Correlatos psicológicos de cuidadores formais de pessoas com deficiência mental: amostra portuguesa
DOI:
https://doi.org/10.7342/ismt.rpics.2015.1.1.13Palavras-chave:
Profissionais, Deficiência mental, Portugal, Correlatos psicológicos, Estudo de levantamento descritivoResumo
Objetivos: O trabalho diário com pessoas portadoras de deficiência mental é extremamente exigente do ponto de vista físico e psicológico. Este estudo pretende caraterizar trabalhadores diversos de instituições que prestam cuidados a pessoas com deficiência mental quanto à sua vulnerabilidade ao stress, tipo de personalidade, estratégias de coping e sintomas psicopatológicos e explorar associações entre essas variáveis e algumas variáveis sociodemográficas/profissionais. Métodos: 68 trabalhadores de instituições que recebem pessoas com deficiência mental, entre os 19 e os 62 anos (M = 36,28; DP = 11,65), responderam a um questionário sociodemográfico, ao 23-Questionário de Vulnerabilidade ao Stress (23-QVS), ao Inventário de Personalidade de Eysenck-12 (IPE-12), ao Brief-Cope e ao Brief Symptoms Inventory (BSI). Resultados: Nesta amostra de trabalhadores, níveis maiores de vulnerabilidade ao stresse associaram-se a níveis mais elevados de neuroticismo e de sintomatologia psicopatológica. As mulheres apresentaram maiores níveis de somatização, os profissionais mais novos e com menor grau de escolaridade mostraram ser mais vulneráveis ao stresse. O excesso de horas de trabalho associou-se à vulnerabilidade ao stresse e à sintomatologia psicopatológica. Conclusões: Este estudo confirma que os trabalhadores de instituições que recebem pessoas com deficiência mental apresentam níveis elevados de vulnerabilidade ao stresse e risco de sofrer de sintomatologia psicopatológica. É urgente implementar medidas de intervenção (preventivas ou terapêuticas) no sentido de aliviar o stresse destes cuidadores, melhorando a sua saúde mental. Parece que os trabalhadores com níveis mais elevados de neuroticismo poderão beneficiar mais destas intervenções.
Downloads
Referências
American Psychiatric Association. (2002). Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais [Diagnostic and statistical manual of mental disorders] (4ª ed., text rev.). Lisboa: Climepsi Editores.
Australian Government., & Australian Institute of Health and Welfare. (2015). Authoritative information and statistics to promote better health and wellbeing. https://bit.ly/3Iv6VgT
Bartlett, D. (1998). Stress: Perspectives and processes. Buckingham: Open University Press.
Barton, J., Spelten, E., Totterdell, P., Smith, L., Folkard, S., & Costa, G. (1995). The Standard Shiftwork Index: A battery of questionnaires for assessing shiftwork-related problems. Work & Stress, 9(1), 4-30. https://doi/org/10.1080/02678379508251582
Canavarro, M. C. (1999) BSI - Inventário de sintomas psicopatológicos [Inventory of Psychopathological Symptoms]. In M. R. Simões, M. Gonçalves, & L. S. Almeida (Eds.), Testes e provas psicológicas em Portugal (Vol. 2, pp. 87-109). Braga: SHO/APPORT.
Canavarro, M. C. (2007). Inventário de Sintomas Psicopatológicos: Uma revisão crítica dos estudos realizados em Avaliação psicológica: Instrumentos validados para a população Portuguesa [Inventory of Psychopathological Symptoms: A critical review of the studies carried out in Psychological Evaluation: Instruments validated for the Portuguese population] (Vol. 3, pp. 305–331). Coimbra: Quarteto Editora.
Carvalho, E. N. S., & Maciel, D. M. M. (2003). Nova concepção de deficiência mental segundo a American Association on Mental Retardation: Sistema 2002 [New conception of mental deficiency according to the. American Association on Mental Retardation: Sistema 2002]. Temas em Psicologia, 11(2), 147-156. https://bit.ly/3IrUQZG
Carver, C., Scheier, M., & Weintraub, J. (1989). Assessing coping strategies: A theoretically based approach. Journal of Personality and Social Psychology, 56(2), 267-283. https://doi/org/10.1037/0022–3514.56.2.267
Carver, C. S. (1997). You want to measure coping but your protocol’s too long: Consider the brief COPE. International Journal of Behavioral Medicine, 4(1), 92–100. https://doi/org/10.1207/s15327558ijbm0401_6
Cohen, J. (1992). Statistical power analysis for the behavioural sciences. Hillsdale, N. J.: Lawrence Erlbaum Associates.
Denoux, P., & Macaluso, G. (2006). Stress and aging. A counter-cultural development of locus of control and coping behavior in the elderly. Psychologie & Neuropsychiatrie du Vieillissement, 4(4), 287-297. https://doi/org/0.1684/pnv.2006.0019
Devereux, J., Hastings, R., & Noone, S. (2009). Staff stress and burnout in intellectual disability services: Work stress theory and its application. Journal of Applied Research in Intellectual Disability, 22(6), 561–573. https://doi/org/10.1111/j.1468-3148.2009.00509.x
Devereux, J. M., Hastings, R. P., Noone, S. J., Firth, A., & Totsika, V. (2009). Social support and coping as mediators or moderators of the impact of work stressors on burnout in intellectual disability support staff. Research in Developmental Disability, 30(2), 367-377. https://doi/org/10.1016/j.ridd.2008.07.002
Derogatis, L. R. (1993). BSI: Brief Symptom Inventory (3rd ed.). Minneapolis: National Computer Systems.
Elliot, J. L., & Rose, J. (1997). An investigation of stress experienced by managers of community homes for people with intellectual disabilities. Journal of Applied Research in Intellectual Disability, 10(1), 48-53. https://doi/org/10.1111/j.1468-3148.1997.tb00005.x
Eysenck, H. J. (1971). The structure of human personality (3rd ed.). London: Methuen & Co.
Folkman, S., & Lazarus, R. (1980). An analysis of coping in a middle-aged community sample. Journal of Health and Social Behaviour, 21(3), 219–239. https://doi/org/10.2307/2136617
Folkman, S., & Lazarus, R. S. (1985). If it changes must be a process: A study of emotion and coping during three stages of college examination. Journal of Personality and Social Psychology, 48(1), 150-170. https://doi/org/10.1037/0022–3514.48.1.150
Gray-Stanley, J. A., & Muramatsu, N. (2011). Work stress, burnout, and social and personal resources among direct care workers. Research in Developmental Disability, 32(3), 1065–1074. https://doi/org/10.1016/j.ridd.2011.01.025
Gomes, A. C. A. (2005). Sono, sucesso académico e bem-estar em estudantes universitários [Sleep, academic success and well-being in college students] (Doctoral dissertation, Universidade de Aveiro, Aveiro). http://hdl.handle.net/10773/1103
Gunthert, K. C., Cohen, L. H., & Armeli, S. (1999). The role of neuroticism in daily stress and coping. Journal of Personality and Social Psychology, 77(5), 1087-1100. https://doi/org/10.1037/0022–3514.77.5.1087
Hallman, T., Perski, A., Burell, G., Lisspers, J., & Setterlind, S. (2002). Perspectives on differences in perceived external stress: a study of women and men with coronary heart disease. Stress and Health, 18(3), 105–118. https://doi/org/10.1002/smi.931
Hankin, B. L., & Abela, J. R. Z. (2005). Development of psychopathology: A vulnerability-stress perspective. Thousand Oaks, CA: Sage Publications.
Harrington, J. M. (2001). Health effects of shift work and extended hours of work. Occupational Environment Medicine, 58(1), 68-72. https://doi/org/10.1136/oem.58.1.68
Hatton, C., Rivers, M., Mason, H., Mason, L., Kiernan, C., Emerson, E., . . . Reeves, D. (1999). Staff stressors and staff outcomes in services for adults with intellectual disabilities: The Staff Stressor Questionnaire. Research in Developmental Disability, 20(4), 269–285. https://doi/org/10.1016/s0891–4222(99)00009–8
Heth, J. T., & Somer, E. (2002). Characterising stress tolerance controllability awareness and its relationship to perceived stress and reported health. Personality and Individuals Differences, 33(6), 883-895. https://doi/org/10.1016/S0191–8869(01)00198-2
Innstrand, S., Espnes, G., & Mykletun, R. (2004). Job stress, burnout and job satisfaction: an intervention study for staff working with people with intellectual disabilities. Journal of Applied Research in Intellectual Disabilities, 17(2), 119–126. https://doi/org/10.1111/j.1360-2322.2004.00189.x
Instituto Nacional de Estatística. (2002). Censos 2001: Análise da população com deficiência (Resultados Provisórios) [Census 2001: Analysis of the population with disabilities (provisional results)]. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística, Portugal. https://bit.ly/3MnVaK3
Jenkins, R., & Elliott, P. (2004). Stressors, burnout and social support: Nurses in acute mental health settings. Journal of Advanced Nursing, 48(6), 622–631. https://doi/org/10.1111/j.1365-2648.2004.03240.x
Keil, R. (2004). Nursing theory and concept development or analysis: Coping and stress: A conceptual analysis. Journal of Advanced Nursing, 45(6), 659–665. https://doi/org/0.1046/j.1365-2648.2003.02955.x
Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York, NY: Springer.
Leal, M. (1998). Stress e burnout [Stress and burnout]. Porto: Bial.
Lin, J., Lee, T., Loh, C., Yen, C., Hsu, S., Wu, J., . . . Wu, S. (2009). Physical and mental health status of staff working for people with intellectual disabilities in Taiwan: Measurement with the 36-item short-form (SF-36) health survey. Research in Developmental Disabilities, 30(3), 538-546. https://doi/org/10.1016/j.ridd.2008.08.002
Lu, L., & Chen, C. S. (1996). Correlates of coping behaviours: Internal and external resources. Counselling Psychology Quarterly, 9(3), 297-307. https://doi/org/10.1080/09515079608258709
McCrae, R., & Costa, P. (1997). Personality, coping and coping effectiveness in an adult sample. Journal of Personality and Social Psychology, 54(2), 385–405. https://doi/org/10.1111/j.1467-6494.1986.tb00401.x
McCrae, R. R., & Costa, P. T. Jr. (2010). NEO Inventories: Professional manual. Lutz, FL: Psychological Assessment Resources, Inc.
McKelvie, S. J., Lemieux, P., & Stout, D. (2003). Extraversion and neuroticism in contact athletes, no contact athletes and non-athletes: A research note. The Online Journal of Sport Psychology, 5(3), 19–27. https://bit.ly/3BOwntX
Ormel, J., Rosmalen, J., & Farmer, A. (2004). Neuroticism: A non-informative marker of vulnerability to psychopathology. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, 39(11), 906–912. https://doi/org/10.1007/s00127-004-0873-y
Pais Ribeiro, J. L., & Rodrigues, A. P. (2004). Questões acerca do coping: A propósito do estudo de adaptação do Brief Cope [Questions about coping: About the adaptation study of Brief Cope]. Psicologia, Saúde & Doenças, 5(1), 3–15. http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=36250101
Pereira, L. (2014). Coping, resiliência e comprometimento organizacional em profissionais que trabalham com pessoas com deficiência/doença mental [Coping, resilience, and organizational commitment in professionals working with people with disabilities/mental illness] (Unpublished master's thesis). Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra.
Pestana, M. H., & Gageiro, J. N. (2008). Análise de dados para ciências sociais: A complementaridade do SPSS [Data analysis for social sciences: The complementarity of SPSS] (5th ed.). Lisboa: Edições Silabo.
Rose, J. (1999). Stress and residential staff who work with people who have an intellectual disability: A factor analytic study. Journal of Intellectual Disability Research, 43(4), 268-278. https://doi/org/10.1046/j.1365-2788.1999.00210.x
Rose, J., David, G., & Jones, C. (2003). Staff who work with people who have intellectual disabilities: The importance of personality. Journal of Applied Research in Intellectual Disabilities, 16(4), 267-277. https://doi/org/10.1046/j.1468-3148.2003.00168.x
Rose, J., Jones, F., & Fletcher, B. (1998). Investigating the relationship between stress and worker behaviour. Journal of Intellectual Disability Research, 42(2), 163–172. https://doi/org/10.1046/j.1365-2788.1998.00115.x
Santos, A. T. (2004). Acidente Vascular Cerebral: Qualidade de vida e bem-estar dos doentes e familiares cuidadores [Stroke: Quality of life and well-being of patients and family caregivers] (Doctoral dissertation, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, Porto).
Seabra, A. P. P. C. (2000). Síndrome de burnout e a depressão no contexto de saúde ocupacional [Burnout syndrome and depression in the context of occupational health] (Doctoral dissertation, Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto). http://hdl.handle.net/10216/19388
Silva, C. F., Azevedo, M. H. P., & Dias, M. R. V. C. (1995). Estudo padronizado do trabalho por turnos-versão portuguesa do SSI [Standardized study of shift work-Portuguese version of SSI]. Psychologica, 13, 27-36.
Song, L., & Singer, M. (2006). Life stress, social support coping and depressive symptoms: a comparison between the general population and family caregivers. International Journal of Social Welfare, 15(2), 172–180. https://doi/org/10.1111/j.1468-2397.2006.00386.x
Tamres, L. K., Janicki, D., & Helgeson, V. S. (2002). Sex differences in coping behavior: A meta-analytic review and an examination of relative coping. Personality and Social Psychology Review, 6(1), 2–30. https://doi/org/10.1207/s15327957pspr0601_1
Van Wijngaarden, B., Schene, A., & Koeter, M. (2004). Family caregiving in depression: Impact on caregivers’ daily life, distress and help seeking. Journal of Affective Disorders, 81(3), 211–222. https://doi/org/10.1016/s0165-0327(03)00168-x
Vaz-Serra, A. (2000). Construção de uma escala para avaliar a vulnerabilidade ao stress: A 23 QVS [Construction of a scale to assess vulnerability to stress: A 23 QVS]. Psiquiatria Clínica, 21(4), 279–308. http://hdl.handle.net/10400.4/193
Vaz-Serra, A. S., & Allen-Gomes, F. E. (1973). Resultados da aplicação do “Maudsley Personality Inventory” a uma amostra portuguesa de indivíduos normais [Results of the application of the Maudsley Personality Inventory to a Portuguese sample of normal individuals]. Coimbra Médica, 8, 859–873.
White, P., Edwards, N., & Townsend-White, C. (2006). Stress and burnout amongst professional carers of people with intellectual disability: Another health inequity. Current Opinion in Psychiatry, 19(5), 502–507. https://doi/org/10.1097/01.yco.0000238478.04400.e0
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2015 Luís Martins, Marina Cunha, Daniela Guerreiro, & Mariana Marques
Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.
Os autores conservam os direitos de autor e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional que permite a partilha do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.