Prevalência e determinantes sociais da ideação suicida entre estudantes brasileiros em escolas públicas do ensino médio

Autores

  • Marcos Roberto Vieira Garcia Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Departmento de Ciências Sociais e Educação, Sorocaba, SP https://orcid.org/0000-0002-5668-2923
  • Cláudia Renata dos Santos Barros Instituto Buntantan, São Paulo, SP https://orcid.org/0000-0002-1582-2010
  • Vera Silvia Facciola Paiva Universidade de São Paulo (USP), Institute de Psicologia, São Paulo, SP https://orcid.org/0000-0002-8852-3265
  • Maria Carla Corrochano Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Departamento de Ciências Sociais e Educação, Sorocaba, SP, Brazil https://orcid.org/0000-0001-8030-6461
  • Djalma Barbosa Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), Departmento de Ciências Sociais Aplicadas, Rondonópolis, MT https://orcid.org/0000-0002-6143-7543
  • Nathália de Souza Machado dos Reis Universidade de São Paulo University (USP), Laboratório de Psicologia Social e Teoria Crítica, São Paulo, SP https://orcid.org/0000-0003-1833-6138
  • Diego Silva Plácido Universidade de São Paulo University (USP), Instituto de Psicologia, São Paulo, SP https://orcid.org/0000-0002-6827-103X

DOI:

https://doi.org/10.31211/rpics.2022.8.2.250

Palavras-chave:

Determinantes sociais da saúde, Discriminação social, Estudantes, Ideação suicida, Saúde mental, Estudo transversal

Resumo

Contexto e Objetivo: Estudos recentes mostram um aumento de ideação e comportamentos suicidas entre jovens, havendo fortes associações com ser pobre, ser mulher, ser LGBT (lésbica, gay, bissexual ou transgénero) e sofrer discriminação na escola e/ou na internet. Embora os determinantes sociais da ideação suicida sejam amplamente debatidos em todo o mundo, há uma lacuna sobre esses temas em relação aos jovens brasileiros, o que o presente estudo pretende contribuir para preencher. Métodos: O estudo transversal utilizou uma amostra de conveniência de 475 alunos do ensino médio (16–17 anos) de nove escolas públicas do estado de São Paulo, Brasil. Resultados: Do total de entrevistados, 224 deles relataram ideação suicida ao longo da vida, uma prevalência inesperadamente alta (47,2%). Na análise múltipla com estimativa da razão de prevalência (RP) ajustada, atração por pessoas do mesmo sexo ou bissexual (RP = 1,87; IC95%: 1,5–2,3), estudar em escolas noturnas (RP = 1,36; IC95%: 1,1–1,6) — indicativo de menor condição econômica — e ser discriminado em escola (RP = 1,22; IC95%: 1,0–1,5) e na internet (RP = 1,48; IC95%: 1,2–1,8) foram associados positivamente à ideação suicida ao longo da vida. Raça/etnia e gênero dos alunos não foram associados. Conclusões: Os resultados apontam para a necessidade de consideração dos determinantes sociais da saúde mental no debate público e nos programas de intervenção voltados à juventude no Brasil e em outros lugares. O aprimoramento da promoção da saúde mental, levando-se em conta os determinantes sociopolíticos da saúde, deve ser uma prioridade estratégica e política. É crucial uma perspectiva interseccional abrangente que reflita sobre as várias formas de dominação e como estas se conectam com o sofrimento mental e suas consequências.

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Publicado

02-09-2022

Como Citar

Vieira Garcia, M. R., dos Santos Barros, C. R., Facciola Paiva, V. S., Corrochano, M. C., Barbosa, D., de Souza Machado dos Reis, N. ., & Silva Plácido, D. . (2022). Prevalência e determinantes sociais da ideação suicida entre estudantes brasileiros em escolas públicas do ensino médio. Revista Portuguesa De Investigação Comportamental E Social, 8(2), 1–11. https://doi.org/10.31211/rpics.2022.8.2.250

Edição

Secção

Artigo Original

Dados de financiamento