
Psico-Oncologia.
Procedimento Estatístico
Para o tratamento estatístico, recorreu-se ao software estatístico Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS), versão 21.0.
A análise da consistência
interna dos vários instrumentos medida foi calculada através do método estatístico
alfa de Cronbach. Para a comparação de médias
entre dois grupos utilizámos o teste t de Student para amostras
independentes. O coeficiente de correlação de Pearson foi utilizado para
analisar o grau de associação
entre variáveis contínuas.
Foi analisado o conjunto de variáveis que melhor prediz o ajustamento
mental à doença e aos sintomas emocionais negativos
através do modelo de Análise
de Regressão Linear. Num primeiro momento, foram averiguados os pressupostos
para a realização destas análises, sendo cumprido o critério do tamanho da amostra e da ausência de multicolineridade (todas
as variáveis independentes apresentaram valores de tolerância superiores a 0,10
e VIFs inferiores a 10) (Tabachnick & Fidell, 2007).
Não obstante as variáveis não seguirem uma distribuição normal (o
pressuposto de normalidade foi analisado através do teste de Kolmogorov-Smirnov), os valores de assimetria e
achatamento não evidenciam graves enviesamentos. Segundo Kline (2005), valores de assimetria |< 3| e de achatamento |<
10| são aceitáveis.
Caracterização clínica
da amostra
As características clínicas da amostra em estudo
estão apresentadas na Tabela 1.
|
Dados
Clínicos da Amostra (N = 55) |
|
|||
|
|
|
Amostra Total (N = 55) |
|
|
|
|
|
n |
% |
|
|
Fumador |
Sim |
29 |
52,7 |
|
|
Não |
26 |
47,3 |
|
|
|
Antecedente familiar oncológico |
Sim |
25 |
45,5 |
|
|
Não |
30 |
54,5 |
|
|
|
Antecedente familiar idêntico |
Sim |
8 |
14,5 |
|
|
Não |
17 |
30,9 |
|
|
|
|
|
M |
DP |
|
|
Tempo de Fumador (meses) |
394,34 |
170,76 |
|
|
|
Conhecimento diagnóstico (meses) |
25,25 |
41,92 |
|
|
|
Perceção da doença |
2,24 |
0,86 |
|
|
|
Nota. n = frequência/numero de sujeitos; M = Média; DP = Desvio padrão. |
|
Na avaliação da variável “perceção da doença”
referente à ideia que os indivíduos têm acerca da gravidade e evolução da
doença, foi utilizada uma escala de resposta de 5 pontos (1 = Muito Má; 2 = Má;
3 = Razoável; 4 = Boa; 5 = Muito Boa). Constata-se que existem diferenças
estatisticamente significativas da perceção da doença em função do sexo [t(53)
= -2,09, p = 0,041], percecionando as mulheres a situação clínica como
mais grave (M = 2,59, DP = 0,87), comparativamente aos homens (M
= 2,08; DP = 0,82).
Na Tabela 2 encontram-se expostos os valores médios
obtidos nos instrumentos de medida. Foram exploradas eventuais diferenças
significativas em função do sexo, e apenas a dimensão autocrítica revelou uma
diferença estatisticamente significativa [t(53) = 2,10; p =
0,041], com os homens a revelarem valores mais elevados (M = 3,01, DP
= 0,83), comparativamente às mulheres (M = 2,48, DP = 0,91).
Relativamente à idade e ao tempo de conhecimento
acerca do diagnóstico não foram encontradas correlações estatisticamente
significativas com nenhuma das variáveis em estudo.
Influência
das variáveis clínicas
Adicionalmente procurámos analisar se algumas
variáveis clínicas (e.g., ser ou não fumador, ter ou não antecedentes
familiares oncológicos, o tempo de conhecimento de diagnóstico e a perceção da
gravidade da doença) poderiam afetar os resultados nos instrumentos de medida
(estratégias de coping, suporte social, autocompaixão, e sintomas
emocionais negativos).
Relativamente à variável “fumador”, verificaram-se
diferenças significativas na dimensão Fatalismo (MiniMac) [t(53) =
-2,35; p = 0,022], na subescala autocrítica (SELFCS) [t(53) =
2,13, p = 0,038], no total da escala da autocompaixão (SELFCS) [t(53)
= -2,28, p = 0,027], no fator satisfação com os amigos (ESSS) [t(53)
= -2,38; p = 0,021] e na subescala de sintomatologia depressiva
(EADS-21) [t(53) = 2,00; p =0,050]. Os fumadores, comparativamente aos
não-fumadores, apresentaram menores níveis de fatalismo (M = 14,31 vs. M
= 15,73), são mais autocríticos (M = 3,08 vs. M = 2,58), são
menos autocompassivos no geral (M = 3,28 vs. M = 3,61), sentem-se
menos satisfeitos com o suporte dos amigos (M = 18,28 vs. M =
20,58) e apresentam mais sintomatologia depressiva (M = 3,24 vs. M
= 1,65).
|
Valores Médios e de Consistência Interna (alfa de Cronbach) dos
Instrumentos de Medida (N = 55) |
|
|||
|
|
M |
DP |
α |
|
|
MM-Desânimo/fraqueza |
14,42 |
4,46 |
0,89 |
|
|
MM-PerturbaçãoAnsiosa |
19,51 |
5,50 |
0,90 |
|
|
MM-EspíritoLuta |
12,51 |
1,73 |
0,66 |
|
|
MM-EvitamentoCognitivo |
11,29 |
2,57 |
0,85 |
|
|
MM-Fatalismo |
14,98 |
2,33 |
0,66 |
|
|
Total-Selfcs |
3,49 |
0,67 |
0,92 |
|
|
Selfcs-calor/compreensão |
2,84 |
0,88 |
0,84 |
|
|
Selfcs-Autocrítica |
3,54 |
0,68 |
0,84 |
|
|
Selfcs-Condição Humana |
2,57 |
0,82 |
0,79 |
|
|
Selfcs-Isolamento |
3,65 |
0,64 |
0,73 |
|
|
Selfcs-Mindfulness |
2,78 |
0,89 |
0,82 |
|
|
Selfcs-Sobreidentificação |
19,36 |
3,73 |
0,84 |
|
|
Total-Esss |
15,89 |
3,17 |
0,83 |
|
|
Esss-SatisfaçãoAmigos |
12,69 |
2,50 |
0,75 |
|
|
Esss-Intimidade |
9,35 |
2,90 |
0,64 |
|
|
Esss-SatisfaçãoFamilia |
57,29 |
9,14 |
0,80 |
|
|
Esss-ActividadesSociais |
2,25 |
2,23 |
0,55 |
|
|
DASS21-Ansiedade |
2,49 |
3,02 |
0,63 |
|
|
DASS21-Depressão |
5,49 |
3,70 |
0,84 |
|
|
DASS21-Stress |
3,44 |
0,56 |
0,79 |
|
|
Nota. MM = Mini-Mental
Adjustment to Cancer Scale; SELFCS = Self-Compassion Scale; ESSS =
Escala de Satisfação com o Suporte Social; DASS = Depression, Anxiety and
Stress Scale. n = frequência/numero de sujeitos; M = Média; DP = Desvio padrão; α = alfa de Cronbach. |
|
No que respeita à variável “antecedente familiar oncológico”
observaram-se diferenças estatisticamente significativas em relação ao fator
intimidade [ESSS: t(53) = -2,14; p = 0,037], evidenciando os
sujeitos com algum tipo de antecedente familiar oncológico níveis mais baixos
de “intimidade” no suporte social, comparativamente aos sujeitos sem qualquer
antecedente familiar (M = 14,92 vs. M = 16,70).
A variável referente ao tempo que tinham conhecimento do diagnóstico não
se mostrou correlacionada com nenhuma das variáveis em estudo (p >
0,05).
Por último, no que toca à variável perceção da gravidade da doença, esta
evidencia uma correlação negativa e significativa com as dimensões de
Desânimo/Fraqueza (r = -0,28; p = 0,040) e Preocupação Ansiosa (r
= – 0,45; p = 0,001) da MiniMac. Isto significa que quanto mais grave é
percecionada a doença pelo doente, maiores níveis de desânimo/fraqueza e
preocupação ansiosa apresenta.
Análise das
correlações entre Ajustamento Mental ao Cancro (Desânimo, Preocupação Ansiosa,
Evitamento Cognitivo) e Sintomas emocionais negativos (Depressão, Stress) e as
restantes variáveis em estudo (dimensões da autocompaixão e do suporte Social)
Na Tabela 3 apresentamos os coeficientes de correlação de Pearson entre
as variáveis ajustamento mental ao cancro, autocompaixão, suporte social e
sintomas emocionais negativos. Nesta análise, optámos por selecionar apenas as
subescalas da MiniMac que evidenciaram consistências internas adequadas
(Desânimo/fraqueza, Preocupação Ansiosa e Evitamento Cognitivo: alfa de
Cronbach igual a 0,89, 0,90 e 0,85, respetivamente).
Relativamente aos sintomas emocionais negativos, optámos por analisar
apenas as dimensões de Depressão e Stress, uma vez que a escala de
Ansiedade revelou nesta amostra uma consistência interna abaixo do
recomendável.
|
Análise das Correlações entre Outcomes (Dimensões de Desânimo,
Preocupação Ansiosa, Evitamento Cognitivo, Depressão e Stress) e as Restantes
Variáveis em Estudo (Dimensões da Auto-compaixão e Suporte Social) |
|
|||||
|
|
MM Desânimo |
MM Preoc. Ansiosa |
MM Evitamento Cognitivo |
DASS Depressão |
DASS Stress |
|
|
Total SELFCS |
-0,18 |
-0,26 |
0,25 |
-0,28* |
-0,26 |
|
|
Calor/compreensão |
-0,00 |
-0,02 |
0,27* |
-0,09 |
-0,00 |
|
|
Condição Humana |
0,08 |
0,17 |
0,24 |
0,06 |
0,18 |
|
|
Mindfulness |
-0,38** |
-0,23 |
0,37** |
-0,41** |
-0,24 |
|
|
Autocrítica |
0,02 |
0,29* |
-0,17 |
0,15 |
0,27* |
|
|
Sobreidentificação |
0,19 |
0,39** |
-0,09 |
0,31* |
0,41** |
|
|
Isolamento |
0,24 |
0,30* |
-0,04 |
0,33* |
0,31** |
|
|
Total ESSS |
-0,39** |
-0,13 |
0,15 |
-0,29* |
-0,51*** |
|
|
Satisfação Amigos |
-0,20 |
-0,01 |
0,17 |
-0,32** |
-0,48*** |
|
|
Satisfação Família |
-0,40** |
-0,07 |
0,23 |
-0,31* |
-0,35*** |
|
|
Intimidade |
-0,39** |
-0,06 |
0,06 |
-0,11 |
-0,25 |
|
|
Atividades Sociais |
-0,22 |
-0,27 |
0,00 |
-0,13 |
-0,43*** |
|
|
DASS-Depressão |
0,57*** |
0,44*** |
-0,15 |
— |
0,57*** |
|
|
DASS-Stress |
0,23 |
0,34* |
-0,15 |
0,57*** |
— |
|
|
Nota.
SELFCS = Self-Compassion Scale; ESSS = Escala de Satisfação com o
Suporte Social; DASS = Depression, Anxiety and Stress Scale; MM =
Mini-Mental Adjustment to Cancer Scale. * p < 0,05; **p < 0,005;
***p < 0,001. |
|
De acordo com a Tabela 3, podemos observar que a dimensão desânimo/fraqueza
encontra-se associada significativamente, de forma positiva e moderada, com a
depressão. Por sua vez, mostra uma associação negativa baixa com a subescala de
mindfulness, e com o total da escala de suporte social, bem como com as
suas dimensões de intimidade e de satisfação com o suporte da família.
Em relação à dimensão preocupação ansiosa, verificaram-se
associações positivas e estatisticamente significativas com as medidas de autocrítica,
isolamento, sobreidentificação depressão e stress.
Por último, a estratégia de evitamento cognitivo apenas evidenciou
uma associação positiva baixa com as dimensões de Calor/compreensão e de
Mindfulness (da escala de autocompaixão).
No que respeita aos sintomas emocionais negativos, os sintomas
depressivos encontram-se associados de forma positiva e estatisticamente
significativa com o isolamento e a sobreidentificação (dimensões da
autocompaixão), bem como com o nível de stress, estratégias de
desânimo/fraqueza e de preocupação ansiosa. Revelam ainda uma associação
negativa com o traço mindfulness, total da escala de suporte social,
satisfação com os amigos e satisfação com a família.
Por último os sintomas de stress mostram-se associados
positivamente à sobreidentificação, ao isolamento e à autocrítica, assim como
aos sintomas depressivos e estratégia de preocupação ansiosa. Reportam
igualmente uma associação negativa com o total da escala de suporte social, e
as dimensões de satisfação com amigos, com a família e com as atividades
sociais.
Variáveis preditoras
do Ajustamento Mental ao Cancro e de sintomas emocionais negativos
Para compreender qual o conjunto de variáveis que melhor contribui para o
ajustamento mental e os sintomas emocionais negativos, foram realizadas
análises de regressão linear múltipla, utilizando as dimensões da escala de
autocompaixão e o total da satisfação com o suporte social como preditores
(variáveis independentes).
Para o ajustamento mental, escolhemos a estratégia de Desânimo/Fraqueza
como variável critério (variável independente), uma vez que esta dimensão tem
sido uma das mais robustas e consistentes nos diversos estudos da MiniMac (Pais-Ribeiro et al., 2003).
Para a psicopatologia foi selecionada a depressão e o stress como
variável dependente. Nos vários modelos de regressão, tendo em conta o tamanho
da amostra, apenas foram consideradas as variáveis independentes que, numa
análise exploratória se tinham mostrado associadas à variável dependente (ver
Tabela 3).
Assim, no caso da estratégia de Desânimo/Fraqueza, (Tabela 4), o modelo
de predição foi significativo [R2 = 0,26; F(2, 52) =
9,04; p < 0,001], explicando as variáveis preditoras 26% da
variância. A satisfação com o suporte social na globalidade e as competências
de mindfulness foram ambos preditores significativos.
Na predição da depressão (Tabela 5), o modelo foi significativo [R2
= 0,23; F(4, 50) = 3,71; p = 0,010], explicando as variáveis
preditoras 23% da variância.
As competências de mindfulness emergiram como o único preditor
global.
|
Análise de Regressão Múltipla
Utilizando as Dimensões da Autocompaixão (SELFCS) e o Total da Satisfação com
o Suporte Social (ESSS) para Predizer a Sintomatologia Depressiva (DASS-21)
em Doentes com Cancro do Pulmão (N = 55) |
|
|||
|
|
Depressão (DASS-21) |
|
||
|
R2 |
β |
p |
|
|
|
|
0,23 |
|
|
|
|
SELFCS – Mindfulness |
|
-0,34 |
0,032 |
|
|
SELFCS – Isolamento |
|
0,15 |
0,422 |
|
|
SELFCS –
Sobreidentificação |
|
-0,06 |
0,768 |
|
|
ESSS- Suporte social
global |
|
-0,20 |
0,144 |
|
|
Nota. SELFCS = Self-Compassion Scale; ESSS = Escala
de Satisfação com o Suporte Social; DASS = Depression, Anxiety and Stress
Scale; MM = Mini-Mental Adjustment to Cancer Scale. |
|
No modelo preditivo para o stress (Tabela 6), os resultados
evidenciaram um modelo significativo [R2 = 0,35; F (4,
50) = 6,78; p < 0,001] que explica 35%, mostrando-se a variável
satisfação com o suporte social o melhor preditor (β = -0,46) seguido da
dimensão de sobreidentificação (β = 0,42).
|
Análise de Regressão Múltipla
Utilizando as Dimensões da Autocompaixão (SELFCS) e o Total da Satisfação com
o Suporte Social (ESSS) para Predizer a Sintomatologia Associada ao Stress (DASS-21) em Doentes com
Cancro do Pulmão (N = 55) |
|
|||
|
|
Stress
(DASS-21) |
|
||
|
R2 |
β |
p |
|
|
|
|
0,35 |
|
|
|
|
SELFCS – Autocrítica |
|
-0,04 |
0,806 |
|
|
SELFCS – Isolamento |
|
-0,14 |
0,444 |
|
|
SELFCS –
Sobreidentificação |
|
0,42 |
0,042 |
|
|
ESSS- Suporte social
global |
|
-0,46 |
0,001 |
|
|
Nota. SELFCS = Self-Compassion
Scale; ESSS = Escala de Satisfação com o Suporte Social; DASS = Depression,
Anxiety and Stress Scale; MM = Mini-Mental Adjustment to Cancer Scale. |
|
O presente estudo teve como objetivo primordial analisar o papel/impacto
da autocompaixão e do suporte social no ajustamento mental ao cancro do pulmão
e nos sintomas emocionais negativos associados. Procurou-se igualmente explorar
o papel do género e de variáveis clínicas sobre as dimensões anteriormente
referidas.
Começando pela análise das características demográficas e clínicas da
nossa amostra, verifica-se que a distribuição da doença por sexo foi semelhante
à encontrada nos estudos de Alves, Bastos e Lunet (2009)
que descreveram valores de 80% de incidência da doença no sexo masculino e 20%
no sexo feminino.
Relativamente ao meio de residência dos participantes, o mais frequente é
o meio rural, ainda que pouco expectável, uma vez que o meio urbano está
associado a maiores níveis de poluição e stress, aspetos esses
frequentemente aliados ao desenvolvimento do cancro do pulmão. Contudo, estes
resultados podem estar relacionados com outros fatores de risco para esta
doença, tais como a predisposição genética ou a radiação e outros agentes
químicos a que os indivíduos, ao longo de muito tempo, pudessem estar expostos (Alberg & Samet, 2003).
Ainda que não se tenha procedido a uma recolha sistematizada de informação
acerca da profissão, durante a administração dos instrumentos de avaliação, foi
possível constatar através dos relatos dos participantes que a profissão de
alguns esteve associada à exposição de gases, pós e outros agentes químicos e
radioativos, o que está em consonância com a revisão da literatura.
Quanto à perceção da gravidade da doença, verificou-se que o sexo
masculino tem melhor perceção acerca do diagnóstico e evolução da doença, sendo
que as mulheres têm maiores receios e uma visão geral mais negativista.
O presente estudo revelou um número baixo de fumadores diagnosticados com
neoplasia pulmonar, comparativamente com outros estudos, tais como os de Alberg
e Samet (2003) que afirmaram que 90% dos
casos de cancro do pulmão estavam ligados ao consumo de tabaco. Por outro lado,
os resultados revelados no nosso estudo referem-se a fumadores ativos, o que
significa que, de entre os indivíduos não fumadores, muitos podem ter sido
fumadores. Foram vários os participantes que consideraram terem sido por longos
anos fumadores passivos entre as suas rotinas diárias e o seu próprio local de
trabalho, dando a maioria os escritórios como exemplo.
Em relação à eventual influência das variáveis clínicas (e.g., ser ou não
fumador, ter ou não antecedentes familiares oncológicos, o tempo de
conhecimento de diagnóstico, e a perceção da gravidade da doença) no
ajustamento mental ao cancro, autocompaixão, suporte social percebido e sintomas
emocionais negativos, verificaram-se algumas associações relevantes. Os
indivíduos fumadores, comparativamente aos não-fumadores, apresentam menores
níveis de fatalismo (atitudes ausentes, serenidade sobre o diagnóstico e
aceitação passiva), são mais autocríticos (o que pode estar associado ao
sentimento de culpabilidade pela exposição a fatores de elevado risco), são
menos autocompassivos no geral (menos calorosos, tolerantes e aceitantes das
suas experiências internas e externas), sentem-se menos satisfeitos com o
suporte dos amigos (o que pode estar relacionado com o facto de, normalmente,
os amigos também serem fumadores e portanto acharem mais fácil terem adotado
esse comportamento) e apresentam mais sintomatologia depressiva (frequentemente
associada à elevada culpabilidade sentida).
No que respeita à variável “antecedente familiar oncológico”,
verificou-se que os sujeitos com algum tipo de antecedente familiar oncológico
apresentavam níveis mais baixos de “intimidade” nas relações sociais, ou seja,
menor satisfação com o suporte social íntimo.
A variável perceção da gravidade da doença evidenciou, como esperado, uma
correlação significativa com as estratégias de coping de
Desânimo/Fraqueza e Preocupação Ansiosa, mostrando que quanto mais grave é
percecionada a doença pelo doente, maiores níveis de desânimo/fraqueza e
preocupação ansiosa apresenta.
No que toca à forma como as variáveis em estudo (ajustamento mental,
suporte social autocompaixão e sintomas emocionais negativos) estão associadas
entre si, os resultados mostraram-se em consonância com as nossas expectativas
iniciais. A dimensão desânimo/fraqueza encontra-se associada de forma positiva
com a depressão, o que significa que quantos maiores são os níveis de
pessimismo e sentido de perda de saúde ou mesmo perda de controlo da doença,
maiores são também os níveis de sintomatologia depressiva. Por outro lado, esta
dimensão está ainda associada de forma negativa com as competências de mindfulness,
e com a satisfação global com o suporte social, nomeadamente com a satisfação
com o grau de intimidade das relações e satisfação com a família. Isto é,
quanto maior for o sentimento de pessimismo e perda de controlo da doença,
menor é a aceitação sem julgamento das nossas experiências, menor é a perceção
de ter alguém verdadeiramente íntimo com quem contar e menor é a satisfação
sentida em relação à família.
Quanto à subescala perturbação ansiosa, verificaram-se associações
positivas e significativas em relação às subescalas autocrítica, isolamento, sobreidentificação,
ansiedade, depressão e stress. Assim sendo, indivíduos marcados por uma
ansiedade persistente que procuram informação compulsivamente como resposta
comportamental sobre o cancro, são indivíduos que se revelam mais autocríticos,
com tendência a procurar o isolamento, a sobreidentificarem-se com os seus
pensamentos e sentimentos e apresentam maior sintomatologia ansiosa, depressiva
e associada ao stress.
Relativamente aos sintomas emocionais negativos referidos pela nossa
amostra (ansiedade, depressão e stress), os resultados evidenciaram correlações
significativas e no sentido esperado com as medidas em estudo. Mais
concretamente a depressão e o stress mostraram-se associados
positivamente a estratégias de coping negativo ou de desajustamento
(estratégia de Desânimo/fraqueza e Preocupação Ansiosa) e a mecanismos
emocionais ineficazes (isolamento e sobreidentificação com o sofrimento).
Inversamente, evidenciaram associações negativas com as estratégias
consideradas positivas ou facilitadoras de um bom ajustamento (compaixão
global, mindfulness, suporte social global, satisfação com o suporte dos
amigos, e da família). Estes resultados são, em parte, consonantes com outros
estudos que apontam esta relação entre sintomas emocionais (positivos/negativos)
e estratégias de regulação emocional positivas (mindfulness,
calor/compreensão, condição humana) e negativas (sobreidentificação,
isolamento, autocrítica) (Pinto-Gouveia et al., 2013;
Leary et al., 2007; Neff
& Costigan, 2014). Outros estudos encontraram também o
mesmo tipo de padrão de associação entre as estratégias negativas de
ajustamento à doença (MiniMac) e a satisfação com o suporte social (Santos et al., 2003).
Finalmente, quando é explorado qual o melhor modelo preditor do
ajustamento mental à doença e da sintomatologia depressiva e associada ao stress
em doentes com cancro, os dados revelaram o contributo diferencial do mindfulness,
satisfação global com o suporte social e da sobreidentificação, consoante os
modelos em análise. Enquanto para a estratégia de desânimo, a satisfação global
com o suporte social e as competências de mindfulness parecem ter um contributo
significativo, para a sintomatologia depressiva, o mindfulness
aparece como único preditor. Assim, parece que desenvolver um estado de
autoconsciência, de atenção plena focada no presente e de aceitação sem
julgamento das nossas experiências poderá atenuar a intensidade de estados
emocionais negativos, o que está de acordo com a revisão da literatura sobre os
benefícios da prática de mindfulness (Baer,
2003; Brown & Ryan, 2003).
Por sua vez, o grau de satisfação com o suporte social na globalidade e a não
sobreidentificação com o sofrimento revelaram ser contributos significativos na
predição do stress, mostrando que quanto maior é a satisfação com apoio
dado pelos outros (amigos, família, comunidade) e maior a capacidade de se
descentrar do sofrimento, não se fusionando e aceitando-o sem o julgar, menor é
o stress sentido por estes doentes oncológicos.
Limites e pesquisas
futuras
Uma das limitações prende-se com a representatividade da amostra dada a
sua dimensão reduzida, sendo útil replicar este estudo numa amostra maior. De
referir ainda que foram incluídos doentes em diferentes estádios da sua doença
oncológica de modo a assegurar um maior número de participantes num intervalo
de tempo diminuto. Assim, futuros estudos deverão ser desenhados de forma a
controlar esta variável.
Outra limitação prende-se com a natureza transversal do estudo, não
permitindo estabelecer relações causais entre as variáveis, sendo
imprescindível outro tipo de estudos que recorram a desenhos longitudinais ou
experimentais.
Os instrumentos de avaliação utilizados também podem ter levantado
dificuldades, já que alguns dos indicadores da Escala de Ajustamento Mental
ficaram aquém do que é desejável em termos da sua fidedignidade. Por outro
lado, seria importante utilizar outro tipo de instrumentos que permitissem
abordar outros constructos teóricos como a culpabilidade, bem como entrevistas
que possibilitassem clarificar alguns dos constructos avaliados.
Conclusão
De acordo com a literatura, são escassos os estudos que visam analisar a
adaptação mental dos doentes ao cancro do pulmão. No entanto, uma vez que a
nível europeu a neoplasia pulmonar é a terceira causa de morte por doença
oncológica e sendo, em Portugal, a principal causa de morte por cancro, é
crucial uma maior investigação desta condição, nomeadamente a nível psicológico
de forma a oferecer um apoio mais eficaz e melhores condições a estes indivíduos
para lidar com a doença.
O presente estudo procurou acrescentar à literatura existente informação
sobre o papel da autocompaixão (enquanto processo de regulação emocional) e do
suporte social no ajustamento mental e sintomas emocionais negativos destes
doentes. Ao nível da prática clínica, os nossos resultados sugerem que a
intervenção psicológica dirigida a estes pacientes poderá beneficiar com a
integração do desenvolvimento de competências autocompassivas e de programas
que promovam a qualidade das suas redes sociais, já que estas variáveis se
mostraram associadas ao ajustamento mental destes indivíduos.
Conflito de interesses: nenhum.
Fontes de financiamento: nenhuma.
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ⓘ Psy M. Recolheu e inseriu os dados
para análise estatística e deu o maior contributo para a elaboração do
trabalho. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Deu o maior contributo, logo a seguir ao primeiro autor, para a
elaboração do trabalho; conduziu a maioria das análises estatísticas; reviu o
trabalho. Instituto Superior Miguel Torga. CINEICC, Universidade Coimbra,
Portugal.
ⓘ PhD. Contribuiu significativamente
para a revisão do trabalho. Instituto Superior Miguel Torga. Centro de
Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental,
Universidade de Coimbra, Portugal.
ⓘ PhD. Contribuiu significativamente
para a revisão do trabalho. Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra, Portugal.