A voz das mulheres: perceções sobre a violência obstétrica no Sul do Brasil
DOI:
https://doi.org/10.31211/rpics.2025.11.1.369Palavras-chave:
Direitos da Mulher, Parto, Saúde da mulher, Violência contra a mulher, Violência obstétrica, Pesquisa qualitativaResumo
Contexto: A violência obstétrica é descrita como a imposição de práticas hospitalares que desconsideram a autonomia da mulher no processo de parto.Objetivo: Compreender a perceção de mulheres acerca da violência obstétrica num município do sul do Brasil. Métodos: Estudo descritivo e qualitativo, conduzido entre julho e setembro de 2024 com 20 mulheres com idade superior a 18 anos, que tiveram filhos nos dois anos anteriores e que não estavam no puerpério. A recolha de dados foi realizada através de entrevistas semiestruturadas, gravadas, transcritas com o auxílio do software Happyscribe e submetidas a análise de conteúdo. Resultados: Emergiram três categorias: perceção de violência obstétrica, falsa perceção de não violência obstétrica e satisfação com o atendimento adequado. Os relatos evidenciaram práticas desumanizadas, como a manobra de Kristeller, depilação dos pelos púbicos, proibição de alimentação, intervenções não consentidas e violação da autonomia durante o parto. Algumas mulheres não reconheceram essas práticas como violência, refletindo uma culturalização de intervenções desnecessárias. Conclusões: A violência obstétrica é perpetuada pela normalização de práticas abusivas no ambiente hospitalar e pela falta de consciencialização acerca dos direitos das mulheres. A humanização do parto é essencial para reduzir estas práticas, garantindo a autonomia e o respeito pelas escolhas das mulheres nesse contexto.
Downloads
Referências
Annborn, A., & Finnbogadóttir, H. R. (2022). Obstetric violence a qualitative interview study. Midwifery, 105, Artigo 103212. https://doi.org/gnq8kh
Araújo, A. A. C., Nery, I. S., Brito, M. P. M., Mesquita, M. K. R., & Santos, J. D. M. (2021). Manobra de Kristeller: Há benefício nesta técnica? Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, 13, 276–281. https://doi.org/ppk5
Bittencourt, S. D. de A., Vilela, M. E. de A., Marques, M. C. de O., Santos, A. M. dos, Silva, C. K. R. T. da, Domingues, R. M. S. M., Reis, A. C., & Santos, G. L. dos. (2021). Atenção ao parto e nascimento em maternidades da rede cegonha/Brasil: Avaliação do grau de implantação das ações. Ciência & Saúde Coletiva, 26(3), 801–821. https://doi.org/ppk6
Ferrão, A. C., Sim-Sim, M., Almeida, V. S., & Zangão, M. O. (2022). Analysis of the concept of obstetric violence: Scoping review protocol. Journal of Personalized Medicine, 12(7), Artigo 1090. https://doi.org/g8rm4k
Garcia, L. M. (2023). Obstetric violence in the United States and other high-income countries: An integrative review. Sexual and Reproductive Health Matters, 31(1). https://doi.org/ppk7
Garcia, L. M., Jones, J., Scandlyn, J., Thumm, E. B., & Shabot, S. C. (2024). The meaning of obstetric violence experiences: A qualitative content analysis of the break the silence campaign. International Journal of Nursing Studies, 160, Artigo 104911. https://doi.org/ppk8
Gebeyehu, N. A., Adella, G. A., & Tegegne, K. D. (2023). Disrespect and abuse of women during childbirth at health facilities in Eastern Africa: Systematic review and meta-analysis. Frontiers in Medicine, 10. https://doi.org/gth69p
Gomes da Silva, J. A., Barreto, L. P. T. F., & Lima, H. S. C. (2005). Lei no 11.108, de 7 de abril de 2005. Altera a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para garantir às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS. http://bit.ly/4kaYwjc
Kahalon, R., & Klein, V. (2024). Unmasking the role of dehumanization in obstetric violence. Psychology of Violence, 15(1), 21–31. https://doi.org/ppmb
Leal, M. do C., Bittencourt, S. de A., Esteves-Pereira, A. P., Ayres, B. V. da S., Silva, L. B. R. A. de A., Thomaz, E. B. A. F., Lamy, Z. C., Nakamura-Pereira, M., Torres, J. A., Gama, S. G. N. da, Domingues, R. M. S. M., & Vilela, M. E. de A. (2019). Avanços na assistência ao parto no Brasil: Resultados preliminares de dois estudos avaliativos. Cadernos de Saúde Pública, 35(7). https://doi.org/c8p9
Madeira, D. F. P., Queiroz, M. L. S., & Toledo, R. L. (2020). Obstetric violence: The relationship between the violation of the right to humanized obstetric care and patriarchy. Revista Gênero & Direito, 9(4), 83–123. https://bit.ly/3SpoLX7
Maung, T. M., Mon, N. O., Mehrtash, H., Bonsaffoh, K. A., Vogel, J. P., Aderoba, A. K., Irinyenikan, T. A., Balde, M. D., Pattanittum, P., Tuncalp, Ö., & Bohren, M. A. (2022). Women’s experiences of mistreatment during childbirth and their satisfaction with care: findings from a multicountry community-based study in four countries. BMJ Global Health, 5(Suppl 2), Artigo e003688. https://doi.org/g6bgvm
Mendes, J., Santos, A. P. S., & Tavares, M. (2022). Perceções da violência obstétrica pelas parturientes e profissionais de saúde: uma revisão scoping. Revista Portuguesa de Investigação Comportamental e Social, 8(2), 1–15. https://doi.org/mxrt
Mufandaedza, A., & Chiweshe, M. K. (2021). An analysis of obstetric violence among low-income urban women: A case study of mabvuku hospital in Harare, Zimbabwe. Agenda, 35(3), 24–35. https://doi.org/gscjbs
Nascimento, D. E. M. do, Barbosa, J. C., Isaías, B. B., Nascimento, R. B. H., Fernandes, E. M., Neto, R. T. de L., & Rodrigues, M. P. de F. (2022). Vivências sobre violência obstétrica: Boas práticas de enfermagem na assistência ao parto. Nursing (São Paulo), 25(291), 8242–8253. https://doi.org/ppmc
Nações Unidas. (2024). Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. https://bit.ly/3FsLRJo
Oliveira, P. S. de, Couto, T. M., Gomes, N. P., Campos, L. M., Lima, K. T. R. dos S., & Barral, F. E. (2019). Best practices in the delivery process: Conceptions from nurse midwives. Revista Brasileira de Enfermagem, 72(2), 455–462. https://doi.org/ppmd
Paula, E. de, Alves, V. H., Rodrigues, D. P., Felicio, F. de C., Araújo, R. C. B. de, Chamilco, R. A. da S. I., & Almeida, V. L. M. (2020). Obstetric violence and the current obstetric model, in the perception of health managers. Texto & Contexto - Enfermagem, 29. https://doi.org/ppmf
Salter, C. L., Olaniyan, A., Mendez, D. D., & Chang, J. C. (2021). Naming silence and inadequate obstetric care as obstetric violence is a necessary step for change. Violence Against Women, 27(8), 1019–1027. https://doi.org/ppmg
Samaritter, M. G., Herring, J., & Pickles, C. (2024). The shadowy boundaries of obstetric violence. Journal of Gender-Based Violence, 8(3), 302–311. https://doi.org/ppmh
Smith-Oka, V., Rubin, S. E., & Dixon, L. Z. (2022). Obstetric violence in their own words: How women in Mexico and South Africa expect, experience, and respond to violence. Violence Against Women, 28(11), 2700–2721. https://doi.org/g6jkzf
World Health Organization. (2014). Prevention and elimination of abuse, disrespect and mistreatment during childbirth in health institutions. World Health Organization. https://bit.ly/3SSYX5P
World Health Organization. (2018). WHO recommendations: intrapartum care for a positive childbirth experience. World Health Organization. https://bit.ly/3YYbnwP
World Health Organization. (2021). Violence against women prevalence estimates, 2018: Global, regional and national prevalence estimates for intimate partner violence against women and global and regional prevalence estimates for non-partner sexual violence against women. World Health Organization. http://bit.ly/3H8aBqP
Zampas, C., Amin, A., O’Hanlon, L., Bjerregaard, A., Mehrtash, H., Khosla, R., & Tunçalp, Ӧzge. (2020). Operationalizing a human rights-based approach to address mistreatment against women during childbirth. Health and Human Rights, 22(1), 251–264. https://bit.ly/43titL6
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2025 Matheus de Oliveira Sobrinho Ferreira, Ana Carolina Conartioli, Andressa Larissa Dias Müller de Souza, Pamela Eloisa Palma Tasca, Sara Wust Beckmann, Elizandra Aparecida Britta Stefano

Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.
Os autores conservam os direitos de autor e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional que permite a partilha do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.